A estreia do Sporting na fase de grupos da Liga dos Campeões 2021/22 dificilmente sairá da memória dos adeptos leoninos nos tempos mais próximos, e pelas piores razões. A goleada foi grande, 5-1, e, pior que isso, a sensação de impotência perante o avolumar do resultado. Em nenhum momento do jogo sentimos que os golos e os lances de perigo causados pelo Ajax eram obra do acaso, e até o facto de a equipa ter sofrido o primeiro tão cedo (1’08”) e o segundo pouco tempo depois explica o que se seguiu.
Aliás, esses tentos sofridos de forma madrugadora surgem mais como o resultado natural do desequilíbrio entre as duas equipas (neste jogo em específico) do que o inverso – ou seja, esse desequilíbrio ser resultante da estratégia comprometida logo no arranque.
A superioridade dos “lanceiros” foi evidente, embora, no final, a diferença estatística entre os dois conjuntos acabe por não justificar “matematicamente” a diferença no resultado. Contudo, houve diversos pontos fundamentais no desenrolar dos acontecimentos que permitiram ao Ajax atacar e criar perigo com facilidade, permitindo a Sébastien Haller marcar quatro golos na sua estreia na Liga dos Campeões (segundo a fazê-lo na História… o outro pode descobrir mais abaixo). Apresentamos cinco desses pontos para consideração dos nossos leitores, a começar pelo mais óbvio.
1. Total incapacidade para impedir a “bola em Haller”
Quatro golos marcados num jogo da Champions, e logo na estreia, é caso raro. A inoperância do Sporting para impedir o atacante de receber a bola e finalizar foi gritante, algo que se viu não só nos golos, mas também em outros momentos do jogo.
[ Os 11 passes aproximativos recebidos por Haller na partida ]

Ninguém recebeu mais passes aproximativos – os que permitem aproximação à baliza de pelo menos 25% e no mínimo de oito metros – do que o ponta-de-lança dos “lanceiros”, e não foi só na área ou nas suas imediações. Aliás, Haller recuou inúmeras vezes no terreno, surgindo para receber a bola (ou simplesmente dar linhas de passe aos colegas) em zonas de meio-campo, onde já Berghius e Gravenberch surgiam, deixando João Palhinha sem mãos a medir. Depois, o atacante arrancava para a área, sempre nos espaços vazios, sem que a defesa leonina o pressionasse. O resto é história: quatro golos em cinco remates.
.@ChampionsLeague | Sporting 1-4 Ajax
O Ajax marca o 4º 😱 As contas estão complicadas para os Leões 👀#ChampionsELEVEN pic.twitter.com/yIwDx7tOx7
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2. Armadilha holandesa bem montada
A astúcia do Ajax, equipa experiente nestas andanças, notou-se acima de tudo na forma como a equipa visitante conduziu a bola até ao meio-campo leonino e atacou o último terço. Os neerlandeses transportaram a bola somente até determinadas zonas, atraindo o Sporting para a pressão nas mesmas, e a partir daqui lançaram passes mortíferos.
[ Acções ofensivas perigosas (esquerda), passes aproximativos (centro), passes super aproximativos (direita) do Ajax ]
No mapa da esquerda é possível perceber pelas conduções aproximativas – linhas tracejadas que mostram redução de distância para a baliza em pelo menos 25% e pelo menos dez metros – que os jogadores do Ajax não se aventuravam muito a transportar a bola, nem no drible (somente 17, 12 com sucesso). Chegando à zona do meio-campo defensivo leonino a ordem era para servir os homens da frente, em especial Antony na direita e Tadic na esquerda. Foram 41 passes aproximativos (mapa ao centro) e dez super aproximativos (à direita) – estes últimos com aproximação à baliza de pelo menos 50% -, o Sporting fez 30 e quatro destes passes.
No fundo, o Ajax “esvaziou” a missão defensiva do meio-campo do Sporting, que também não fechava nas alas para ajudar Pedro Porro e Rúben Vinagre/Matheus. Com as subidas dos laterais Blind e Mazraoui, os extremos (em especial Antony) tiveram “pasto” suficiente para desfazer a defesa portuguesa.
3. Pesadelo pelas alas
A exibição de Rúben Vinagre do lado esquerdo foi muito falada, com destaque para a incapacidade em travar Antony. O facto é que o lateral não chegou a ser driblado pelo brasileiro, mas pecou com três perdas de bola no primeiro terço e somou um só desarme. Matheus Reis, que entrou ao intervalo rendendo Vinagre, não impediu novo golo do seu lado e pouco acrescentou defensivamente. E também Pedro Porro esteve amarrado e discreto.
[ Passes verticais (esq.) e passes ofensivos valiosos (dta.) do Ajax ]
Os passes verticais (mapa à esquerda) e os passes ofensivos valiosos (direita) mostram o porquê. O Ajax nunca deixou verdadeiramente os alas leoninos subirem no terreno, ou mesmo pressionarem em zonas mais adiantadas, ou interiores, porque a tendência global das entregas dos holandeses inclinou-se sempre para as faixas laterais, muitas vezes com passes longos, a obrigar os laterais a fixarem-se. Este facto desprotegeu, ao mesmo tempo, a zona do “miolo” leonino.
4. Superioridade aérea neerlandesa
Focando-nos nos duelos aéreos ofensivos, também aqui a superioridade do Ajax foi evidente, num detalhe que, a nível interno, o “leão” é extremamente competente, devido às características de Sebastián Coates (neste jogo ausente), Feddal e mesmo João Palhinha.
[ Os duelos aéreos ofensivos do Sporting (esq.) e do Ajax (dta.) a azul os ganhos ]
Os “lanceiros” participaram em 13 duelos aéreos ofensivos e ganharam oito. Dois dos ganhos aconteceram já em plena área leonina. Ao invés, os “leões” participaram em 16 ofensivos, mas só ganharam cinco, destacando-se Paulinho, com sucesso em dois dos três em que participou. Parece que não, mas a batalha pelos ares têm uma importância fulcral, em especial em duas equipas que não têm problemas em usar o passe directo ou longo para atacar a profundidade.
5. “Leão” sem capacidade de pressão
Colocadas as questões acima, não espanta que o Sporting não tenha conseguido implementar uma pressão mais proactiva, em zonas adiantadas do terreno, ficando à mercê dos ritmos de jogo impostos pelo Ajax.
[ As acções defensivas do Sporting ]

Este mapa mostra as acções defensivas (desarmes, intercepções, alívios, bloqueios de passe, cruzamento e remate) da equipa lusa na partida. A grande maioria acabou por se realizar já no terço defensivo. No meio-campo adversário foram apenas nove, um número baixo, ainda que o Sporting seja uma equipa que não se importa de esperar pelo adversário (na Liga Bwin 21/22 os leões apresentam uma média de 13). E cinco dessas nove ocorreram no flanco direito, o de Porro, que se conseguiu soltar mais do que Vinagre e Matheus Reis.
Estes são cinco factos que ajudam a explicar a “débâcle” do Sporting nesta partida da Liga dos Campeões, uma estreia que não estaria nos prognósticos mais pessimistas dos adeptos e responsáveis do emblema de Alvalade. Porém, este foi apenas um jogo e há mais cinco, pelo menos, para a equipa corrigir os erros e dar uma outra imagem do campeão nacional.
Outros factos da 1ª jornada da Champions 21/22
- Sébastian Haller, frente ao Sporting, tornou-se apenas no segundo jogador a marcar quatro golos na estreia na Champions. O outro foi um tal de Marco van Basten em 1992 (Gotemburgo)
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É o 5º do Ajax 🤯#ChampionsELEVEN pic.twitter.com/PtSMDdSlFd
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- O Young Boys foi a 36ª equipa equipa a quem Cristiano Ronaldo marcou na Liga dos Campeões
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Aí está o primeiro desta época 💥 RONALDO🔥#ChampionsELEVEN pic.twitter.com/tG3hEEAmZT
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- Em 68 jogos na Champions desde que fez 30 anos, Ronaldo marcou 63 golos, mais 35 do que qualquer outro jogador com 30 ou mais anos
- Thomas Müller marcou mais golos ao Barcelona do que qualquer outro jogador na Liga dos Campeões (sete em seis jogos)
- Apenas Robert Lewandowski (21), Erling Haaland (20) e Bruno Fernandes (17) marcaram mais golos nas provas europeias desde o início de 2019/20 do que Romelu Lukaku (14)
- Jude Bellingham (Dortmund), com 18 anos e 78 dias, tornou-se no mais jovem de sempre a marcar em jogos consecutivos da Liga dos Campeões, ultrapassando Kylian Mbappé (18 anos e 85 dias); mas também o mais jovem a marcar fora de casa.
- Jack Grealish foi o primeiro inglês a marcar e assistir no seu jogo de estreia desde Wayne Rooney em Setembro de 2004 (Fenerbahçe).