O recurso à estatística no Futebol vai ganhando terreno, derrubando barreiras e convencendo os protagonistas do desporto-rei. Mas os “convertidos” já não são apenas os homens que trabalham fora das quatro linhas. Os principais protagonistas – os jogadores – já perceberam a importância que os analytics terão no futuro e começam a dar sinais de que, também eles, querem usá-los em seu benefício. O exemplo mais recente vem de Héctor Bellerín, internacional espanhol actualmente ao serviço do Betis, mas não foi sequer o primeiro.
“Antunes, puxa dos dados e diz-me onde devo jogar”
Após dez anos ao serviço dos “gunners”, Bellerín decidiu: era altura de partir rumo a nova aventura. Mas ao invés de adoptar uma postura passiva face à definição do seu próximo destino ou entregar o tema em exclusivo a terceiros, o espanhol decidiu recorrer a uma empresa de analytics com um objectivo definido: obter informação (dados) que lhe permitissem escolher o clube que lhe desse as melhores garantias de sucesso.
A imprensa britânica deu relevo a esta decisão de Bellerín que, com a ajuda de dados estatísticos, focados no seu desempenho e no dos potenciais clubes-candidatos, escolheu o Bétis de Sevilha como destino para uma época de empréstimo, no último ano de contrato com os “gunners”.
O emblema espanhol surgiu bem colocado numa lista de possíveis destinos, não só pela excelente época que realizou em 2020/21 – terminou em sexto lugar na Liga espanhola -, mas essencialmente pelo estilo de jogo da equipa onde actua William Carvalho, orientada por Manuel Pellegrini, técnico que impõe um 4-2-3-1 ideal para as características de Bellerín, concluiu a análise. O Bétis precisava de um lateral-direito, após a saída de Emerson Royal para o Barcelona – e imediatamente para o Tottenham -, e Héctor escolheu o clube da Andaluzia, que é também o emblema que o seu pai apoia. A meta é mesmo assumir-se como titular indiscutível e tentar ser chamado por Espanha para o Mundial de 2022.
[ São infindáveis as possibilidades e aplicações da análise ao desempenho estatística, de jogadores e equipas.
A estatística não diz tudo, mas ajuda muito a separar os factos do “achómetro” ]
Kevin De Bruyne já havia indicado o caminho
O caso de Bellerín não é único no mundo do futebol. Recentemente o médio Kevin De Bruyne renovou por mais duas temporadas o contrato com o Manchester City e, segundos as notícias amplamente divulgadas em Inglaterra, em especial no The Athletic, o belga recorreu igualmente a profissionais de analytics de futebol para sustentar os argumentos que lhe valeram não só a renovação de contrato, como um aumento salarial considerável.
Estatísticas de desempenho, enquadramento na equipa, influência na mesma, peso nas diversas acções colectivas e comparativo com outros médios do futebol mundial permitiram ao belga convencer o clube de Pep Guardiola a chegar ao desfecho pretendido. Tudo recorrendo à estatística pura, devidamente e inteligentemente contextualizada e sustentada na realidade.
Quem os seguirá, por cá ou lá fora? A verdade é que também em Portugal vamos testemunhando (e agradecendo) o aumento exponencial do interesse e curiosidade dos jogadores pelo nosso trabalho, eles que foram até os primeiros profissionais da indústria a mostrar maior apreço e entusiasmo pelo trabalho que conduzimos. Ajudaremos um dia destes um “craque” a tomar as melhores opções, tal como já o fazemos com alguns treinadores e agentes? Já não é uma questão de “ficção científica” futebolística, mas sim… de tempo.
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