Brasil 1 – Chile 1: Penalties disfarçam desperdício

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O poste, a barra e duas defesas do guarda-redes Júlio César salvaram o Brasil de Luiz Felipe Scolari, que mais uma vez teve fortuna no desempate por penalties. Porém, aquilo que muitos pensavam que seria um passeio brasileiro ante o Chile trouxe de volta o enorme “fantasma” do “Maracanazo” de 1950.

O Chile domou a “fera” brasileira, manietou-a no meio-campo e anulou algumas das suas pedras, com uma boa ocupação do “miolo”. O principal efeito foi uma má eficácia de passe “canarinha”, a que se juntou a já habitual falta de pontaria – como o Goalpoint já referiu num artigo anterior. Oscar foi um dos principais afectados, ficando uns furos abaixo do habitual, em especial no passe. Dos 31 que efectuou, apenas 52% tiveram aproveitamento, contribuindo para o registo colectivo baixo. O Brasil chegou a ter pouco mais de 68% de aproveitamento total de passes, menos 10% que o Chile, e acabou com pálidos 72,9%, contra os 76,2% do seu adversário. No último terço (onde esteve Oscar a maior parte do tempo) este número não passou dos 53,1% – contra 58,3% do Chile.

Clique na imagem para ler melhor (foto: Shutterstock/AGIF / Infografia: GoalPoint)

Para contornar, literalmente, este problema, o Brasil foi obrigado a utilizar as faixas laterais, com Daniel Alves (100 toques) e Marcelo (99) muito activos. Tal como antes, por Luiz Gustavo passou grande parte do jogo brasileiro, que voltou a sentir algumas dificuldades na construção de jogo e transporte de bola, apesar de Fernandinho ter jogado no lugar de Paulinho. O Brasil ganhou em consistência defensiva com o médio do Manchester City, mas com a bola os problemas mantiveram-se, ficando a ideia de que estes são mais de origem estrutural do que individual.

Na frente, a “canarinha” rematou muito – 23 contra 13 –, mas mais uma vez mal: apenas seis remates foram na direcção da baliza e 12 foram para fora. Isto apesar de 12 terem sido efectuados dentro da grande área, contra 11 de fora – o Chile só acertou por duas vezes na baliza e atirou oito vezes ao lado. Assim torna-se difícil materializar domínios ofensivos em resultados.

Neymar e Hulk

Júlio César foi um dos esteios da equipa, em especial nos penalties, mas também quando evitou um golo quase certo de Charles Aránguiz na segunda parte do tempo regulamentar. Neymar voltou a estar alguns furos acima dos demais, em especial na primeira parte, surgindo muitas vezes nas costas da defensiva chilena. Driblou bastante (quatro), cruzou nove vezes (somente quatro com precisão), fez quatro remates, só uma vez enquadrado, mas perdeu a bola em seis ocasiões e começou, aos poucos, a apagar-se, visivelmente fatigado. Quando todos começavam a sentir o peso do cansaço foi quando o poder físico de Hulk deu cartas, com o ex-FC Porto a acabar a partida com cinco remates (um deles deu golo anulado), dois passes para golo iminente e oito dribles, estando desastrado no passe – o tento do Chile surgiu num mau passe do jogador do Zenit.

Do lado chileno, destaque para Alexis Sánchez, que aproveitou o erro de Hulk para facturar e foi um quebra-cabeças, com seis dribles e dois passes perigosos, mas acabou com 18 perdas de bola no total.

 

Como qualifica as exibições de Brasil e Chile? Considera justa a passagem da “canarinha”? Deixe-nos a sua opinião. Obrigado.

Pedro Tudela
Pedro Tudela
Profissional freelancer com mais de duas décadas de carreira no jornalismo desportivo, colaborou, entre outros media nacionais, com A Bola e o UEFA.com.