Este começa a ser um debate recorrente entre adeptos, e mesmo na comunicação social: o rendimento de Bruno Fernandes ao serviço de Portugal. O desempenho do médio do Manchester United não tem sido consensual, apesar da época e meia de grande nível pelos “red devils”, muitas vezes a destoar, pela positiva, em relação à mediania do gigante inglês. Os desempenhos por Portugal tornaram-se no foco da discussão sobre eventuais “altos e baixos”, tema que chegou à última conferência de imprensa de antevisão ao embate com a Suíça, a contar para a Liga das Nações.
Talvez seja pelos padrões elevados que fixou com as suas exibições pelo Manchester United – pelo qual soma 50 golos e 39 assistências, ou 89 acções directas para golo em 126 partidas em todas as competições – que as críticas são, por vezes, impiedosas quando joga por Portugal, num jogador que angariou alguns “haters”. Porém, a questão colocada por um jornalista – “quais os motivos para os altos e baixos exibicionais na Selecção?” – não deixa de ser legítima.
A exibição no último compromisso frente a Espanha (statscard acima) terá sido o que motivou a questão. Bruno Fernandes esteve muito abaixo do que se espera de um jogador do seu calibre e do que já mostrou, no clube e de “quinas” ao peito, mas será mesmo este um sintoma dos tais altos e baixos?
Para responder à questão fomos aos arquivos do nosso Antunes para olharmos os 31 jogos oficiais nas diversas competições que realizou por Portugal, deixando de fora jogos particulares. Eis o produto dessa pesquisa, incluindo as provas, adversários, minutos jogados, acções para golo (Golos e Assistências) e GoalPoint Rating do Bruno, recalculados à luz da mais recente versão do algoritmo.
A tendência das exibições de Bruno Fernandes nos jogos oficiais por Portugal é relativamente clara. Após um arranque algo tímido, o médio começou a assumir grande protagonismo, numa fase em que ainda alinhava no Sporting e depois, de forma mais consistente e regular, já numa altura em que brilhava em Inglaterra. O período entre a recta final de apuramento para o EURO 2020 e praticamente toda a fase de grupos da Liga das Nações 2020/21 foi muito profícuo, com Bruno a registar algumas notas extraordinárias e dois dos quatro jogos em que foi MVP GoalPoint Ratings.
[ Os MVP’s de Bruno Fernandes em jogos oficiais pela Selecção Nacional ]
A quebra de rendimento, em comparação com a fase que acabámos de descrever, começa a verificar-se em pleno EURO 2020 (disputado em 2021 devido à pandemia COVID-19), altura em que ficou mais ou menos evidente o desgaste do médio após uma época exigente a nível de clube. Tirando o jogo de abertura, a vitória por 3-0 sobre a Hungria, o “red devil” esteve irreconhecível e passou ao lado dos restantes jogos do certame. E a verdade é que, desde então, tem sentido alguma dificuldade para regressar ao melhor período.
O dado que mais salta à vista neste apanhado é o facto de faltar golo e assistência a Bruno Fernandes pela Selecção. Se no United contabiliza 89 acções para golo em 126 partidas em todas as competições, por Portugal regista somente quatro tentos e cinco assistências (nove acções para golo) em 31 partidas oficiais – 0,7 intervenções directas para golo por cada jogo no United, em comparação com 0,3 pelas “quinas”. Motivos para tal poderão ser muitos, desde a missão e posicionamento diferentes em relação ao clube, à própria falta de mecanização e entrosamento que os esporádicos treinos com Fernando Santos não conseguem igualar.