A grande competição de clubes da Europa – e do Mundo, diga-se – está aí à porta. É já esta terça-feira, dia 16 de Fevereiro, que regressa a Champions League, com o FC Porto a ser o representante único de Portugal nos oitavos-de-final. Nesta fase da prova, os “dragões” terão pela frente nada menos que a Juventus (quarta, dia 17, 20h00), campeã de Itália e crónica candidata ao título europeu, ainda mais tendo nas suas fileiras Cristiano Ronaldo, o português que, aos 36 anos, continua num grande momento, sendo conhecido como “o Sr. Champions”. E não é uma alcunha desmerecida, tendo em conta o seu historial na competição.
E foi precisamente com o pensamento no historial da Liga dos Campeões que fizemos este exercício. Tendo por base os dados objectivos de desempenho, elaborámos o melhor “onze” GoalPoint Ratings da Champions League nas últimas cinco temporadas. Olhámos às estatísticas acumuladas de 2016/17 até à primeira metade de 2020/21 e montámos um XI de sonho – jogadores com pelo menos 2250 minutos disputados -, com os principais intérpretes por posição. Se podemos concluir que há poucas (ou nenhuma) surpresas neste lote, certo é que o “onze” que apresentamos dificilmente vai atrair unanimismos entre os nossos caros leitores. Por isso, que comece o debate, enquanto nós mostramos os dados.

Manuel Neuer (Bayern) 6.17 – Incontornável o nome do internacional alemão na última década. Em relação às últimas cinco épocas, o guardião do Bayern é dono do maior número de defesas em termos absolutos, 115, o que por 90 minutos corresponde a 3,4, abaixo apenas das 3,5 de Alisson Becker, ao serviço de Liverpool e Roma, e ninguém tem maior percentagem de remates enquadrados defendidos do que Neuer, nada menos que 79%, sendo que o brasileiro é segundo com 76% – a remates na área são incríveis 73%, também valor mais alto, também à frente de Alisson (69%). Não é preciso dizer muito mais.
Joshua Kimmich (Bayern) 6.57 – A médio ou a lateral-direito – especialmente nesta última posição -, Kimmich é um mais que digno sucessor de Philipp Lahm e essa constatação diz praticamente tudo. Nenhum outro lateral marcou mais golos do que os dez de Joshua – aliás, dentro dos critérios da análise o que mais perto ficou foi o lateral-esquerdo desta análise, Marcelo, do Real Madrid, com quatro -, correspondendo a 0,30 por 90 minutos. No remate foi o terceiro lateral com mais, 1,0 a cada 90 minutos, atrás de Kolarov (1,4) e Marcelo (1,3), dominando nos passes para finalização (2,5) e com o terceiro registo absoluto em assistências. Foram oito no total, novamente atrás de Marcelo e de Dani Carvajal (10 cada).
Sergio Ramos (Real Madrid) 6.38 – O capitão dos “merengues” e um dos melhores centrais da última década, também o foi nas últimas cinco temporadas na prova. Na 16ª temporada nos “blancos” (chegou em 2005/06), Sergio Ramos é não só um central implacável, como um autêntico goleador. Cinco golos nas épocas em análise não são um número extraordinário, ainda assim apenas Gerard Piqué, do Barcelona, regista o mesmo número, mas ninguém da posição tem tantas assistências (3). Defensivamente é o segundo central com melhor média de recuperações de posse (6,6) e o segundo com melhor percentagem de desarmes com sucesso (74%). Tem quatro Champions no “bolso”, duas neste período.
Mats Hummels (Bayern/Dortmund) 6.38 – Sempre desencontrado com o troféu – perdeu a final de 2012/13 pelo Dortmund contra o Bayern, mudou-se para o Bayern em 2016/17, mas regressou ao Borussia em 2019/20, altura em que o…. Bayern voltou a erguer o ceptro. Contudo, os seus desempenhos têm sido de altíssimo nível. Em termos absolutos ninguém fez mais desarmes nestas cinco épocas (78, média de 2,3, segunda mais alta) e nas intercepções apenas o ex-FC Porto, Felipe Augusto, soma tantas (80, foram 2,4 por 90 minutos, melhor média). Os 71% de duelos aéreos defensivos ganhos são o terceiro melhor registo.
Marcelo (Real Madrid) 6.52 – Já muito dissemos do brasileiro do Real Madrid, no parágrafo dedicado a Kimmich. Há 15 anos no emblema “merengue” (desde 2006/07), Marcelo tem sido, para muitos, o melhor lateral-esquerdo desde Roberto Carlos e, apesar de já não ter o mesmo fulgor de outros tempos, ninguém foi melhor que ele na Champions, na posição, nestas cinco épocas. Não foram muitos os golos que marcou (os tais quatro), mas assistências são dez, nos passes para finalização regista uma média de 2,1 a cada 90 minutos, é o “rei” dos cruzamentos de bola corrida, com 5,2, e nos dribles eficazes só o português Nélson Semedo conseguiu melhor média (2,0 contra 1,5).
Thiago Alcântara (Bayern) 7.29 – O médio conquistou o direito a estar neste “onze” pelos desempenhos no Bayern (ainda não jogou na prova pelo Liverpool). O hispano-brasileiro foi o melhor médio deste período, pelo que representou na organização de todo o futebol bávaro. Cinco golos não é um registo grande, seis assistências já é um número de respeito, mas Thiago é muito mais do que isso. É inteligência, critério, visão, técnica, capacidade de passe e de liderança. Entre os médios foi o segundo com mais tentativas de drible (2,5), atrás de Luka Modric (2,6), mas foi aquele que mais completos somou (1,9), correspondente a 75% de sucesso. Quarto com mais desarmes (3,4), ainda lidera nas intercepções (2,3) e nas recuperações de posse (9,3). Extraordinário no passe, foi o quinto médio com melhor eficácia (91%), o que mais tentou o passe longo (10,0 por 90 minutos) e o segundo da posição com melhor eficácia nestas entregas (79%), atrás de…

Toni Kroos (Real Madrid) 6.83 – … Kroos que tem sido, nas sete épocas em Madrid, o cérebro da equipa “merengue” e esse facto nota-se nas estatísticas, ao ponto de liderar em algumas variáveis. Nestes cinco anos somou três golos e seis assistências, mas é noutros momentos que se revela, como nos passes para finalização. São 126 nesta fase, em termos absolutos, mais do que qualquer outro jogador com pelo menos 2250 minutos, correspondendo a 3,1 por 90 minutos (também a melhor média). Acções com bola foram 4011, máximo, a uma brilhante média (terceira) de 100,3. E nos passes longos completos ninguém o bate, assinalando 8,9 (88,4% de eficácia, mais do que qualquer outro). Na eficácia global de passe também é líder (94% certos).
Raheem Sterling (Man City) 6.94 – A poderosa Premier League empresta somente um jogador, Sterling, extremo que tem sido alvo dos mais rasgados elogios por parte de Pep Guardiola, o seu treinador. Nestas cinco temporadas, o internacional inglês fez 18 golos pelos “citizens”, mais 11 assistências, contribuindo assim para 33% dos golos que a sua equipa marcou enquanto em campo. Nesta fase foi o terceiro jogador com mais tentativas de drible, nada menos que 179, e também o terceiro em eficazes, com 102, equivalentes a 57% de sucesso. No passe para finalização registou a oitava média mais alta (2,2). Um desequilibrador por excelência.
Neymar (Barcelona/PSG) 7.64 – O craque brasileiro lidera ainda diversos indicadores nestas cinco épocas. Ninguém fez mais assistências que ele, extraordinárias 17, o que juntando aos 24 tentos fazem do “canarinho” o craque com mais acções para golo (tentos + assistências) por 90 minutos nestas cinco temporadas de Champions. Ninguém somou mais tentativas de drible (383) ou dribles completos (197), foi o segundo com mais eficazes no último terço (104, mas o primeiro em média por 90m, com 3,2) e não há jogador que mais vezes tenha sido travado em falta (194). Um jogador “mortífero” nas zonas de decisão.
Lionel Messi (Barcelona) 8.05 – O argentino só podia integrar este “onze”. Ele e Cristiano Ronaldo (que vem já a seguir na lista) são as grandes figuras do futebol mundial da última década e meia e continuam a “carburar”. Messi é mesmo o melhor executante nas últimas cinco temporadas, com um rating incrível. Terceiro melhor marcador nesta fase, com 35 tentos, fez ainda 12 assistências e lidera no peso que teve nos golos marcador pelo Barcelona (56% dos tentos catalães, enquanto Messi esteve em campo, tiveram o seu contributo directo). “La Pulga” foi o jogador que mais remates enquadrou neste período (97), que mais passes ofensivos valiosos realizou (355) e o que registou a melhor média de passes eficazes no último terço por 90 minutos (23,9). No drible só Neymar lhe fez frente, tendo registado um total de 299 tentativas, 180 com sucesso, ambos os valores atrás do brasileiro.

Cristiano Ronaldo (Real Madrid/Juventus) 6.95 – E terminamos com o capitão da Selecção Nacional. Na Juventus pode já não estar tão fulgurante como no Real Madrid, falando da Champions. Contudo, os seus números continuam a ser estratosféricos. Nestas cinco temporadas foi o melhor marcador, com 41 golos, aos quais juntou 11 assistências, pelo que é o segundo jogador com mais peso nos tentos das suas equipas enquanto está em campo (51%, atrás de Messi). No remate é imbatível, registando um total de 260, mais 65 que o argentino do Barça, 201 deles de bola corrida (também máximo). Uma autêntica máquina.

Os líderes dos principais Tops da Champions
Na análise individuais aos craques já abordámos alguns dos líderes de diversas variáveis que têm um peso grande no desempenho individual e, por arrasto, no sucesso das suas equipas. Momentos de jogo há em que os grandes craques não dão hipótese à concorrência e em seguida apresentamos duas listas com os nomes daqueles que lideram naquilo que melhor sabem fazer.

Dos golos de Cristiano Ronaldo às assistências de Neymar, ou aos remates e passes ofensivos de Lionel Messi. Os nomes são sonantes, muitos deles estão no “onze” que acabámos de apresentar, mas outros não. Olhando para a primeira infografia só um dos elementos não integra a equipa GoalPoint Ratings das últimas cinco épocas da Champions. E é um jogador bem conhecido dos portugueses. O ex-FC Porto, Felipe, transportou a sua qualidade da Invicta para o Atlético e neste período foi o jogador que somou mais acções defensivas, nada menos que 423.

No segundo quadro há mais elementos que ficaram fora do “onze” mas nem por isso deixam de merecer destaque:
- Ángel Di María, ex-Benfica, destaca-se pelas ocasiões flagrantes (quase uma por 90 minutos) que registou ao serviço do Paris Saint-Germain nestas cinco épocas;
- No desarme, o destaque vai para Arturo Vidal. O chileno representou três emblemas neste período, o Inter, o Bayern e o Barcelona, e em todos acumulou em média 4,1 desarmes a cada 90 minutos;
- Finalmente, Virgil van Dijk. O central holandês do Liverpool praticamente não jogou esta temporada, devido a uma lesão num joelho, mas nos 26 jogos que fez pelo Liverpool na Champions neste período, destacou-se como fortaleza voadora, com 3,8 duelos aéreos ganhos por 90 minutos.