CRESCEM a uma velocidade supersónica os talentos “made in” França. Christopher Nkunku é um dos últimos gauleses a cantar de galo e a despertar a atenção de diversos “tubarões”. Nesta terceira temporada no RB Leipzig, o criativo já tem 11 golos apontados e sete assistências nas 17 partidas em todas as competições em que foi utilizado.
Em poucas semanas já leva mais tentos do que aqueles que anotou nas duas épocas anteriores: em 2019/20 assinou cinco tiros certeiros e 13 assistências em 44 duelos oficiais. Na temporada transcorrida foram sete golos, nove passes decisivos e 40 encontros. No início da carreira, o francês desempenhava as funções de “box-to-box”, foi subindo no terreno e, dada a qualidade técnica, velocidade, versatilidade e imprevisibilidade, foi ganhando asas e joga em qualquer função na frente de ataque, tendo nas últimas partidas actuado como o homem mais adiantado ou formando dupla com o português André Silva num clássico 1x4x4x2.
[ A extraordinária exibição de Nkunku no último jogo da Bundesliga ]

Parte desta explosão explica-se pela liberdade que ganhou desde que Jesse Marsch substituiu Julian Nageslsmann. O francês passou a pisar terrenos mais próximos da baliza adversária, onde se sente mais cómodo, não obstante continuar a ferir, ora partida dos flancos, principalmente do esquerdo onde é mais letal, ora na construção das jogadas. “Redescobri o prazer de jogar. Sinto que estou a florescer em campo, que tenho um pouco mais de liberdade, e quando mais o tempo passa, melhor estou”, reconheceu recentemente citado pela imprensa germânica.
E foi livre que voou, entre o lado canhoto e a zona central, e desbaratou a defensiva do Dortmund na última ronda da Bundesliga com um golo, cinco remates (três enquadrados no alvo), uma assistência, duas ocasiões flagrantes construídas, foi quase perfeito no capítulo dos dribles (cinco tentados e quatro concretizados com eficácia) e uns impressionantes 13 passes aproximativos recebidos. Roçou o 10 – se fosse o Messi, não é?…
Antes, nas jornadas seis e sete da prova, exibiu-se num nível que não está ao alcance de todos. Contra o Hertha, praticamente tudo o que tocou, virou ouro. Realce para o bis (em quatro tentativas), uma assistência, três passes para finalização, outras tantas conduções aproximativas, uma grande penalidade sofrida e sete passes aproximativos recebidos. No fim-de-semana seguinte, voltou a marcar em duas ocasiões, ao Bochum, acertou no alvo os três remates que carimbou e recebeu nove passes aproximativos.
Um perigo à solta
Chama a atenção a facilidade com que Nkunku consegue, sem muitos toques no esférico, chegar à baliza do rival e, por norma, criar perigo, registando 0,7 acções para golo (tentos + assistências) a cada 90 minutos. A capacidade de decidir o que fazer é outra das qualidades do gaulês.
[ Acções em posse de bola (à esquerda); conduções aproximativas, dribles e faltas sofridas (à direita) ]
“É o jogador mais importante da equipa”, disse o timoneiro, Jesse Marsch. “É um grande elogio, mas não creio que seja assim. É verdade que me sinto forte, fiz uma boa pré-temporada neste Verão. Há um ano não foi assim por causa do Coronavírus”, justificou, citado pela Marca.
Posicionado numa zona mais interior, o antigo jogador do PSG aproveita para ligar o “turbo” (corre a uma média 25 km/h, de acordo com dados da Bundesliga) e é assim que marca grande parte dos golos. Porém, não deixa de aparecer em toda a largura do terreno de jogo, dando expressão à liberdade que goza no esquema da equipa – como se comprova pelos mapas acima, de acções em posse (esquerda), e conduções aproximativas (tracejados), dribles (estrelas) e faltas sofridas (setas azuis).
Uma das grandes estrelas da Bundesliga
[ O desempenho acumulado de Nkunku esta época na Bundesliga ]

O número 18 dos “touros vermelhos” é uma das estrelas da companhia na Bundesliga e tudo à base de números como estes:
- Cinco golos e três assistências, 38% de contribuição para os golos marcados pelo Leipzig com o francês em campo;
Entre jogadores com mais de 495 minutos na Liga alemã (50% do total possível) é:
- O 12º atleta com mais remates por 90 minutos (3,1), o segundo do Leipzig, atrás de Emil Forsberg (3,2), mas também o 12º em remates de bola corrida (2,8), melhor dos homens da Red Bull;
- Oitavo com mais passes para finalização de bola corrida (1,8), mais ninguém do Leipzig fez melhor;
- É o quinto jogador da competição com mais passes ofensivos valiosos gizados (5,0), sendo que é o melhor elemento da equipa com melhor registo nas tentativas de drible (3,6) e mais completados com eficácia por 90 minutos (2,1);
- Para finalizar, Christopher é o sétimo jogador na Bundesliga com mais dribles completos no último terço (1,4), equivalente a extraordinários 78% de eficácia.
Goleador na Champions League
[ O desempenho acumulado de Nkunku e os dois MVP’s na UCL 21/22 ]

Não é apenas no campeonato germânico que a magia de Nkunku faz mossa nos adversários. Na Liga dos Campeões encontrou um outro palco onde tem brilhado de forma intensa. Em quatro jornadas é um dos terceiros melhores marcadores, com cinco golos e números que, de acordo com o Bild, despertaram a cobiça dos milionários Manchester City e PSG, que estão interessados em assegurar os seus préstimos. O vínculo com o Leipzig termina a 30 de Junho de 2024 e o valor de mercado ronda dos €40M, aponta o Transfermarkt.
Fã de Ronaldinho Gaúcho e (mais um) talento desperdiçado pelo PSG!
Depois de Coman (Bayern Munique), Diaby (Bayer Leverkusen), Edouard (Crystal Palace), Jonathan Ikoné (Lille), Boubakary Soumaré (Leicester), Timothy Weah (Lille), Adil Aouchiche (Saint-Étienne), Ferland Mendy (Real Madrid), entre muitos outros, Nkunku é apenas mais um exemplo de pérolas formadas na Academia do PSG que não foram aproveitados da melhor forma e que brilham noutros clubes.
Admirador confesso de Ronaldinho Gaúcho, estreou-se na equipa principal dos parisienses pela mão de Laurent Blanc, decorria o dia 8 de Dezembro de 2015. Com apenas 18 anos e 24 dias, defrontou o Shakhtar Donetsk. Dez troféus depois, abandonou o clube do coração em 2019 a troco de €13M.
“Converteu-se num ritual. Jogámos todos as épocas contra eles na Liga dos Campeões e é sempre uma partida especial para mim. O Parque dos Príncipes era como se fosse uma divisão da minha casa”, referiu há poucas semanas, ao Bild, antes do Leipzig vs PSG (2-2) da 4ª jornada do Grupo A da Champions.
“Agora posso dizer que o melhor é deixar a nossa zona de conforto para podermos crescer ainda mais”.
Ainda sem internacionalizações pela selecção A dos “Les Bleus”, Nkunku, que nasceu em Lagny-sur-Marne, mas que também tem raízes congolesas, deverá estar próximo de ser chamado por Didier Deschamps. “A porta da selecção está aberta, se continuar assim, acontecerá”, sintetizou este craque polivalente.