O campeão caiu em casa no dérbi. Sporting e Benfica defrontaram-se em Alvalade, com os “leões” a quererem manter a pressão sobre o Porto e as “águias” a sonharem ainda com o segundo lugar. O desfecho sorriu aos “encarnados”, que assim passaram a contar com 34 triunfos na casa do rival, contra 33 vitórias leoninas, com os dois golos decisivos a desempatarem também os 125 tentos que empatavam os eternos rivais.
O jogo teve uma tendência clara, confirmada pelas análises dos próprios treinadores, mas há algumas estatísticas extra que marcaram o dérbi e que podemos ilustrar através dos nossos mapas, que espelham as estratégias dos dois conjuntos e a chave de uma vitória “encarnada” que nem todos esperavam.
1. Recuar e esperar pelo erro
[ As principais tendências de passe e posicionamentos médios com bola de Sporting e Benfica, no dérbi ]
“Houve uma equipa que defendeu muito baixo, à espera dos nossos erros e do nosso balanceamento”, afirmou Rúben Amorim no final do jogo. Já o técnico do Benfica, Nélson Veríssimo referiu: “Umas vezes resulta, outras não, hoje resultou. Se tivéssemos perdido diriam que o Benfica jogou aqui com um bloco muito baixo, umas vezes com uma linha de cinco, outras de seis. Qual o problema?”
Dois testemunhos, os principais, que corroboram o que foi visível durante todo o encontro. O Sporting dominou, pressionou alto, o Benfica recuou e explorou o adiantamento contrário para fazer o seu resultado. O mapa de posicionamento médio dos jogadores das duas equipas mostra quase tudo do que foi o jogo, a diversos níveis. Além de Adán, apenas dois jogadores leoninos, Coates (4) e Neto (13), tiveram um posicionamento médio atrás da linha de meio-campo. Todos os outros estiveram bem acima.
Ao invés, entre os titulares, o Benfica teve apenas três no meio-campo ofensivo – Darwin (9), Gonçalo Ramos (88) e Everton (7) -, todos os outros bem recuados. Gonçalo teve como tarefa pressionar o médio leonino mais recuado, João Palhinha (6), e o distanciamento destes três elementos em relação ao meio-campo e defesa benfiquistas mostra bem a estratégia “encarnada”: recuar e lançar bolas longas para a velocidade dos homens da frente. Mas já lá vamos.
2. Bola na esquerda, vira tudo à direita
[ Acções em posse (esquerda) e passes aproximativos do Sporting no dérbi ]
Esta foi uma das marcas mais fortes do Sporting no dérbi. É verdade que cerca de 47% dos ataque registados pelo Sporting, em posse, aconteceram pelo lado esquerdo e somente 29% pelo direito, mas houve uma tendência clara, em especial na primeira parte, para virar rapidamente o centro do jogo para a direita, onde estava Pedro Porro – e também Pablo Sarabia -, um dos homens mais activos do encontro. Algo que obrigou Grimaldo a trabalho extra, mas bem conseguido.
🇵🇹 Sporting 🆚 Benfica
Alejandro Grimaldo 🇪🇸 começa a habituar os benfiquistas a grandes exibições a nível defensivo nos grandes jogos#LigaBwin #LigaPortugalBwin #SCPSLB #RatersGonnaRate pic.twitter.com/stZHLUdTfV
— GoalPoint.pt (@_Goalpoint) April 17, 2022
O mapa de acções em posse do Sporting, em cima à esquerda, mostra claramente que o “leão” teve muito a bola do lado esquerdo, mas o mapa da direita evidencia uma grande quantidade de passes aproximativos da esquerda para a direita. Algo que permitiu a Porro ser um dos homens mais activos numa das acções mais vezes registadas pelos homens da casa.
3. Uma fartura de cruzamentos… em vão
[ Os 26 cruzamentos do Sporting no dérbi (esquerda), a azul os 4 eficazes; os 11 cruzamentos de Porro (direita) ]
O Sporting fez nada menos que 26 cruzamentos de bola corrida. O Benfica apenas três. Leu bem, a diferença no número total de cruzamentos foi enorme e é algo que não vem apenas deste jogo. Se na época passada a estratégia leonina passava muito por esperar os adversários e explorar com mestria as costas das defesas e as transições rápidas, as dificuldades que o Sporting sentia em ataque posicional levou Amorim a refinar o “leão” para um jogo mais de cruzamento, para explorar a cabeça de Paulinho e, desde Janeiro, Islam Slimani. O problema foi a eficácia.
Neste jogo, somente quatro desses cruzamentos encontraram um jogador do Sporting (15%), uma percentagem muito baixa, algo que tem acontecido em alguns jogos dos “leões”. O Sporting é a equipa da Liga Bwin com mais alta média de cruzamentos de bola corrida por jogo, nada menos que 16,9, ainda assim bem abaixo dos 26 do dérbi, e com uma eficácia global de 22,6% (um aproveitamento médio satisfatório). Só Pedro Porro realizou 11 dos 26 cruzamentos dos “leões” (no início do segundo tempo já somava nove), e no caso, nenhum deles teve correspondência por um colega na área.
4. Tirar partido das perdas de posse contrárias
[ As perdas de posse de Sporting e Benfica no dérbi, por zonas ]
O Benfica assentou o seu jogo no lançamento de contra-ataques rápidos após recuperar a posse de bola, e fê-lo, como já concluímos, de zonas bem recuadas. Importa perceber em que locais do relvado cada um dos emblemas perdeu a posse mais vezes, e os dois mapas de cima ajudam a perceber isso mesmo, bem como tentar compreender de onde os “encarnados” começaram a disferir os golpes fatais aos “verdes-e-brancos”.
Devido à pressão intensa, é de todo natural que o Sporting tenha perdido grande parte das suas posses no último terço e foi isso mesmo que aconteceu. Nada menos que 75 das 104 perdas aconteceram nessa zona, a maioria (38) na grande área benfiquista e zona frontal à mesma, o que não espanta, dada a quantidade de cruzamentos realizados (como vimos anteriormente) e sua pouca eficácia. Aos “encarnados” competia aproveitar essas perdas, recuperar a posse e lançar as transições rápidas. E foi isso que sucedeu.
5. Bola longa para a frente
[ Os 28 passes aproximativos do Benfica no dérbi (esquerda), as 2 assistências (centro) e todos os passes super aproximativos na Liga 21/22 dos “encarnados” (direita) ]
Na antevisão que fizemos à partida, identificámos os passes longos deste o primeiro terço, para aproveitar a velocidade de Darwin (e Rafa, caso estivesse apto) na frente, como uma das potenciais armas a usar pelo Benfica, e mostrámos um mapa em que ficava patente a apetência benfiquista para esses passes longos de zonas bem recuadas (em contraponto com os do Sporting, mais a partir do meio-campo). E essa previsão de domínio leonino e abordagem “encarnada” provou-se certeira.
[ Passe de Vertonghen, golo de Darwin ]
É verdade que o 2-0 final aconteceu numa transição em condução, mas o 1-0 saiu dos pés de Vertonghen bem dentro do primeiro terço (mapa do meio, onde estão as duas assistências) e, ao longo da partida, os homens da Luz usaram muito o passe aproximativo (mapa da esquerda), em grande medida desde as imediações da sua grande área, mesmo que nem sempre com sucesso. O mapa da direita mostra os passes super aproximativos do Benfica ao longo da temporada, claramente com grande parte deles a partir do primeiro terço.