Esta terça-feira ficará tudo decidido. Portugal recebe, no Estádio do Dragão, a surpreendente Macedónia do Norte, na final do play-off de apuramento do Mundial de 2022, e quem vencer segue para o Qatar e para a grande competição de selecções. O adversário luso era tudo menos favorito a estar neste encontro, pois na sua meia-final jogou em Palermo com a equipa da casa, a campeã europeia Itália, equipa que era mais do que favorita ao triunfo e a disputar com a turma lusa a passagem – num aguardado embate entre os dois últimos campeões continentais. Só que os macedónios ganharam mesmo, e esse facto será mais do que suficiente para deixar Fernando Santos e Portugal de sobreaviso.
Certamente que o seleccionador nacional não necessitará da nossa ajuda para conhecer as forças e fraquezas desta equipa, mas não deixámos de olhar para a Macedónia do Norte para tentar perceber de onde vem o principal perigo.
A formação da Península Balcânica, um dos países que se formou após a dissolução da antiga Jugoslávia, tem evoluído bastante no panorama internacional. A presença no último EURO 2020 foi o ponto alto da ainda curta história da selecção, mas há outros resultados que apontam para a grande qualidade do seu conjunto. A equipa terminou no segundo lugar do Grupo J de qualificação, apenas atrás da Alemanha, e conseguiu mesmo uma extraordinária vitória por 2-1 na visita aos germânicos, há cerca de um ano (a 31 de Março de 2021). Assim, a vitória sobre a Itália não foi propriamente um acidente, embora tenha sido conseguida através de métodos menos “bonitos” e entregues a um pragmatismo e realismo que não será do agrado de todos.
[ A Macedónia do Norte quase não passou do meio-campo ante a Itália ]
Verdade que os transalpinos dominaram amplamente, atacaram muito e sofreram um golo numa das raras investidas macedónias, mas os forasteiros montaram o “autocarro” à frente da sua baliza e aproveitaram a sua única ocasião concreta para marcar. E é isso mesmo que pode esperar Portugal, uma Macedónia do Norte previsivelmente recuada, na expectativa e a tentar explorar os espaços que a formação das “quinas” deverá deixar nas suas costas. Frente à “azzurra” resultou, com dois elementos a destacarem-se em relação aos demais.
De realçar que, não só os macedónios não contaram com a sua grande referência, Goran Pandev, que deixou o futebol internacional após o EURO 2020, como também não puderam utilizar aquele que é, para muitos, o melhor jogador do país, o médio do Napoli, Elif Elmas, que se encontrava suspenso. Os seus colegas de equipa superaram-se e dois deles brilharam. Primeiro o guarda-redes Stole Dimitrievski, que realizou cinco importantes defesas, três a remates na sua grande área, e depois o defesa-central Visar Musliu, que realizou quatro intercepções, nove alívios e incríveis cinco bloqueios de remate. Será isto, certamente, que Portugal irá encontrar, com a agravante que, desta feira, Elmas já poderá jogar.
O alerta de Fernando Santos
“O Elmas é o melhor jogador da Macedónia. Ele e o jogador do Levante [Bardhi] trazem a esta equipa essa qualidade de posse e circulação da bola”, disse Fernando Santos na conferência de imprensa de antevisão do encontro. O esquerdino, que actua no Napoli, é mesmo um perigo à solta.
Dos principais jogadores macedónios a actuarem nas mais fortes Ligas europeias, Elmas é o que tem brilhado mais. O centrocampista, que pode jogar do lado esquerdo ou a médio-ofensivo, tem técnica, velocidade, inteligência, visão de jogo e facilidade de remate, sendo o jogador que obrigará a maiores cuidados por parte de Portugal. Na Serie A leva dois golos e cinco assistências e é um foco de criatividade e desequilíbrio, apesar de não ser um titular indiscutível. Na qualificação para o Mundial de 2022 fez duas assistências e marcou quatro golos, um deles na tal vitória surpreendente na Alemanha.
No entanto, há outros jogadores macedónios a ter em conta. Um deles é, como jjá referimos, Stole Dimitrievski, guarda-redes dos espanhóis do Rayo Vallecano, que frente a Itália foi um dos heróis da equipa e, na La Liga, tem estado quase sempre a um nível apreciável. Depois há Enis Bardhi, tal como referiu Fernando Santos.
Bardhi é médio-centro e também joga no campeonato espanhol, no Levante, pelo qual já fez três golos e duas assistências esta temporada na La Liga. Frente a Itália esteve relativamente discreto, algo que se compreende tendo em conta as características do jogo, mas normalmente é um jogador que está um pouco por todo o lado, com entrega defensiva, capacidade de manter a posse de bola e organizar o jogo macedónio, pelo que terá de ser um dos jogadores a anular por parte de Portugal.
[ Acções defensivas (esq.), acções ofensivas perigosas (ctr.), perdas de posse (dta.) da Macedónia na fase de apuramento ]
Os dados acumulados da fase e qualificação do Mundial de 2022 dão-nos mais indicadores do que pode esperar Portugal. O primeiro, e mais óbvio, é que a Macedónia do Norte é uma equipa que privilegia as acções defensivas em zonas mais recuadas, como se pode conferir no mapa de cima à esquerda, com a maioria a acontecer já na sua grande área. O mapa da direita mostra as zonas onde a equipa mais vezes perde a posse de bola, o que acontece primordialmente no meio-campo contrário, pelo que não se trata de uma equipa displicente no seu próprio meio-campo, e muito menos no terço defensivo. Portugal terá de provocar o erro, pois ele não acontece com muita facilidade.
Ofensivamente, sabemos que as transições são uma das armas dos macedónios e, como mostram as conduções aproximativas no mapa central, é pelas faixas que esta selecção costuma canalizar o seu jogo ofensivo. Portugal já terá João Cancelo disponível, algo que poderá ser fundamental para travar este perigo.