A Turquia é o adversário de Portugal numa das meias-finais do play-off de acesso à fase final do Mundial de 2022. O duelo está agendado para esta quinta-feira às 19h45 e antes do pontapé de saída no Estádio Dragão, vamos esmiuçar os pontos – fortes e fracos – a ter debaixo de olho pela turma de Fernando Santos, com a ajuda do jornalista do Canal 11, Luís Martins.
“A Turquia é uma selecção que procura ter a bola, embora uma das suas fragilidades seja a construção ofensiva, não é um conjunto que tenha muita variabilidade, procura ter triângulos, combinações entre o médio do lado esquerdo, com o lateral e o extremo a criarem por ali espaços para cruzamentos muitas vezes, ou à direita, explorando um lance individual do [Cengiz] Ünder ou centrando à procura de Burak Yilmaz, que é a referência”, começa por analisar Luís Martins, numa primeira abordagem ao adversário da turma das “quinas”.
“Por norma, a selecção da Turquia é lenta de processos e, quando é obrigada a ter bola, tem dificuldades em entrar no bloco adversário. É um colectivo turco interessante se olharmos a nomes, mas que não é oleado e revela muitas dificuldades quando se depara com selecções que tenham jogadores do outro lado que entendam o que é o jogo, o que é o espaço e que criam muito. Se Portugal tiver a bola e quiser ser protagonista, a Turquia vai sofrer muito, como se viu, por exemplo, com os Países Baixos, com os quais perderam por 1-6, embora não tenha sido com este seleccionador, mas que tinha a maior parte destes jogadores. Não é uma equipa muito inteligente a abordar os espaços. Com jogadores como o Bernardo ou o João Félix, caso venha a jogar no decorrer da partida, Diogo Jota, Bruno Fernandes ou até com William, dada a ausência de Rúben Neves, Portugal tem capacidade e qualidade para ser claramente favorito neste encontro”, explica o jornalista do Canal 11 sobre a armada turca, agora orientada por um alemão.
[ O último jogo da Turquia no Grupo G de apuramento para o Mundial de 2022, ante o Montenegro ]
“Stefan Kuntz é um treinador com o foco mais na baliza, mais ofensivo. É uma selecção que parte de um 1x4x3x3, por vezes um 1x4x2x3x1, mas com o novo seleccionador Hakan Çalhanoğlu, em vez de ser um ’10’ puro, mais próximo da baliza, baixa muito para construir, por isso transforma-se praticamente num número ‘8’, num primeiro construtor no meio-campo. É um 1x4x3x3, com um pivot defensivo e com dois interiores. Depois, a Turquia tem dois extremos que jogam, por vezes, por dentro, sobretudo à esquerda. À direita está outra das figuras, o Cengiz Ünder, que é o jogador que dá largura. O lateral-direito, Zeki Çelik, é muito ofensivo, devido aos movimentos de Ünder, e surge muitas vezes por terrenos interiores. No flanco contrário, Caner Erkin é um lateral mais defensivo, mas quando sobe dá profundidade, não tanto por terrenos interiores. Depois, resta saber quem jogará como extremo-esquerdo, em especial Kerem Aktürkoğlu, que tem tido golo e que se posiciona mais perto do Burak Yilmaz“.
“Çalhanoğlu é o coração da equipa turca”
Muito daquilo que poderá ser o sucesso turco nesta meia-final passará pela inspiração de Çalhanoğlu, médio do Inter, que ganhou outra liberdade desde que Stefan Kuntz assumiu o comando. Além do estratega, há outros jogadores que merecem ser mencionados.
[ Desempenho acumulado de Çalhanoğlu na fase de grupos de apuramento para o Mundial de 2022 ]
“Çalhanoğlu é o coração da equipa turca. Burak Yilmaz é a figura, o capitão da selecção e um avançado a ter sempre em conta, conhece muito bem José Fonte, são colegas no Lille, e se Portugal conceder oportunidades para que haja cruzamentos, é um elemento que poderá ser perigoso. É muito inteligente a jogar”.
“A seguir a Çalhanoğlu, para mim o craque é o Ünder – 11 golos, três assistências em 36 jogos oficiais ao serviço do Marselha. Está a fazer uma época fantástica, é um extremo muito desequilibrador no um contra um, poderá criar problemas ao Raphaël Guerreiro ou ao Nuno Mendes, dependendo de quem jogar. É um extremo com golo, objectivo, finta, tem um bom remate e pode criar dificuldades. E depois destaco um jogador que, para já, não tem sido opção para o novo seleccionador, mas que já leva 14 golos esta temporada com o Getafe: Enes Ünal está num momento de forma notável. Nos minutos finais do jogo, com o resultado ainda por definir, poderá ser um jogador difícil de controlar no jogo aéreo e creio que, se jogasse de início, a Turquia beneficiaria mais do que com Yilmaz, mas ele é a figura”, realça Luís Martins.
Bernardo na zona central para “ferir” a teia turca
E de que forma o “esquadrão luso” poderá desmontar e ferir a teia turca? Ao que tudo indica, Fernando Santos irá apostar num esquema que privilegie a presença de Bernardo Silva na zona central. O médio do Manchester City poderá ser a chave determinante no desfecho do jogo.
[ Desempenho acumulado de Bernardo Silva na fase de grupos de apuramento para o Mundial de 2022 ]
“Sendo um 1x4x4x2 com extremos ou um 1x4x4x2 com um meio-campo em diamante, Bernardo por dentro poderá criar muitas dificuldades, porque eles são uma selecção muito aguerrida, que joga muito com o coração, mas que tem uma grande fragilidade defensiva”, frisa Luís Martins. “A Turquia é uma equipa desorganizada, isso notou-se no último Campeonato da Europa. Tem dois bons centrais, Çağlar Söyüncü e Merih Demiral, mas são jogadores muitas vezes atraídos pela bola e pelo adversário. Ou seja, se Portugal jogar com Cristiano Ronaldo ou André Silva, se um dos dois baixar no terreno, eles vão atrás e a linha não compensa, não têm um médio que recue e faça momentaneamente as coberturas, e criam-se muitas vezes espaços na defensiva deles. Dão muito espaço entrelinhas. Uma equipa que tenho o Çalhanoğlu como ‘8’, dificilmente terá um médio de recuperação. Tendo mobilidade, com Bernardo a aparecer em todo o lado, Bruno Fernandes e um dos extremos em mobilidade e Cristiano Ronaldo mais fixo, Portugal pode criar muitas dificuldades à defesa turca. Defendem mal, é uma das lacunas”, alerta o jornalista.
“Se Portugal se colocar a jogar em transições, com o jogo a partir-se, eles poderão ser complicados. A Turquia é muito forte quando recupera a bola no meio-campo adversário, ataca logo a baliza. São jogadores muito objectivos e assim poderão criar dificuldades. Sem Rúben Dias e Pepe, convém que a Selecção Nacional não cometa muitos erros na saída, é importante fazê-los andar. São muito fortes naquilo que é o duelo aéreo, Portugal não deve nem vai fazer jogo directo com eles. Os seus pontos fortes são a bola parada ofensiva – sobretudo através dos livres batidos por Çalhanoğlu, que quase por todo o lado poderá fazer golo – e também nas transições são muito fortes”, explica.