No actual formato da Liga dos milhões, o Benfica nunca atingiu as meias-finais. Para fazer História, os comandados de Nélson Veríssimo terão um duro opositor pela frente, nada menos do que o todo-o-poderoso Liverpool. Na antecâmara da primeira mão dos quartos-de-final da Champions, fomos desmontar os “reds” com o auxílio dos nossos “bonecos” e do olhar clínico do comentador da SportTV, Pedro Henriques. Let´s go?
Como jogam os homens de Anfield?
“Não sei se o Liverpool é mais terrível de contrariar do que a equipa do Manchester City. Basicamente, olhando para o jogo, parece uma coisa simples, mas o difícil é depois pará-los. Actuam num 1x4x3x3, os três homens da frente normalmente actuam nas imediações da área, vão obrigar os laterais a jogar por dentro, abrindo um espaço enorme nos corredores”, começa por salientar o analista, que chama a atenção para os movimentos verticais e incisivos de Mohamed Salah e de Sadio Mané que “tanto jogam mais abertos, como por dentro” e para a “capacidade de sair de Diogo Jota ou de Firmino, que vão sempre arrastando os centrais. Apesar de estar quase tudo concentrado na zona central, arranjam sempre espaço, porque estão sempre em movimento e são perigosos com a bola nos pés”, salienta.
[ Foi assim que o Liverpool se apresentou no Dragão, ante o Porto, na fase de grupos ]
Mas os perigos não param por aqui, há dois “furacões” que, quando arrancam desde trás, são uma verdadeira dor de cabeça para quem os enfrenta.
“Os dois laterais também são muito fortes a atacar. Arnold na direita joga muitas vezes em espaços interiores, fazendo muitas triangulações com Henderson e Salah, e Robertson sobe mais pela linha para cruzar, e depois há mais variedade no processo ofensivo, que depende muito de quem é o terceiro médio, se Klopp vai ou não fazer alterações no ‘onze’-base tendo em vista a partida de domingo contra o Manchester City.”
“Se jogar o melhor trio de médios – Fabinho, Henderson e Thiago –, na fase inicial, Fabinho e Henderson baixam mais, libertando o outro médio. Thiago retém mais a bola, mas depois há Henderson, Arnold, Van Dijk, Matip e Fabinho, que conseguem fazer passes nas costas da linha defensiva, o que irá criar um problema ao Benfica. Com um passe tenso de 40 ou 50 metros, a bola rapidamente chega aos avançados. A bola vertical é forte, são fortíssimos a bascular o jogo de um corredor para o outro”, acrescenta.
[ Conduções aproximativas/dribles/faltas sofridas (esq.), passes para finalização de bola corrida (ctr.) e xG (dta.) do Liverpool na UCL 21/22 ]
Esta época, o emblema britânico contabiliza sete triunfos e um desaire na Liga dos Campeões, que ocorreu na segunda mão dos oitavos-de-final diante do Inter de Milão, apontou 19 golos e sofreu sete, sendo o quarto melhor ataque e a quinta melhor defesa da prova. Os comandados de Jürgen Klopp são também a quinta equipa com mais elevada média de remates por jogo (16,5), a terceira que regista mais Expected Goals (xG) acumulados (15,9), pelo que apresenta o terceiro saldo positivo, na relação entre golos marcados e xG (3,1).
“Águias” num bloco baixo à espera do momento certo
Pedro Henriques perspectiva um duelo em que os forasteiros terão maior iniciativa e uma “águia” mais na expectativa, com um bloco baixo.
“Se com o Ajax fez sentido, com o Liverpool muito mais fará. Com a velocidade que a equipa tem na frente e em quase todas as posições, é muito difícil, com a linha defensiva que o Benfica tem, conseguir lutar, a bola quando está no ar, não dá para a agarrar…, ela vai cair nas costas dos centrais, dos laterais. Estou convencido que o Benfica irá esperar dentro do seu meio-campo, estar preparado e escolher zonas de recuperação de bola, para que posse forçar o erro e o espaço entre o central e o lateral, maioritariamente sobre o lado direito, onde estão, por exemplo Matip e Arnold. E tem de ser depressa e bem, o Liverpool tem uma reacção à perda da bola que é terrível. Não encontro grandes fragilidades no Liverpool, mas se tivesse de explorar, optaria por atacar sempre entre o central do lado direito e o lateral desse flanco. Arnold é muito bom a atacar, muito rápido, mas naquele muro, a parte que não tem betão é aquela zona. No centro/esquerda, creio que a equipa defende melhor”, explica.
Parte do sucesso “encarnado” passará pela fiabilidade no processo defensivo e por algum atrevimento nos momentos em que tiver possibilidade de sair em direcção à baliza defendida por Alisson. Pedro Henriques afirma que os lisboetas nada têm a perder nesta fase da competição… “Acredito que o Benfica jogue num 1x4x3x3 com Gonçalo Ramos a ter a dupla missão, o papel híbrido de atacar e, quando for para defender, de encostar no Fabinho ou no médio mais recuado do Liverpool, será menos um a participar na fase de construção. Não será uma marcação homem-a-homem, mas sim condicionar as linhas de passe do adversário. Tentar que o Van Dijk seja mais ‘tapado’ pelo Darwin Núñez”, antevê o comentador.
E quem são os jogadores que poderão desequilibrar?
“Do lado do Benfica, Rafa e Darwin com a velocidade e potência que têm, podem conseguir eliminar a organização defensiva do Liverpool. Mesmo em inferioridade numérica, conseguem criar problemas e desequilibrar. Não há mais desequilibradores no plantel”, explicou Pedro Henriques, fazendo notar que, do lado inglês, a abundância é palavra de ordem.
“No Liverpool, é como se fosse um ‘Micado’, é largar, deixar os pauzinhos cair e escolher… Salah é sempre um problema, é rápido, muito forte fisicamente. E Diogo Jota, se jogar. Tal como Salah, é muito difícil de controlar, tem capacidade física, qualidade técnica, remata bem, faz golos de cabeça, o egípcio faz golos de qualquer maneira. Ambos são rápidos com e sem bola, finalizam bem, não precisam de muitas oportunidades para marcar.”