Conor Gallagher (mais) um diamante “blue” saído de Cobham

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DE forma sustentada, um dos sonhos de Roman Abramovich começa a ganhar pernas e nomes próprios. Falamos da presença no plantel principal do Chelsea de jovens “made in” Cobham.

“O meu trabalho é garantir que tenhamos o maior sucesso possível hoje, bem como construir para o futuro. É por isso que o sucesso da nossa academia em Cobham é tão importante para mim. O Chelsea não é apenas a equipa de futebol. O Chelsea é uma comunidade. É a equipa feminina, são as camadas jovens, é a academia, o apoio aos ex-jogadores do clube. É algo que começamos a fazer desde o primeiro dia”, disse o multimilionário russo, numa rara entrevista à revista Forbes.

Aos nomes de Andreas Christensen, Trevoh Chalobah, Reece James, Ruben Loftus-Cheek, Callum Hudson-Odoi ou Mason Mount, todos eles com o ADN da Academia “blue”, poderá juntar-se já na próxima época mais um craque em potência, falamos de Conor Gallagher. Fixem bem este nome.

O médio é apenas uma das últimas pérolas da fábrica de talentos dos londrinos que começa a dar frutos. Eleito jogador do ano da Academia em 2018/19, tem sido uma das notas de destaque do Crystal Palace, actual 11.º colocado da Premier League, com 20 pontos. Ao cabo do quarto empréstimo, após passagens pelo Charlton, Swansea e West Bromwich, chegou ao Palace, assumiu uma vaga no “onze” de Patrick Vieira e tem estado a brilhar com seis golos, três assistências, espalhadas em 16 jornadas.

Diante do Everton, na ronda 16, encantou, roçou a nota máxima, apresentando números dignos de registo: sete remates (três enquadrados e um bis), óptimos nove passes aproximativos recebidos, uma percentagem no capítulo do passe de 93% e três passes para finalização.

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O criativo de 21 anos tem rubricado exibições consistentes, corroboradas pelas nossas stats. Deixamos apenas dois exemplos: na jornada 3 esteve em todo o lado, tendo feito dois tentos, criado uma ocasião flagrante de golos, somou cduas acções defensivas no meio-campo contrário e levou a melhor em dois dos três duelos aéreos defensivos em que interveio. Já no surpreendente triunfo ante o campeão Manchester City, acertou na baliza os dois remates que fez, marcou um golo, fez uma assistência para o golo de Zaha, quatro passes para finalização e cinco desarmes.

Uma época que tem sido fulgurante, não passou despercebida ao seleccionador dos “três leões”, Southghate – estreou-se na “team” principal no passado dia 15 de Novembro, na goleada por 10-0 aplicada a San Marino – e a Tuchel.

O regresso à casa de partida na próxima temporada é apenas uma questão de tempo…

Uma mistura entre Ray Parlour e de Frank Lampard

E como joga este novo prodígio inglês? No 1x4x3x3 das águias londrinas, actua descaído sobre o lado direito, mas tem um enorme raio de alcance, qual polvo, o que lhe permite estar nos momentos de decisão, tanto defensivos, como ofensivos, um “box-to-box” elegante, que rompe com facilidade, surgindo na zona entrelinhas, ora para rematar, ora assistir. E os números, na primeira passagem pela elite da Premier League, atestam isso mesmo, tem na folha de registos, em 15 partidas (1308 no total), seis golos, três assistências, uma média de 1,7 remates de bola corrida a cada 90 minutos, 1,1 passes para finalização de bola corrida, 2,3 passes ofensivos valiosos, 1,4 dribles feitos com eficácia, 1,7 faltas sofridas e 1,8 acções defensivas no meio-campo contrário.

“Conhecemos a qualidade dele e sabemos que pode ser um ‘box-to-box’. Pode marcar golos, mas o que impressiona mesmo é a sua ética de trabalho diariamente nos treinos. Quando tens este tipo de determinação, de te desafiar e melhorar, terás mais oportunidades de alcançar o sucesso”, concluiu o técnico francês sobre o jovem.

O atleta cresceu em Bookham, a apenas dez minutos do centro de treinos em Cobham, começou a treinar-se no clube aos seis anos e assinou o primeiro vínculo dois anos depois. Tem três irmãos mais velhos, Jake, Daniel e Josh, todos eles jogadores que passaram sem sucesso por divisões inferiores do futebol inglês.

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“Um jogador como Conor é o sonho de qualquer treinador. Quando ele está em campo, dá tudo. Está sempre concentrado e isso é algo muito importante para mim. Conor tem uma paixão pelo jogo tal como tinha Ray Parlor, mas diria que talvez tenha uma qualidade na finalização parecida à de Frank Lampard”, atirou Patrick Vieira à Sky Sports.

[  Acções com bola (esq.), acções defensivas (ctr.), passes aproximativos (dta.) ]

Olhando para o mais do que provável regresso aos actuais campeões europeus, Gallagher deverá encaixar com facilidade no 1x3x4x2x1 de Tuchel, juntando-se a um “miolo” onde constam os nomes de Jorginho, Mateo Kovacic, N’Golo Kante, Ross Barkley ou Ruben Loftus-Cheek, podendo fazer a dupla no meio ou sendo um dos dois elementos que actuam nas costas do ponta-de-lança, onde terá a feroz concorrência de Mason Mount, Pulisic, Hakim Ziyech, Kai Havertz e Hudson-Odoi. Versatilidade e qualidade não lhe faltam.

Além destas “stats”, o camisola 23 esteve envolvido directamente em 39,1% dos golos que o Crystal Palace marca com ele em campo, acumulando, ainda, excelentes 2,8 desarmes por 90 minutos.

Lampard e… FIFA mudaram paradigma

A mudança de paradigma – onde é que já ouvimos esta expressão? – coincidiu com o ingresso de Frank Lampard na época 2019/20 e com o facto de ter ficado sem conseguir contratar jogadores até ao Verão de 2020, por, segundo a FIFA, “ter cometido irregularidades na transferência internacional e inscrição de 29 menores.” Um mal, que veio por bem para elementos como Mount, Reece James, Tomori e Abraham, que ganharam espaço e minutos nas pernas…

Além disso, vários jogadores com potencial são emprestados – Gilmour (Norwich) ou o próprio Gallagher (Palace) – ou vendidos – Guehi foi contratado pelo Crystal Palace por €20M, Tomori foi resgatado pelo AC Milan por €28M e Abraham foi para a Roma de Mourinho por €40M –, gerando muitos milhões de euros. Estratégia que tem gerado frutos e títulos.

A fórmula do Chelsea, de misturar a nata da nata da formação com nomes consagrados – o regressado Lukaku ou os experientes Thiago Silva, César Azpilicueta ou N´Golo Kanté, por exemplo – vai resultando na perfeição para deleite de Thomas Tuchel.

“É isto que faz as equipas especiais, não só que tenham super estrelas e os melhores jogadores estrangeiros, mas sim uma mescla e que haja jovens humildes da formação, cujo o maior sonho da vida deles é jogar pelo Chelsea em Stamford Bridge”, observou, citado  recentemente pela Imprensa, o técnico germânico, que já levou os “blues” a vencer a Liga dos Campeões e a Supertaça Europeia.

Além dos nomes já citados, há outros jovens com o selo de Cobham e que estão espalhados em outros latitudes, casos de Timo Livramento e Armando Broja, ambos no Southampton, ou Tariq Lamptey (Brighton & Hove Albion).

Entre 2015 e 2019, o emblema de Londres alcançou quatro finais da UEFA Youth League, vencendo duas delas – 2014/15 e 2015/16 – e perdendo outras tantas: 2017/18 e 2018/19 (esta diante do FC Porto).

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Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.