Darwin Nuñez estará pronto para o carrossel europeu? 🎠

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Darwin Nuñez está “on fire”. O melhor marcador da Liga Bwin 21/22 já leva 29 acções para golo em apenas 25 jogos, um desempenho que constitui um disparo significativo face ao que mostrou na sua primeira época de águia ao peito. A melhoria é agridoce para os adeptos benfiquistas, pois vem associada a diversas notícias (mudança de empresário, cobiça internacional) que não deixam dúvidas: o uruguaio deve sair no Verão, deixando muitos golos, mas levando zero títulos ao serviço do clube. Mas estará Darwin realmente pronto para integrar qualquer clube europeu de topo? Analisamos o que nos diz o seu desempenho, sobre o que de excepcional vai fazendo em campo mas também sobre o que pode complicar a valorização e procura que lhe é associada.

[ O desempenho de Darwin na Liga 21/22 é muito superior, mas será suficiente para ingressar na elite europeia? ]

Darwin Nuñez na Liga Bwin 21/22 versus 20/21

Começámos por olhar o que Darwin vai fazendo esta época ao serviço do Benfica, na Liga, comparando-o com os melhores. Decidimos por isso colocar o seu desempenho lado a lado com todos os jogadores que somam mais de 15 golos nas seis principais Ligas europeias. São 24 craques, nem todos avançados de área (mas muitas vezes Darwin também não o é), de Lewandowski a Luis Díaz, de Benzema a Diogo Jota. Perfis muito diferentes, todos com analytics de topo. E a verdade é que Darwin sai-se tudo menos mal. Eis os números, seguidos da análise do que de (muito) bom vai fazendo, mas também o que tem claramente de melhorar para estar ao nível dos melhores.

Desempenho de Darwin Nuñez comparado com os 23 jogadores com 15 ou mais golos nas principais Ligas 21/22

O Darwin que já é de topo…

“Rei” na finalização

Darwin não é o avançado que mais remata. O uruguaio fica-se pelos quatro disparos por jogo, três se tivermos em conta apenas a bola corrida, atrás de seis outros craques – com Lewandowski à cabeça com cinco remates – alguns deles nem sequer típicos homens de área (Salah, Mbappé). Mas na hora de medir o aproveitamento que dá às tentativas de alvejar a baliza, quase nenhum deles bate, neste momento, o avançado do Benfica.

Darwin concretizou 34,2% dos remates que fez na Liga, atrás apenas do francês Ben Yedder, com 35,8% (19 golos). Mas se tivermos em conta apenas os remates de bola corrida, o uruguaio assume a liderança, com 36%, ultrapassando o avançado do Monaco (32,4%) e Patrick Schick, do Leverkusen (31%).

Os 25 golos que leva são, aliás, o segundo melhor registo do comparativo. Apesar de empatar com Immobile (Lazio) e Benzema (Real Madrid), o “encarnado” obtém a sua marca em muito menos minutos jogados que os concorrentes – 1683. Aliás, dos 24 integrantes do restrito top em análise, apenas Erling Haaland entra no clube com ainda menos minutos que Nuñez, com 18 golos obtidos em 1554 minutos. Darwin marca 1,34 golos a cada 90 minutos, batendo o 1,11 de Lewa e o 1,04 de Haaland e Schick, os únicos a acompanhá-lo no clube dos goleadores com pelo menos um golo a cada 90 minutos jogados.

Finalizador em crescimento ou sobreprodução?

Quando Bruno Fernandes se transferiu para o United, muitas foram as vozes analíticas que alertavam para o facto de o médio exceder em muito o número de golos marcados em relação ao que as probabilidades (Expected Goals) lhe conferiam. A chamada de atenção tem razão de ser pois, de facto, muitas vezes essa sobreprodução acaba por não ter continuidade, sobretudo em desafios de maior exigência. O tempo viria a não dar razão ao alerta, com Fernandes a manter de imediato a propensão para desafiar os Expected Goals que lhe passam pelos pés.

Darwin apresenta registo semelhante a Bruno Fernandes. Segundo as probabilidades, o uruguaio tinha a obrigação de ter marcado apenas 18 golos na Liga, mas apontou 25, o que significa que vai excedendo as expectativas em cerca de sete golos, o registo mais elevado em todas as Ligas europeias, seguido (de perto) por Giovanni Simeone (+6,8 golos) e Kevin De Bruyne (+6,6), ainda que com menor espectacularidade (ex.: o belga De Bruyne leva 11 golos, mas dispôs de situações para marcar apenas quatro!).

[ Os Expected Goals dos remates de Darwin na Liga: quanto maior o círculo maior a probabilidade de golo ]

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Amarelo: golos, azul: enquadrados, vermelho: desenquadrados

A dúvida será certamente desfeita na próxima época, jogue onde jogar Darwin, mas a diferença face à temporada anterior é gritante: Darwin marcou seis golos na Liga 20/21, mas devia ter marcado 10 (9,87 xG). Ou seja, o uruguaio passou de um déficit de quatro golos na Liga anterior para um “superavit” de sete na edição em curso. Se tivermos em conta que o Benfica esteve longe de protagonizar uma Liga positiva, o feito individual de Darwin ganha ainda maior relevância.

Condutor agressivo

Apesar do porte físico e de ter sido contratado como homem de área, a verdade é que Darwin mistura características de “matador” com comportamentos mais próprios de outros jogadores que integram os 24 comparados, como por exemplo a propensão para a condução com bola. O uruguaio é, aliás, o terceiro jogador que mais conduções soma a cada 90 minutos, três, à frente de jogadores como Salah ou Nkunku, e batido apenas por nomes tão óbvios nesta matéria como Mbappé e Luis Díaz.

Outro factor que o torna especial é a sua agressividade positiva que, aliada ao seu porte físico, certamente colaboram no facto de conquistar 51% das bolas dividas que disputa, um mérito em que é ultrapassado apenas por Salah (55%), Tammy Abraham (52%) e Enes Unal (52%), num ranking que é fechado no 24º lugar por três portugueses: Cristiano Ronaldo (37), Ricardo Horta (36%) e Diogo Jota (35%).

[ A quantidade e localização das conduções de bola de Darwin na Liga mostram que é muito mais do que apenas um perigo na área ]

… e o Darwin que pode melhorar

A verdade é que jogar na Liga Bwin não é exactamente o mesmo que disputar provas como a Premier League ou a La Liga, pelo que importa perceber que pontos fracos apresenta ainda o jogo de Darwin para entender o que vale e onde pode encaixar melhor, sobretudo tendo em conta que a Darwin vai sendo associado um preço “premium” que não é de somenos. E a verdade é que, apesar do bom momento, o futebol do avançado ainda apresenta algumas arestas que importa limar, a saber:

Melhorar o passe

  • Darwin entrega apenas 65% dos passes que faz na Liga, um registo muito baixo e batido negativamente apenas por dois dos 24 comparados, Anthony Modeste (62%) e Enes Unal (60%). Tendo em conta que um joga no Köln e outro no Getafe, emblemas que nem sonham lutar pelo título nas suas Ligas, o registo do uruguaio torna-se ainda mais problemático, sobretudo se sonhar jogar em equipas que façam da posse e da construção mais elaborada uma prioridade face a frequentes blocos baixos que não dêem a Nuñez o espaço que tão bem gosta de explorar.

Perder menos bola…

  • A sua (in)eficácia no passe está directamente ligada a outra “falha” que deverá corrigir. Darwin perde 39% das 38 posses que tem em média por jogo e, neste particular, ambos os índices são preocupantes. Por um lado, Darwin tem pouca bola para um avançado de topo (Benzema chega as 54 acções por partida) e, por outro, perde-a com demasiada facilidade: apenas Unal e Simeone perdem mais, mas ainda dentro da percentagem (39%).

… passa por ser menos “trapalhão”

  • O termo parece forte, mas é usado muitas vezes nas redes e por adeptos benfiquistas. Darwin pode não ser “trapalhão”, mas a verdade é que 8% das suas acções com bola terminam com mau controlo da mesma, e isso muitas vezes significa o fim de acções ofensivas promissoras. Neste capítulo o uruguaio quererá emular o impressionante Benzema (apenas 2,7%) ou até o veterano, mas incontornável Cristiano Ronaldo (4%), se quiser jogar ao mais alto nível.

[ O mapa de controlos de bola deficientes de Darwin mostra que a natural maior pressão na zona de área não explica tudo ]

Cair menos em fora-de-jogo

  • Darwin cai em média uma vez em fora-de-jogo a cada 90 minutos. Parece pouco, mas a verdade é que as margens neste ranking são muito curtas. O problema é que 44% das vezes o uruguaio cai nessa “ratoeira” por larga margem, algo em que apenas quatro outros integrantes do ranking fazem pior. Não será o principal ponto de melhoria a ter em conta, mas é mais um.

Ser mais eficaz na disputa aérea

  • Com quatro golos de cabeça em 25 marcados, Darwin é o quarto jogador do ranking com mais golos obtidos dessa forma, sendo o líder Modeste, com nove. Mas o ponto “aéreo” em que o uruguaio pode melhorar é mesmo quando tem de disputar a bola pelo ar com um adversário, uma “disciplina” onde se fica pelos 37% de sucesso, muito longe dos 57% do avançado do Köln e até dos 47% do ex-benfiquista Raúl de Tomás, para referir um avançado bastante mais baixo que o benfiquista. Este é, aliás, um dos poucos aspectos em que Darwin não apresenta evolução face à época anterior, na qual se tinha ficado também pelos 36% de sucesso na disputa de duelos aéreos ofensivos.

O momento de Darwin é incontestavelmente excelente, ao ponto de certamente ser quase impossível o Benfica segurar o avançado por mais uma época. Num momento em que se anuncia a crescente cobiça de emblemas europeus pelos jogadores, não se admire com nenhum dos cenários possíveis, seja ele ver Darwin aterrar num dos maiores emblemas do futebol europeu, ou num outro, com muito dinheiro e ambição, mas sem candidatura efectiva à Champions League. É que Darwin está feito um finalizador de topo, mas não lhe faltam aspectos a melhorar, daqueles que hoje em dia não costumam passar despercebidos nem ao nosso Antunes, quanto mais aos analistas dos maiores clubes.

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