De Palhinha a João Mário: o “storytelling” do dérbi, em dados

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O Sporting visita sexta-feira a Luz, o único estádio de onde saiu derrotado na Liga 20/21. O grande dérbi prometia um confronto entre quatro dos seis médios da zona central com melhor GoalPoint Rating no campeonato em curso, mas tudo indica que isso não irá suceder: João Palhinha sofreu uma lesão muscular e é dado (até agora apenas pela imprensa) como fora das opções leoninas nas próximas semanas. Daqui resulta a primeira “novela” a analisar: quem deverá substituir aquele que, para muitos, é o melhor médio-defensivo da Liga? Mas não é a única questão.

O primeiro dérbi de João Mário contra o Sporting é, naturalmente, outro ponto de interesse, e ligado a esse momento histórico surge o oportuno comparativo com o jogador que vai aproveitando a saída do campeão europeu para se afirmar como um dos indiscutíveis de Rúben Amorim: Matheus Nunes. Mas chega de “teasing”, vamos então às “novelas” do dérbi, narrativa a narrativa.

1. O que perde Amorim com o KO de Palhinha?

João Palhinha é daqueles casos em que não é preciso analytics para se perceber a sua importância na manobra leonina. Ainda assim os seus dados ajudam a perceber a extensão do problema que a sua lesão cria aos “verde-e-brancos” e as lacunas que urge suprir no dérbi. Eis o destaques dos seus números.

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Para lá da eficácia no desarme (60%), João Palhinha é, não só o jogador leonino com mais desarmes, mas também o líder da Liga, com 46, mais quatro que Fábio Pacheco (Moreirense). Se a isso somarmos a eficácia com que o médio faz uso da sua envergadura para ganhar bolas aéreas defensivas (74% duelos aéreos defensivos ganhos + 1,2 alívios de cabeça p90m), é fácil perceber que a sua ausência constitui um rude golpe para um Sporting que se habituou a confiar no “trinco”, sobretudo na hora de travar os devaneios do adversário quando o “leão” perde posse.

[ Os 46 desarmes de Palhinha na Liga, o máximo da prova ]

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Forte fisicamente e rápido q.b. na reacção, fiável no passe, seguro no jogo aéreo defensivo, ameaçador no ofensivo, intratável no desarme e recuperação em situações de desequilíbrio. Este é o perfil em falta que justifica a dor de cabeça certa de Rúben Amorim neste momento.

2. Já agora, quem é o médio-defensivo com melhor rating?

Esta é uma curiosidade que só faz qualquer adepto do futebol lamentar a ausência do dérbi. Porquê? Porque tudo apontava para um “face off” na Luz entre precisamente os dois médios-defensivos com melhor GoalPoint Ratings acumulado, João Palhinha e Julian Weigl.

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A diferença entre ratings é marginal, com o alemão a complementar as tarefas defensivas com uma atípica produtividade ofensiva para a posição (cinco acções para golo). Palhinha também marca (2 golos), mas coloca visivelmente menos jogo no último terço, mostrando-se neste comparativo como um médio-defensivo mais tradicional.

3. Ugarte ou Bragança, uma escolha… tramada

Com Palhinha fora de jogo, Rúben Amorim será obrigado a fazer opções às quais raramente tem sido forçado, dada a fiabilidade do médio. Colocando de parte cenários ainda mais criativos e, sobretudo, improváveis no histórico do treinador (ex.: mudar o sistema), surgem dois homens como principais candidatos a opção. Um é reforço, o outro é um “puto” da casa: falamos do uruguaio Manuel Ugarte e de Daniel Bragança e basta clicar nos nomes para perceber que já mereceram foco detalhado por estas bandas, com toda a justiça. Eis os números das opções, que indicam também soluções diferentes para Amorim.

[ O comparativo do desempenho de Manuel Ugarte na Liga anterior, primeiro com João Palhinha e depois com Daniel Bragança, ambos à luz do desempenho 21/22 ]

“Spoiler”: nenhuma das hipóteses apresenta, à primeira, um perfil de substituição integral dos méritos de Palhinha, mas nem tudo são más notícias, pois tanto Ugarte como Daniel Bragança se mostram mais frequentes no apoio ofensivo que podem dar à equipa, com bola.

A eventual opção pela capacidade de Bragança em manter e oferecer bola pode, em teoria, até fazer Amorim pensar em entregar a Matheus Nunes as responsabilidades que costumam pertencer ao lesionado João. A favor dessa opção surge também o facto de, conforme a análise apresentada no Verão, Ugarte acabar por se aproximar mais de Matheus Nunes (apetência pelo drible e condução de bola) do que propriamente de Palhinha.

[ Clica na imagem para conferires a análise detalhada que fizemos a Ugarte, em Agosto deste ano ]

GoalPoint-Recordos-Ugarte-Sporting-2021

Desta análise resulta também outro dilema: seja qual for a opção de Amorim, nenhum dos dois oferece (a olhos vistos) a mesma capacidade física de João Palhinha. Isto significa que, seja qual for a escolha do “mister”, a manutenção do nível de eficácia e frequência defensiva, pelo ar e pelo chão, é uma ambição para esquecer, a não ser que Ugarte e/ou Bragança se transfigurem. Drama? Nem por isso, pois certamente Amorim saberá que, à falta de quem “varra” bola do adversário com facilidade, a solução estará em evitar ao máximo que o adversário ofereça o que varrer, não lhe dando a bola. No entanto, isto é mais fácil dito que feito, sabendo que do outro lado está agora… João Mário, um “armazém” de posse.

3. E já que falamos de miolo… como se comparam João Mário e Matheus Nunes?

A mudança de João Mário para o Benfica animou o Verão. Mas passadas 12 jornadas, o que jogou João Mário pelas “águias” e como aproveitou a oportunidade o seu sucessor leonino, Matheus Nunes? Os números mostram que provavelmente ambos (e respectivos clubes) ficaram a ganhar e este sim é um duelo que contamos ver, na próxima sexta-feira.

Os números são curiosos. João Mário, é neste momento, o médio da zona central com melhor rating da Liga, mas, no mundo Champions, é Matheus Nunes que vai brilhando ao serviço do único clube que já garantiu o apuramento para a próxima fase da prova. Os dados fundamentam não só a diferença de estilo entre os craques, como também de missões atribuídas pelos seus treinadores. João Mário mostra-se muito mais frequente e ofensivo no passe, sobretudo na Liga, visto que na Champions não parece ter podido atingir o mesmo rendimento nesse capítulo. Já Matheus Nunes não muda muito, somando às acções de apoio defensivo uma propensão para a condução e drible que facilmente associamos à sua imagem, arrancando com bola, pelo meio-campo adversário fora, uma visão recorrente nos jogos do Sporting.

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