A s principais Ligas europeias têm-se caracterizado, esta época, por desequilíbrio entre alguns dos respectivos líderes e os restantes clubes, e muitos deles têm-se banqueteado com golos e mais golos frente a adversários de menor valia. Exemplo disso mesmo foi a goleada recente do paris Saint-Germain sobre o Dijon, por 8-0.
[Este artigo foi originalmente escrito em inglês. Pode encontrá-lo neste link]
A aparente impotência defensiva das equipas perante os adversários mais poderosos tem poucas e esparsas excepções. Porém, se no topo da Ligue 1 tudo está mais ou menos como o esperado no início da temporada, se olharmos um pouco mais para baixo na tabela encontramos algumas situações menos habituais. O exemplo que destacamos chama-se Montpellier, oitavo classificado, mas dono da melhor defesa na Liga – sofreu apenas 13 golos esta temporada. Uma vez que nas cinco principais Ligas europeias apenas Atlético e Barcelona concederam menos golos, olhámos para a formação gaulesa e encontrámos, não só uma equipa muito interessante, como também alguns jogadores que valem a pena acompanhar.
Os “Expected Goals” – uma métrica que mede a regularidade com que é expectável uma equipa marcar/sofrer golos em média, com base na qualidade dos remates que ocorrem nos seus jogos – colocam o Montpellier em segundo na Ligue 1 no que toca a “xG Contra”, com sólidos 16,79, o que difere muito pouco dos golos que concede na realidade. Isto significa que este feito baseia-se em grande medida na qualidade, e não na sorte.
Muitas destas equipas de menor dimensão com defesas sólidas têm sucesso através do recuo acentuado das suas linhas, permitindo aos seus adversários muitos remates. Estes disparos surgem com frequência de locais menos favoráveis ou revelam-se inúteis, devido ao amontoado de jogadores a obstruir o caminho entre quem rematou e a baliza. O Burnley, que esta temporada tem tido bastante sucesso na Premier League, é disso um bom exemplo. O Montpellier, contudo, tem uma abordagem bem diferente.
O toque do treinador
A equipa comandada por Michel Der Zakarian não deixa os seus adversários realizar muitos remates. Nas cinco principais Ligas europeias, apenas 11 formações sofrem menos remates por jogo do que o Montpellier. Dessas, dez participaram na Liga dos Campeões esta temporada – algo expectável, pois sofrer poucos remates é uma característica de equipas dominantes nas suas Ligas, bem como uma maior posse de bola. Mas mais uma vez, o Montpellier também não é como estas formações: possui uma média de posse de bola inferior à maior parte dos emblemas da Ligue 1 e é uma equipa de contra-ataque na maior parte do tempo.[/vc_column_text][vc_table vc_table_theme=”simple”][bg#000000;c#ffffff]Equipa,[align-center;bg#000000;c#ffffff]Golos%20sofridos,[align-center;bg#000000;c#ffffff]Remates%20permitidos,[align-center;bg#000000;c#ffffff]Remates%20permitidos%20(dentro%20da%20%C3%A1rea)|Atl%C3%A9tico%20Madrid,[align-center]0%2C42%20(%231),[align-center]11%2C7%20(%2333),[align-center]6%2C3%20(%2318)|Barcelona,[align-center]0%2C47%20(%232),[align-center]11%2C1%20(%2322),[align-center]6%2C4%20(%2320)|N%C3%A1poles,[align-center]0%2C65%20(%233),[align-center]7%2C4%20(%232),[align-center]3%2C7%20(%231)|[bg#1e73be;c#dda044;b]Montpellier,[align-center;bg#1e73be;c#dda044;b]0%2C67%20(%234),[align-center;bg#1e73be;c#dda044;b]10%2C3%20(%2312),[align-center;bg#1e73be;c#dda044;b]5%2C3%20(%237)|Bayern,[align-center]0%2C67%20(%234),[align-center]9%2C0%20(%237),[align-center]4%2C7%20(%234)|Chelsea,[align-center]0%2C68%20(%236),[align-center]9%2C8%20(%2311),[align-center]5%2C6%20(%239)|Man%20Utd,[align-center]0%2C70%20(%237),[align-center]11%2C6%20(%2332),[align-center]7%2C0%20(%2338)|Paris%20SG,[align-center]0%2C71%20(%238),[align-center]9%2C2%20(%238),[align-center]4%2C7%20(%233)|Roma,[align-center]0%2C73%20(%239),[align-center]11%2C8%20(%2335),[align-center]6%2C8%20(%2330)|Man%20City,[align-center]0%2C74%20(%2310),[align-center]6%2C8%20(%231),[align-center]3%2C9%20(%232)[/vc_table]
Médias por jogo para equipas das cinco principais Ligas europeias. Fonte: GoalPoint/Opta
A formação do Sul de França tem usado ultimamente uma linha recuada composta por cinco elementos, com um trio ou uma dupla de médios à frente da sua defesa, para protecção extra na zona central. Este bloco oferece um obstáculo em zona central frontal à baliza de Lecomte, o que obriga os opositores a abrirem o seu jogo. O adversário sente mais dificuldade para encontrar bons locais para alvejar a baliza, sem oposição. O treinador moldavo, Zakarian, construiu uma equipa muito bem organizada, sem grandes fragilidades defensivas. Trata-se de uma equipa sólida pelo ar, que falha uma pequena quantidade de desarmes e comete menos faltas do que a maioria das outras equipas. Isto permite-lhes evitar os perigos dos lances de bola parada, uma das principais armas de muitas equipas.

Caso se sinta céptico, saiba que o Montpellier tem sido incrivelmente sólido, mesmo até frente aos melhores ataques da Liga francesa. Em cinco jogos frente a PSG, Lyon, Mónaco e Marselha – as quatro equipas mais concretizadoras da Ligue 1 –, o Montpellier empatou com todos eles e só sofreu dois golos (um deles de grande penalidades).
Outras das características desta equipa é a de que muitos dos seus jogadores mais recuados são dotados tecnicamente. Não só este é um facto pouco habitual numa equipa mais modesta, como é muito útil para as transições e para sair de apertos no seu próprio meio-campo. O Montpellier ganha uma grande quantidade de faltas (15,3, o máximo na sua Liga), e muito poucas em zonas mais adiantadas do terreno – não é raro ver os seus defesas ganharem faltas quando os adversários pressionam bem à frente no terreno de jogo. A maior parte da linha recuada do Montpellier está entre os defesas que mais vezes são carregados em falta na Liga gaulesa.
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Jogadores a seguir
A confiança na posse da bola é uma característica fundamental na hora de ambicionar uma transferência para uma equipa de maior dimensão e alguns jogadores do Montpellier têm essa qualidade. Nordi Mukiele, de 20 anos, é o que mais atenção tem despertado, com clubes como o Benfica e até mesmo o Manchester City supostamente interessados. O jovem iniciou a época a lateral-direito, mas desde então tem ocupado zonas mais interiores, na condição de defesa-central do lado direito, e tem estado verdadeiramente impressionante. Um dos mais completos defesas em prova, Mukiele combina capacidade física com qualidade técnica, e tem tudo o que é preciso para desempenhar este papel com competência. No entanto, é natural que Nordi acabe por assumir-se como defesa-central numa grande equipa.

Ambos os laterais merecem também atenção. Roussillon na esquerda e Ruben Aguilar na direita têm 25 e 24 anos, respectivamente, e possuem números impressionantes – em particular do ponto de vista ofensivo –, contribuindo com um número de dribles muito acima da média e passes de finalização a partir das alas – algo ainda mais relevante numa equipa de menor qualidade nos momentos ofensivos. Provavelmente a qualidade de ambos não lhes permitirá representar, no futuro, uma das grandes equipas europeias, mas poderão ainda dar um salto para um patamar mais elevado. Ao contratar Ambroise Oyongo ao Montreal Impact (MLS), o Montpellier poderá estar já a preparar a saída de Roussillon, que soma já dois golos e três assistências na Liga.
Pelo centro, Ellyes Skhiri é um médio de 22 anos que impressiona pela capacidade de recuperar a bola e, com a sua idade, poderá ser ainda trabalhado para conseguir um pouco mais do que isso. Na retaguarda, o português Pedro Mendes – antigo jogador do Sporting e do Real Madrid – parece finalmente ter encontrado uma equipa para jogar regularmente, após a transferência do Rennes, no Verão, por €1M de euros. As dificuldades da equipa estão lá à frente, onde sente problemas em converter em golo as poucas oportunidades que cria.
O estilo de jogo pode não agradar a todos, mas o Montpellier é uma das equipas mais interessantes de acompanhar esta temporada e, certamente, merece ser vista e observada por clubes de maior dimensão.