HIS name is Carvalho. Fábio Carvalho. O prodígio de 19 anos está em grande e é um dos dínamos do Fulham, líder absoluto do Championship e que caminha a passos largos para regressar na próxima temporada ao convívio da elite da Premier League.
Esmiuçando os número do “teenager”, constamos que soma 11 acções directas de golo – oito “tentos” e três assistências, mas essa é a face mais visível de um lote de valências que fazem do luso-inglês um dos jogadores mais cobiçados da segunda divisão de Inglaterra.

Olhemos de imediato para algumas das estatísticas que elevam Fábio ao estatuto de craque do Championship. O torreense, que esteve afastado da competição cerca de nove semanas devido a uma leão num pé, é entre jogadores com mais de 1250 minutos:
– O 16º em remates por 90m (2,7), mas o terceiro se contarmos apenas com médios-ofensivos;
– O oitavo no que diz respeito aos remates de bola corrida (2,5), máximo entre médios-ofensivos;
– Sexto em passes para finalização (2,2), todos de bola corrida, variável esta em que é líder;
– Regista 2,2 conduções aproximativas por 90m, 21º valor mais alto, segundo entre médios-ofensivos;
– Tem 3,3 tentativas de drible, 21º valor mais alto, terceiro entre médios-ofensivos;
– Soma 1,7 dribles eficazes, segundo entre médios-ofensivos.
Barcelona, Real Madrid, West Ham, Liverpool, FC Porto. É longo o rol de “tubarões” que têm o anzol apontado a Fábio Carvalho. Aos 19 anos, o criativo está em final de contrato com o Fulham, mas se depender de Marco Silva, a estadia em Craven Cottage é para prolongar.
“Não é uma surpresa para mim que muitos clubes estejam interessados ou estejam a ser associados ao Fábio, estamos a falar de um jovem jogador com muito talento. Está completamente fora dos planos que o Fábio saia nesta janela. Temos todos o mesmo foco: acabar a época com o maior sucesso possível. Começámos com um plantel unido e vamos até ao fim. Os jogadores mais importantes do plantel e aqueles que jogam a seguir a eles, esses vão estar connosco até ao fim da época. O Fábio é um deles”, disse esta semana o treinador português.
“Apercebi-me da qualidade que ele tem. Demos-lhe uma oportunidade e ele está a ter um desempenho muito bom. Estou a tentar que ele renove desde o meu primeiro dia. Sei que a situação não é fácil para o clube, mas infelizmente ele está no último ano de contrato, é a realidade”, acrescentou o manager dos “cottagers”.
Após passagens pelos escalões de formação do Benfica, onde esteve até aos dez anos, Fábio acompanhou a família que emigrou para “Terras de Sua Majestade” e é por lá que tem patenteado toda a qualidade que tem. Ingressou na “cantera” do Fulham em 2014, aos 15 anos já brilhava nos sub-18 e assinou o primeiro vínculo profissional em 2020.
Pick. That. Out! 😳
Fabio Carvalho's stunning strike inspired #FFCU18s to a win over @LCFC.
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— Fulham Football Club (@FulhamFC) March 6, 2019
“Fábio é um talento à solta!”
Estamos na presença, então, de um caso sério? Óscar Botelho explica-nos quem é este talento de 1,70m e 58 quilos.
“O Fábio é um talento à solta, que Marco Silva e a equipa técnica dele conseguem aproveitar em prol de um belo colectivo que tem feito bons resultados, com muitas goleadas, mas principalmente encanta as pessoas que vêem a equipa jogar. O Fábio é um jogador que actua com o 28 nas costas e neste caso poderemos dizer que 2 + 8 é igual a 10”, começou por dizer o analista e comentador de futebol da Eleven Sports, que detalha as características do mago dos “Lilywhites”.
“É um médio ofensivo que tem uma excelente relação com o golo, com a bola, é um atleta que dá uma grande profundidade em posse e tal como a equipa é muito influente nas transicções, é um desequilibrador nato, nota-se que se diverte a jogar, mas principalmente está muito bem encaixado na forma de jogar do Fulham e dentro daquilo que é o modelo habitual de Marco Silva, uma equipa que tem sempre uma vertente ofensiva”, sublinha, realçando o papel que o técnico português tem tido.
“Aquilo que seria ideal para o Fábio era se permanecesse sobre o comando de Marco Silva, que percebeu as características dele para colocá-lo em prol desse mesmo colectivo. Outro exemplo é o Mitrovic, que acaba por ficar muito por influência do Marco, e é esse um dos méritos dos treinadores, potenciar as características individuais de um jogador”.
O habitual 1x4x2x3x1 delineado pelo antigo treinador do Estoril e Sporting gira em torno do prodígio e do goleador Mitrovic – 28 golos em 26 jogos -, dupla endiabrada. Actuando nas costas do ponta-de-lança, tem total liberdade de movimentos, deambulando pelos três corredores e espalhando “veneno” na zona entrelinhas, qual “9,5”, que já carimbou três assistências e oito golos assinados em 18 jornadas. O Fulham está embalado, lidera o Championship, com 58 pontos – menos um jogo – e 74 tentos assinados.
“O crescimento do Fábio tem que ver, também, com as zonas que tem pisado, ou seja, mais do que corredor central, é um jogador que descai sobre as alas e consegue desequilibrar. Quem vê o Fábio jogar naturalmente se deixa encantar pelo futebol dele. O Fábio Carvalho é parecido com o Fábio Carvalho, acho que o que ele tem, e é o que me atrai mais nele, é que ainda tem aquele futebol de rua, ou seja, o talento e o desequilíbrio nato colocado em prol do colectivo. Consegue trazer esse futebol de rua, mas enquadrado numa equipa, num ‘puzzle’ táctico montado pelo Marco Silva e daí tantos clubes de nomeada estarem atrás dele, porque consegue ter aquelas características que já vão rareando, às vezes os jogadores já estão muito moldados, formatados. É um jogador com um raio de acção muito alargado, vem muitas vezes de fora para dentro, mas tem liberdade, é aquele vagabundo do meio-campo ofensivo, que tem a capacidade de ligar o sector intermédio ao atacante”. Para o analista, o “algodão” de Carvalho, de facto, não engana.
“Pela leitura de jogo que ele tem, pelos espaços que ele cria, pelos espaços que ele ataca, é um jogador que não engana na forma como toca na bola, como se desloca. É um jogador que só pode olhar para cima. A carreira dele será feita no topo do futebol inglês e mundial, porque tem características para isso”, atira.
E conseguirá o Fulham assegurar a permanência do virtuoso estratega na temporada que se avizinha, tendo em conta o forte assédio de que tem sido alvo? Caso saia, que escolha bem o próximo emblema que irá representar.
“Num mundo ideal, o melhor seria permanecer no Fulham, mas já sabemos que no mundo real nem sempre isso é norma no futebol, porque a parte financeira tem uma grande influência naquilo que é a carreira de um jogador. Mas se não permanecer no Fulham, que se mude para uma equipa que tenha o modelo de jogo que potencie as suas características. Isto é, uma equipa de posse, que consiga ter um modelo de jogo associativo, que pise muito o meio-campo ofensivo, que ele tenha muita bola, porque nota-se claramente que é um jogador que faz a diferença nesse sentido”, aconselha Óscar Botelho, que ainda vê coisas a burilar neste fantasista.
“Ele pode ser o que quiser no futuro, pode ser um médio-ofensivo, descair sobre uma das alas. Não há nenhum jogador perfeito e até pela idade dele, o mais difícil será manter-se neste patamar, ele pode ser aquilo que sonhar, mas isso depende muito do treinador que encontrar, da equipa, do balneário. Terá de manter a regularidade e evoluir. Nota-se uma grande evolução ao longo da época em termos defensivos e poderá também trabalhar a vertente física, sabemos que isso é fundamental, sem perder o talento e a natural forma de jogar”.
O camisola 28 do conjunto de Londres nasceu em Torres Vedras, tem dupla nacionalidade, mas é as selecções mais jovens inglesas que tem representado, contabilizando passagens pelos sub-15, 16, 17 e 18. Ao todo soma 29 internacionalizações e dois golos.
“Ele pode sonhar com aquilo que quiser no futebol e, naturalmente, os portugueses podem sonhar que ele um dia possa vestir a camisola da nossa Selecção. E isso dependerá muito de qual será a decisão dele. Resta-nos apreciar o presente.”
Sábias palavras, Óscar. “Ladies and Gentlemen, enjoy”, como quem diz, desfrutem das diabruras deste mágico…