Fábio Carvalho, um talento à solta em Craven Cottage

-

HIS name is Carvalho. Fábio Carvalho. O prodígio de 19 anos está em grande e é um dos dínamos do Fulham, líder absoluto do Championship e que caminha a passos largos para regressar na próxima temporada ao convívio da elite da Premier League.

Esmiuçando os número do “teenager”, constamos que soma 11 acções directas de golo – oito “tentos” e três assistências, mas essa é a face mais visível de um lote de valências que fazem do luso-inglês um dos jogadores mais cobiçados da segunda divisão de Inglaterra.

GoalPoint-Fábio-Carvalho-Fulham-StatCard-EFL-Championship-202122-27.01.2021-1-infog
Clique para ampliar

Olhemos de imediato para algumas das estatísticas que elevam Fábio ao estatuto de craque do Championship. O torreense, que esteve afastado da competição cerca de nove semanas devido a uma leão num pé, é entre jogadores com mais de 1250 minutos:

– O 16º em remates por 90m (2,7), mas o terceiro se contarmos apenas com médios-ofensivos;
– O oitavo no que diz respeito aos remates de bola corrida (2,5), máximo entre médios-ofensivos;
– Sexto em passes para finalização (2,2), todos de bola corrida, variável esta em que é líder;
– Regista 2,2 conduções aproximativas por 90m, 21º valor mais alto, segundo entre médios-ofensivos;
– Tem 3,3 tentativas de drible, 21º valor mais alto, terceiro entre médios-ofensivos;
– Soma 1,7 dribles eficazes, segundo entre médios-ofensivos.

Barcelona, Real Madrid, West Ham, Liverpool, FC Porto. É longo o rol de “tubarões” que têm o anzol apontado a Fábio Carvalho. Aos 19 anos, o criativo está em final de contrato com o Fulham, mas se depender de Marco Silva, a estadia em Craven Cottage é para prolongar.

“Não é uma surpresa para mim que muitos clubes estejam interessados ou estejam a ser associados ao Fábio, estamos a falar de um jovem jogador com muito talento. Está completamente fora dos planos que o Fábio saia nesta janela. Temos todos o mesmo foco: acabar a época com o maior sucesso possível. Começámos com um plantel unido e vamos até ao fim. Os jogadores mais importantes do plantel e aqueles que jogam a seguir a eles, esses vão estar connosco até ao fim da época. O Fábio é um deles”, disse esta semana o treinador português.

“Apercebi-me da qualidade que ele tem. Demos-lhe uma oportunidade e ele está a ter um desempenho muito bom. Estou a tentar que ele renove desde o meu primeiro dia. Sei que a situação não é fácil para o clube, mas infelizmente ele está no último ano de contrato, é a realidade”, acrescentou o manager dos “cottagers”.

Após passagens pelos escalões de formação do Benfica, onde esteve até aos dez anos, Fábio acompanhou a família que emigrou para “Terras de Sua Majestade” e é por lá que tem patenteado toda a qualidade que tem. Ingressou na “cantera” do Fulham em 2014, aos 15 anos já brilhava nos sub-18 e assinou o primeiro vínculo profissional em 2020.

“Fábio é um talento à solta!”

Estamos na presença, então, de um caso sério? Óscar Botelho explica-nos quem é este talento de 1,70m e 58 quilos.

“O Fábio é um talento à solta, que Marco Silva e a equipa técnica dele conseguem aproveitar em prol de um belo colectivo que tem feito bons resultados, com muitas goleadas, mas principalmente encanta as pessoas que vêem a equipa jogar. O Fábio é um jogador que actua com o 28 nas costas e neste caso poderemos dizer que 2 + 8 é igual a 10”, começou por dizer o analista e comentador de futebol da Eleven Sports, que detalha as características do mago dos “Lilywhites”.

“É um médio ofensivo que tem uma excelente relação com o golo, com a bola, é um atleta que dá uma grande profundidade em posse e tal como a equipa é muito influente nas transicções, é um desequilibrador nato, nota-se que se diverte a jogar, mas principalmente está muito bem encaixado na forma de jogar do Fulham e dentro daquilo que é o modelo habitual de Marco Silva, uma equipa que tem sempre uma vertente ofensiva”, sublinha, realçando o papel que o técnico português tem tido.

“Aquilo que seria ideal para o Fábio era se permanecesse sobre o comando de Marco Silva, que percebeu as características dele para colocá-lo em prol desse mesmo colectivo. Outro exemplo é o Mitrovic, que acaba por ficar muito por influência do Marco, e é esse um dos méritos dos treinadores, potenciar as características individuais de um jogador”.

O habitual 1x4x2x3x1 delineado pelo antigo treinador do Estoril e Sporting gira em torno do prodígio e do goleador Mitrovic – 28 golos em 26 jogos -, dupla endiabrada. Actuando nas costas do ponta-de-lança, tem total liberdade de movimentos, deambulando pelos três corredores e espalhando “veneno” na zona entrelinhas, qual “9,5”, que já carimbou três assistências e oito golos assinados em 18 jornadas. O Fulham está embalado, lidera o Championship, com 58 pontos – menos um jogo – e 74 tentos assinados.

“O crescimento do Fábio tem que ver, também, com as zonas que tem pisado, ou seja, mais do que corredor central, é um jogador que descai sobre as alas e consegue desequilibrar. Quem vê o Fábio jogar naturalmente se deixa encantar pelo futebol dele. O Fábio Carvalho é parecido com o Fábio Carvalho, acho que o que ele tem, e é o que me atrai mais nele, é que ainda tem aquele futebol de rua, ou seja, o talento e o desequilíbrio nato colocado em prol do colectivo. Consegue trazer esse futebol de rua, mas enquadrado numa equipa, num ‘puzzle’ táctico montado pelo Marco Silva e daí tantos clubes de nomeada estarem atrás dele, porque consegue ter aquelas características que já vão rareando, às vezes os jogadores já estão muito moldados, formatados. É um jogador com um raio de acção muito alargado, vem muitas vezes de fora para dentro, mas tem liberdade, é aquele vagabundo do meio-campo ofensivo, que tem a capacidade de ligar o sector intermédio ao atacante”. Para o analista, o “algodão” de Carvalho, de facto, não engana.

“Pela leitura de jogo que ele tem, pelos espaços que ele cria, pelos espaços que ele ataca, é um jogador que não engana na forma como toca na bola, como se desloca. É um jogador que só pode olhar para cima. A carreira dele será feita no topo do futebol inglês e mundial, porque tem características para isso”, atira.

E conseguirá o Fulham assegurar a permanência do virtuoso estratega na temporada que se avizinha, tendo em conta o forte assédio de que tem sido alvo? Caso saia, que escolha bem o próximo emblema que irá representar.

“Num mundo ideal, o melhor seria permanecer no Fulham, mas já sabemos que no mundo real nem sempre isso é norma no futebol, porque a parte financeira tem uma grande influência naquilo que é a carreira de um jogador. Mas se não permanecer no Fulham, que se mude para uma equipa que tenha o modelo de jogo que potencie as suas características. Isto é, uma equipa de posse, que consiga ter um modelo de jogo associativo, que pise muito o meio-campo ofensivo, que ele tenha muita bola, porque nota-se claramente que é um jogador que faz a diferença nesse sentido”, aconselha Óscar Botelho, que ainda vê coisas a burilar neste fantasista.

“Ele pode ser o que quiser no futuro, pode ser um médio-ofensivo, descair sobre uma das alas. Não há nenhum jogador perfeito e até pela idade dele, o mais difícil será manter-se neste patamar, ele pode ser aquilo que sonhar, mas isso depende muito do treinador que encontrar, da equipa, do balneário. Terá de manter a regularidade e evoluir. Nota-se uma grande evolução ao longo da época em termos defensivos e poderá também trabalhar a vertente física, sabemos que isso é fundamental, sem perder o talento e a natural forma de jogar”.

O camisola 28 do conjunto de Londres nasceu em Torres Vedras, tem dupla nacionalidade, mas é as selecções mais jovens inglesas que tem representado, contabilizando passagens pelos sub-15, 16, 17 e 18. Ao todo soma 29 internacionalizações e dois golos.

“Ele pode sonhar com aquilo que quiser no futebol e, naturalmente, os portugueses podem sonhar que ele um dia possa vestir a camisola da nossa Selecção. E isso dependerá muito de qual será a decisão dele. Resta-nos apreciar o presente.”

Sábias palavras, Óscar. “Ladies and Gentlemen, enjoy”, como quem diz, desfrutem das diabruras deste mágico…

Queres conhecer outros GoalPoint Focus? Clica neste link.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.