FIFA 23: a review (e o rating) do Antunes

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Estava eu entretido a comer nachos e a fazer binge watching do Ted Lasso quando me entra um dos patrõezinhos na cave e atira: “Antunes, este ano fazes tu a análise do novo FIFA“. Ainda questionei o porquê, mas tive de meter a viola no saco face à resposta: “Porque estou ocupado e além disso a Playstation 5 que o Messi te mandou, à custa dos 10.0 que lhe dás por tudo e por nada, tem de servir para alguma coisa“. Planos metidos na gaveta, incluindo um passeio dominical com a Célia (namoramos há 5 anos, planeava contar-lhe este domingo). Venha o FIFA. E assim foi, o fim-de-semana inteiro. Eis o que tenho a dizer sobre o último FIFA da minha vida.

Calma, não te assustes. Caso não saibas a EA não vai abandonar a franquia, apenas irá mudar de nome (para EA Sports FC) a partir da próxima edição, após o “divórcio amigável” com a FIFA. Esperando que tal mudança seja acompanhada de um conjunto de novidades impactantes no jogo (há que ser optimista), analiso então o que achei do “último FIFA”, dividindo isto em três pontos: o que considero bom, o que podia ser melhor e, por fim, algumas ideias/sugestões para te divertires com este FIFA, caso te identifiques com os hábitos antunianos de jogo que irei confessar.

O lado bom do FIFA 23

Já fui jogador de 600 jogos por ano no Ultimate. Sim, fui desses, mas isso foi há cerca de uma década. Hoje em dia só entro no UT para espreitar logo não contes com muita prosa sobre o tema, mesmo sabendo que (fruto da margem que gera) é o grande foco da EA e provavelmente a razão pela qual alguns modos de jogo não são melhorados como os seus fãs gostariam. Ainda assim sobram vários pontos de elogio neste FIFA, mais ou menos transversais a todos os modos de jogo. Eis o que mais gostei de confirmar (por agora), maioritariamente centrados na jogabilidade.

Limite à velocidade, atenção à defesa

Sempre que constato que o jogo está mais lento fico animado, pois isso pode significar maior realismo e menos “arcade”. O jogo está, de facto, menos frenético e gosto disso, embora (como em vários outros aspectos que irei focar) aguarde para perceber se é uma opção convicta ou algo que será “corrigido” com os patches que a EA costuma disponibilizar e que acabam por alterar (por vezes muito e nem sempre para melhor) o jogo originalmente lançado. À menor velocidade surge associada a maior dificuldade em travar o adversário defensivamente (e com novas opções a descobrir), esta última uma “novidade” habitual nas últimas edições do FIFA, a exigir sempre nova habituação.

Menos circo freestyle

O FIFA é um dos grandes culpados por muitos adeptos pensarem que um drible é a mesma coisa que uma finta. Uma finta é uma finta, um gesto técnico que visa ludibriar um adversário. Já um drible é o acto de ultrapassar o oponente, seja com recurso a uma finta ou a uma mudança de velocidade/direcção. A aparente maior dificuldade em driblar um adversário, em especial com recurso às “fintas” que caracterizam a série FIFA, é outra boa notícia para quem valoriza o realismo e, sobretudo, para quem, como eu, se recorda de um showdown entre freestylers e não de jogadores de futebol, quando observa as fases finais dos grandes torneios EA. Mais futebol, circo q.b? Gosto disso.

O “novo” sistema de bolas paradas

Outra mudança bem-vinda. O sistema de cobrança de livres e cantos exige nova aprendizagem, mas parece prometer maior controlo na direcção, força e execução dos lances, o que só pode resultar em maior satisfação quando conseguimos finalmente colocar uma bola na cabeça do nosso colega ou no fundo da gaveta. 

O regresso das “bujas”

O regresso do verdadeiro power-shot fará os mais veteranos (como eu) lembrar-se dos FIFAs do início da década passada. O facto de ser uma opção inteiramente manual e não ser isenta de risco (o timing de preparação do remate evita que seja um recurso aplicável a torto e a direito) faz desta provavelmente a alteração que alimentará mais replays nas redes, ao longo do tempo de vida do FIFA 23.

Os replays à Antunes

Os novos replays hipermotion, com inclusão de dados estatísticos (inclusive de Expected Goals) são naturalmente algo que gostei muito de descobrir. Sendo certo que o jogo não apresenta uma evolução gráfica notória (para quando? Talvez no nascimento do primeiro EA Sports FC, esperamos), notam-se melhorias na apresentação de jogadores, cut scenes e outros detalhes visuais secundários que acabam por melhorar a experiência, mesmo que não a transformem.

O que podia ser melhor no último FIFA de sempre

Modo carreira: queremos mais novidades e menos bugs

O modo carreira é claramente o meu favorito e só tenho pena de não permitir, ainda hoje, uma versão online que me deixasse jogar com amigos. O tempo que hoje não gasto em Ultimate Team gosto de o investir no modo carreira, com opções muito peculiares (já lá irei). O meu modo predilecto volta a não recolher grandes inovações e chega (como habitualmente) com alguns bugs, a corrigir nos primeiros patches. Uma desilusão pouco surpreendente, sabendo-se o foco que a EA coloca assente no “sorve vidas” que é o Ultimate Team, mas já me calava com esse choro.

Uma verdadeira evolução gráfica

Falar é fácil e há que recordar que, apesar dos jogos já não serem iguais, a EA continua a ter de lançar um jogo para a nova geração de consolas sem ostracizar os milhões de utilizadores que se mantêm (também por falta de stock) na geração anterior. Mas falta ao FIFA um salto visual condizente com a evolução tecnológica que a nova geração trouxe. Estará a coisa guardada para o novo capítulo da franquia, já com um novo nome? Esperemos que sim, embora a “obrigação” comercial de lançar um título novo todos os anos não ajude a inovações realmente diferenciadoras, como podemos encontrar em jogos de outros géneros, que se dão tempo de desenvolvimento suficiente. Ainda assim é difícil perceber porque não foram ainda tentadas novidades tão simples como a evolução meteorológica ao longo de uma partida.

Menos monopólio de desenvolvimento do Ultimate Team …

Já comentei o tema e compreendo-o: o Ultimate faz parte do modelo de negócio do FIFA que, por sua vez, tem de atingir rentabilidades que satisfaçam, não só os accionistas da empresa, como também os muitos parceiros licenciados no jogo, factor que o torna tão completo nesse capítulo. Ainda assim é sempre desapontante ver os restantes modos de jogo passarem ao lado de verdadeiras novidades, como consequência da predominância do Ultimate no desenvolvimento. Já referi o modo carreira, mas os aficionados do Pro Clubs também se queixam e o problema afecta, inclusive, as novidades que parecem boas à primeira vista, mas que rapidamente se percebem terem sido implementadas de forma simples ou incompleta (ex.: a surpresa de encontrar Ted Lasso e o AFC Richmond no jogo para rapidamente perceber que não passa de uma novidade cosmética sem o mais importante: o humor áudio das personagens da famosa série da Apple TV).

… ou pelo menos um UT mais democrático

A importância do modo Ultimate Team é compreensível e não só pelas razões financeiras. É também o modo que apura os participantes nos grandes torneios da EA e, portanto, o ecossistema dos profissionais. Mas nem todos têm ou querem ter o FIFA como um estilo de vida, pelo que não faltam jogadores com saudades do UT de há cinco, seis ou sete anos. A rapidez com que tantos jogadores chegam a equipas de sonho em poucas horas (literalmente, vide o tweet anexo) e o bombardeamento de cartas melhoradas que banalizam os ratings originais fazem ter saudades dos dias em que um jogador de 86 de rating era uma vedeta rara e conquistada arduamente e em que não entrávamos no UT a apanhar com equipas de ícones no primeiro jogo de FUT Rivals.

Dificilmente o tempo volta para trás, mas a simples inclusão de um mecanismo de balanceamento de matching (exemplo: mega-equipas defrontariam mega-equipas, newbies com newbies, maioritariamente) ou até a separação de jogadores pelo número de horas que investem no Ultimate não seriam mal pensados, numa lógica de permitir que todos os FIFeiros apreciem o seu UT.

Como te podes divertir com o FIFA (se foges do Ultimate)

Se não só jogas FIFA como passas horas no Ultimate, estas sugestões não são provavelmente para ti. Se, por outro lado, não ligas muito ao Ultimate, mas gostas de uma sessão de FIFA, há formas divertidas de explorares o jogo e te divertires, à moda antiga. Aqui ficam três ideias, umas mais óbvias, outras nem por isso.

Marca um meeting com os teus amigos

Sim, o FIFA tem online. Mas esquece isso. Combina com aquele grupo de amigos um “meeting” num sábado à tarde. Organiza um torneio/campeonato com as regras que quiseres (exemplo: só podem escolher equipas com menos de 5 estrelas, para evitar as de sempre) e aproveita para jogar FIFA à moda antiga e experimentares um pouco de interacção humana, é giro. A esta altura já percebeste que isto tem tudo a ver menos com FIFA, mas é um bom motivo. A vida é curta, joga com os amigos, o FIFA é uma boa desculpa.

Joga em modo “roleta russa”

Farto de 1v1 sempre com as mesmas equipas contra aquele amigo que passa lá em casa ou te desafia para uma joga nocturna? Joga o modo “roleta russa”. Inicia uma partida 1 vs 1 simples e faz random consecutivo na Liga, Divisão e Clube definidos pelo jogo. Umas vezes vais aziar com o sorteio, outras vais sorrir, mas a diversão está garantida, bem como o gozo de descobrir e experimentar equipas e jogadores votados ao desprezo em qualquer outro modo de jogo, pelos jogadores humanos. E o que te pode dar mais gozo do que aproveitares a pressão colocada aos ombros do teu adversário, com uma equipa de cinco estrelas nas mãos, para o humilhar com um elenco de 3,5 estrelas? 

Faz um modo carreira “academia”

Existem vários youtubers a partilhar as suas histórias neste modo e basta observar um ou dois capítulos para perceber porquê. Escolhe um clube dos confins das divisões inglesa ou germânica ou cria o teu próprio emblema e troca-o com um clube da divisão mais baixa do campeonato que quiseres disputar. A seguir coloca todos os teus jogadores à venda (os que conseguires) pois o objectivo é simples: construir um plantel só com jogadores recrutados pelos teus olheiros da academia. O processo será gradual, mas ao fim de uma ou duas épocas terás um elenco todo ele “da formação”, com jogadores criados pelo FIFA, muitas vezes hilariantes ou muito divertidos de usar. Mercado? Esquece, a não ser para contratação de jovens entre 16 a 18 anos, formados nos outros clubes ou livres no mercado. Tenta conquistar o mundo do Futebol com esta estratégia e verás que acabarás a aventura a conhecer os teus craques fictícios tão bem ou melhor do que conheces Mbappé, Messi ou Cristiano Ronaldo. É complicado? É, dependendo do grau de dificuldade e convém escolher ou criar um clube cujas exigências da Direcção sejam compatíveis com a estratégia, mas é muito divertido.

Conclusão? Para último FIFA de sempre está muito bom. Os pontos positivos são agradáveis surpresas face ao FIFA 22 e os pontos de melhoria, pese a desilusão, não são propriamente uma novidade. Resta esperar que a grande mudança de imagem da nova encarnação do FIFA traga também mudanças a sério noutras áreas, mas para que isso suceda é preciso a EA descobrir que, à medida que as gerações avançam, também a demografia/hábitos dos FIFeiros mudam e que nem tudo na vida é Ultimate Team. Rating? Dou-lhe um 8,5 pelas coisas boas, com um 9 à espreita quando o modo carreira levar uma volta à séria (wishful thinking).

Antunes
Antuneshttps://goalpoint.pt
É a partir da sua garagem que, reza a lenda, Antunes produz todos os ratings publicados até hoje pela GoalPoint, baseados nos algoritmos que o próprio criou,. Figura para uns lendária, para outros misteriosa, Antunes pode ser visto por vezes entre a Damaia e Odivelas, em dias de pouco nevoeiro, passeando o seu génio outrora cobiçado pela NASA. É actualmente o CRO (Chief Rating Officer) da GoalPoint.