QUAL algodão. Jamal Musiala não engana e é, aos 18 anos, um dos talentos mais entusiasmantes do futebol mundial. Franzino – 66 quilos distribuídos ao longo de um corpo de 1,83m –, mas com virtuosismo para dar e vender, o criativo joga preferencialmente nas costas dos homens mais adiantados do terreno, mas também tem a versatilidade para actuar ora como extremo-esquerdo, potenciando as diagonais para a zona central onde acciona o pé direito, ora como médio-centro, como número “8”, uma espécie de “box-to-box”.
Apesar da tenra idade, já começou a bater recordes e a brilhar com as cores do ainda campeão europeu Bayern Munique. No decurso desta época foi utilizado em 36 partidas oficiais em todas as provas, apontou sete golos, tornou-se no mais jovem a jogar (17 anos e 115 dias diante do Friburgo na época passada), a marcar (17 anos e 205 dias ante o Schalke 04) ao serviço dos bávaros no campeonato germânico, superando um recorde que estava na posse do paraguaio Roque Santa Cruz, e ainda é o atleta mais precoce a fazer o gosto ao pé na Liga dos Campeões (17 anos e 362 dias), quando assinou um dos quatro “tentos com que o Bayern cilindrou a Lázio (1-4), num duelo a contar para a 1.ª mão dos oitavos-de-final da prova.
17 years and 115 days 👶
— 🏆CHAMPIONS🏆 (@FCBayernEN) June 20, 2020
Jamal #Musiala is our youngest ever #Bundesliga debutant 👏@FCBjuniorteam #FCBSCF pic.twitter.com/MSQn2JlItU
Rápido, vertical – a fazer recordar o colega Thomas Müller – veloz, criativo, tem faro para o golo, maturidade táctica acima da idade que apresenta no “cartão do cidadão” e é senhor de uma aceleração digna de um velocista dos 100 metros –, Jamal tem ganho cada vez mais protagonismo no gigante da Baviera e respondido com “performances” de encher a vista. Ora vejamos. Na ronda 28 foi quem ajudou a equipa a empatar frente ao União de Berlim. Além desse tiro certeiro, cinco passes ofensivos valiosos, acertou seis dos dez dribles tentados e completou 88% dos passes realizados.
[ As brilhantes exibições do jovem Musiala em três jornadas consecutivas da Bundesliga ]
Na jornada seguinte bisou na suada vitória diante do Wolfsburgo, acertou no alvo os três remates que fez, criou uma ocasião clara de golo, orquestrou quatro passes ofensivos valiosos e ainda foi importante nas missões defensivas, com três acções no meio-campo contrário e cinco passes bloqueadas. Já frente ao Bayer Leverkusen voltou a ser uma dor de cabeça, amealhando: dois passes para finalização, oito passes ofensivos valiosos, foi eficaz em seis dos oito dribles tentados, sofreu três faltas, assinou quatro intercepções, oito bolas recuperadas e seis acções defensivas no meio-campo do adversário, números que demonstram que, além de desequilibrar no ataque, é também uma muleta importante no processo defensivo.
“O miúdo tem gelo no sangue. Se falares com ele antes dos jogos parece sempre concentrado, calmo e reservado”, sintetizou o técnico da equipa B dos bávaros, Sebastian Hoeneß.
Em suma, o “teenager” tem até ao agora, nas 25 jornadas em que foi opção de Hansi Flick, uma assistência, acumulando uma excelente média de 2,3 remates de bola corrida a cada 90 minutos, quase cinco dribles (4,6) realizados com êxito, sofre uma média de 2,2 faltas, faz 3,0 acções defensivas no meio-campo contrário e 5,4 passes ofensivos valiosos. Apesar de apenas contabilizar 862 minutos de utilização, tem seis golos marcados, o que equivalente a 0,6 tentos por cada 90 minutos.
[ O desempenho acumulado de Musiala na Liga alemã 2020/21 ]

Na Bundesliga, entre os jogadores com pelo menos 862 minutos (os mesmos do que Jamal), o jovem bávaro é o que regista mais tentativas de drible (7,3), mais tentativas no último terço (4,8), aquele que soma mais dribles eficazes (4,6) e também mais completos no último terço, em ambos os casos correspondendo a 63% de acerto, e é o décimo jogador da Bundesliga em passes ofensivos valiosos (5,4). Extraordinariamente, é o jogador com estes parâmetros de minutos com mais acções defensivas no meio-campo contrário (3,0) e é o que soma mais acções defensivas no último terço (1,7), ajudando sobremaneira à pressão em zonas adiantadas do terreno.
Filho de mãe alemã e pai nigeriano, Musiala nasceu em Fulda, região que fica a norte de Frankfurt, deu os primeiros passos no TSV Lehnerz e aos sete anos emigrou com a família para terras britânicas. Jogou primeiro no Southampton, antes de ter chamado a atenção do Chelsea. Nos “blues”, o talento emergiu e foi queimando etapas, por exemplo, com apenas 15 anos, dois meses e 13 dias, estreou-se na equipa de juniores (sub-18), de acordo com dados do “site” oficial da Bundesliga. Após ter feito todo o trajecto nas selecções mais jovens inglesas – sub-15, sub-16, sub-17 e sub-21 e 22 internacionalizações no total -, foi “pescado” pela Alemanha (sub-16), sendo depois novamente chamado pela equipa de sub-17 inglesa. No meio deste “vai e vem”, foi resgatado, aos 16 anos, pelo Bayern ao Chelsea, num “pacote” que também incluía Bright Arrey-Mbi. As duas coqueluches chegaram a custo-zero.
Em Fevereiro deste ano, acabadinho de fazer 18 anos, o prodígio rubricou contrato com o eneacampeão alemão até 30 de Junho de 2026, optou por escolher a “Mannschaft” em detrimento da selecção dos “Três Leões” e deverá ser um dos 26 eleitos por Joachim Löw a marcar presença na fase final do Euro 2020 que arranca a 11 de Junho deste ano de 2021. A estreia ocorreu a 25 de Março na vitória contra a Islândia.
“O que é melhor para o meu futuro? Onde tenho mais oportunidades de jogar? Acabei por ir pelo feeling que me dizia que o mais certo era escolher o país onde nasci. Não foi uma decisão fácil. No final de contas, simplesmente ouvi os meus sentimentos e a decisão foi 100% correcta. Tenho um coração alemão e outro inglês. Ambos continuarão a bater. A Alemanha é o país onde nasci e onde comecei a jogar futebol, mas cresci em Inglaterra e ainda tenho muitos amigos lá”, explicou ao portal The Athletic.