Dezembro foi um mês “negro” para o Benfica, em especial no confronto directo com os seus adversários directos pelos títulos, Porto e Sporting. Mas nem sempre os desastres colectivos invalidam o brilhantismo individual daqueles que, pelo seu desempenho, ajudam até a atenuar uma queda ainda maior dos seus emblemas. É esse o caso do Jogador do Mês GoalPoint de Dezembro da Liga Bwin, Darwin Nuñez, uma eleição que reconhecemos polémica, fruto do contexto global do Benfica, mas cujo fundamento estatístico ficará bem claro, nas próximas linhas.
É verdade que na jornada 13, na recepção ao Sporting, o ponta-de-lança passou um pouco ao lado do jogo, mas seguiram-se duas exibições extraordinárias nas rondas 14 e 15, e na 16 foi “poupado” (lesão) ao desaire benfiquista no Estádio do Dragão ante o FC Porto. Nos três jogos em que participou, os seus feitos foram de tal monta que o prémio mensal lhe assenta bem, suplantando a concorrência de outros futebolistas – com mais de 240 minutos disputados e que também viveram um último mês de 2021 de grande qualidade.

No período em análise, Darwin foi o melhor marcador da Liga, com cinco golos, mais um que os dois maiores goleadores seguintes em Dezembro, o “leão” Paulinho e o pacense Denilson Júnior, ambos com quatro tentos. Esta é a fase mais visível do desempenho do uruguaio de 22 anos, que arrasou Famalicão e Marítimo em jornadas consecutivas – antes da dupla debacle benfiquista ante o Porto, na Taça e no campeonato -, mas há outros dados que apontam para uma eficácia ofensiva pouco vista na Liga portuguesa, por parte do uruguaio que este ano trocou a propensão para as assistências pelo que motivou a sua contratação: os golos.
Duas notas acima de 9.0
O jogo na Luz com o Sporting foi para esquecer, com um remate ao ferro e uma ocasião flagrante criada a serem o mais relevante numa exibição individual esvaziada pela impotência colectiva em fazer frente aos “leões”. Mas depois vieram dois jogos de autêntico brilhantismo. Na jornada 14, Darwin fez um “hat-trick” na visita ao Famalicão, três golos apontados nos únicos três remates que realizou na partida. Darwin foi o MVP dessa partida, com um 9.1, a mesma nota que alcançou na jornada seguinte.
Na recepção ao Marítimo, o atacante bisou em seis remates, três enquadrados, sendo também importante no passe (três para finalização), no drible (quatro completos em cinco) e nas conduções aproximativas, algo em que é exímio. Só não voltou a ser o melhor em campo porque, nessa partida, Rafa Silva excedeu tudo e todos e assinou o primeiro 10.0 da época na Liga lusa. Ainda assim, o que Darwin fez nestas duas jornadas, mais a ausência no “clássico”, garantiu-lhe não só os minutos necessários (245) para entrar nestas contas, como suplantar estatisticamente os rivais pela eleição, cujos nomes ficarão mais claros na publicação do “onze” mensal, de seguida.
Tremenda eficácia de remate
O que mais salta à vista é a “letalidade” que Darwin apresentou nestas rondas. Os cinco golos que marcou ficaram concentrados em duas partidas e foram consequência de uma grande qualidade de remate, como podemos constatar pelo mapa abaixo. O uruguaio não precisou de muito para fazer abanar as redes contrárias.
[ Os 10 remates de Darwin em Dezembro, 6 enquadrados, 5 deram golo (a amarelo) ]

Ninguém marcou mais do que Darwin e este fê-lo convertendo 50% dos remates que realizou, percentagem mais alta entre futebolistas com mais de um disparo feito nesta fase. O ponta-de-lança contribuiu para 55,6% de todos os golos marcados pelo Benfica nesta fase consigo em campo, o que não é dizer pouco, tendo em conta que não realizou qualquer assistência. Porém não foi por falta de tentativas, pois terminou Dezembro com uma média de 1,5 passes para finalização por 90 minutos e 0,4 ocasiões flagrantes criadas.
Quanto ao drible, foi o ponta-de-lança que mais vezes o tentou por 90 minutos (5,1) e o que teve mais sucesso neste gesto (2,9), correspondendo a 57,1% de sucesso – 2,9 tentados no último terço, 1,8 concluídos, também valores mais elevados de Dezembro entre jogadores da mesma posição. Números que se explicam em grande parte pelo estilo de jogo e posicionamento que assumiu até esta altura – e que pode mudar no futuro, uma vez que estes jogos aconteceram ainda com Jorge Jesus ao leme da equipa “encarnada”.
[ Acções com bola de Darwin em Dezembro (esq.) vs conduções aproximativas, dribles e faltas sofridas na Liga, época 21/22 (dta.) ]
Darwin foi usado por Jesus em duas posições de ataque, embora com liberdade suficiente para deambular e criar movimentos de ruptura, com e sem bola, em diversas zonas. No 3-4-3 usado até à 15ª jornada, quando não jogou no eixo de ataque, o uruguaio surgiu quase sempre no corredor esquerdo, a explorar a profundidade ou na condução, algo que se nota pelas acções com bola no mapa da esquerda, média de 38,2 por 90 minutos nos 245 em que esteve em campo em Dezembro. Foi deste lado que arrancou as 2,6 conduções aproximativas nesta fase, quarto valor mais alto entre todas as posições.
Por falar em conduções aproximativas – linhas tracejadas que mostram redução de distância para a baliza em pelo menos 25% e pelo menos dez metros -, o mapa da direita mostra todas as 26 que Darwin realizou esta temporada na Liga portuguesa (2,2, máximo entre pontas-de-lança), quase sempre nas alas, na esmagadora maioria pelo lado canhoto. Daí, voltando ao mapa dos golos, estes terem surgido todos, excepto um, do lado esquerdo.
Época (individualmente) bem melhor que a anterior
Darwin Núñez é, neste momento, o melhor marcador da Liga Bwin, com 13 golos, registando duas assistências, pelo que está a mostrar uma face bem diferente da que patenteou em 2020/21, época durante a qual valorizou-se mais no passe, com nove assistências e somente seis golos. O uruguaio tem, assim, mais do dobro dos tentos marcados na temporada transacta e ainda esta vai a meio.
Com 3,6 remates a cada 90 minutos, o atacante é o quinto mais rematador desta Liga, o mesmo acontecendo com os disparos de bola corrida (3,2), variável em que está a mostrar uma melhoria em relação a 2020/21. E a competência na hora de finalização também testemunhou um “upgrade”, com 62% de ocasiões flagrantes convertidas esta época, contra 35% na anterior. Números que explicam a veia goleadora do jovem jogador.
Parabéns Darwin!
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Notas metodológicas:
- O GoalPoint Rating mensal é atribuído com base no desempenho consolidado de cada jogador no somatório dos minutos disputados ao longo do período em análise e não sobre a média de cada rating que lhe é atribuído em cada jogo.
- Os dados estatísticos de cada partida são auditados, até 48 horas após o término do jogo, pela Opta, o nosso provedor e parceiro estatístico. Tal revisão, que visa garantir a qualidade e fiabilidade para fins profissionais (vide mais informação em GoalPoint Pro), tem impacto nos dados de desempenho agregados dos jogadores e, consequentemente, o seu GoalPoint Rating acumulado.