*artigo originalmente escrito a 23 de Setembro
O corte de cabelo parece saído de um romance medieval de Umberto Eco e mais apropriado à vida monástica do que ao estrelato futebolístico moderno. A estatura (1,75m) e peso (67kg) são banais, mas já permitem encontrar pontos em comum com outras lendas da bola, do presente e passado. O líder dos GoalPoint Ratings neste arranque de temporada – no conjunto das principais seis Ligas europeias – chama-se Florian Wirtz, tem apenas 18 anos e o melhor é segui-lo, pois com a embalagem que está a ganhar a subida do “foguetão” será rápida.

Em condições normais seria demasiado cedo para destaques deste tipo. A procissão ainda vai no adro, com no máximo seis jornadas decorridas nas principais Ligas do “velho continente”. Mas a verdade é que é raro ver um jogador tão jovem liderar as nossas métricas. Se a isso somarmos a equipa em que joga (Leverkusen, longe de ser um candidato natural ao título da Bundesliga) e ainda os impressionantes feitos analíticos que já acumula, o alerta antecipado é justifica-se totalmente.
A verdade é que não é a primeira vez que falamos de Florian Wirtz. A jovem-(mais que)-promessa mereceu uma análise GoalPoint Focus no início deste ano, já após tornar-se o mais jovem marcador do campeonato germânico, ainda com 17 anos.
As 10 acções para golo, em época de estreia, e sob a pressão de ser apontado como o “novo Kai Havertz”, dizem tudo sobre como o jovem se adaptou às exigências da Bundesliga. Mas sendo assim o que dizer do que está a fazer agora, no arranque da sua segunda época, e já após sagrar-se campeão europeu de Sub-21 (em Junho, frente a Portugal), prova em que também definiu novo recorde para o golo mais rápido?
Segunda época? Sempre a abrir
Os números de Florian são absolutamente incríveis, nas cinco jornadas decorridas na Bundesliga 21/22. Na primeira ronda ficou de fora, ainda a contas com uma lesão nos adutores. Na segunda bastaram-lhe 10 minutos a saltar do banco para somar a sua primeira assistência da época. Chegado à terceira ronda jogou mais 25 minutos. Resultado? Um golo e uma assistência. Nas duas jornadas seguintes repetiu a dose: mais duas acções para golo em cada partida. O pecúlio? Sete acções para golo (três golos e quatro assistências assistências) em 206 minutos jogados, distribuídos por quatro jogos, o que equivale a uma acção com influência no “placard” a cada 30 minutos jogados.
E o miúdo não se fica por aqui. Wirtz também já “provou a sopa” na Liga Europa, na (única) partida disputada com o Ferencvaros, terminando com o terceiro melhor rating germânico após 78 minutos em campo.
[ Os statcards de Florian em quatro dos cinco jogos em que teve influência directa no marcador. E ainda estamos no começo… ]
Como joga o “monge” Florian?

Apesar de poder jogar pelas alas, é pelo meio e como médio-ofensivo que Wirtz se afirma, posição onde jogou 94% dos jogos na época passada.
Sendo certo que outros jogadores se mostram pela especialização, no passe, drible ou remate, Florian mostra competência e qualidade acima de média em todas elas, não só pela frequência como pela eficácia: completa quase todos os dribles que executa, remata com acerto (e curiosamente, nesta época, com predilecção por um dos lados da baliza) e demonstra uma visão de jogo excepcional, expressa numa quantidade de passes para finalização atípica para os minutos de jogo que já cumpriu.
Comparando os ainda curtos dados do seu desempenho actual da época passada, denota-se também um aumento na contribuição defensiva, ainda que aparentemente a custo da quantidade de passes ofensivos que oferece, tendência que se mostra enganadora, tendo em conta que as três assistências que já soma.
O mapeamento das suas acções nos 284 minutos que Florian jogou (Liga e Europa) realçam e localizam a abundância e eficácia que vai apresentando no início de temporada. Se este nível for para manter… temos caso sério.
Dos 0 aos 100 milhões? É um “tirinho”
Após uma época de estreia cheia de maturidade e somado este arranque, não admira que, na Alemanha, Florian Wirtz já seja dado como alvo do todo-poderoso Bayern, emblema “viciado” em colher nas quintas mais próximas os frutos que alimentam a sua hegemonia nacional. Mas a colheita não será provavelmente barata.
Wirtz valia €10M há cerca de um um ano. Neste momento, e ainda antes dos efeitos deste arranque bombástico, o médio já vale €45M. Mas a imprensa germânica adianta que o Leverkusen não tenciona libertá-lo, nem tão cedo nem abaixo de um valor a rondar os €100M.
A ajudar a ambição do Bayer surge o facto de o actual contrato do jovem campeão europeu – renovado em Maio, até 2026 – não ter cláusula de rescisão definida. Veremos como acaba esta história, onde provavelmente surgirão outros protagonistas/interessados. Até lá é puxar do bloco de notas, que o Florian promete partir tudo.