A exibição de Nuno Mendes na primeira derrota de Portugal na Liga das Nações 22/23 gerou polémica entre os nossos seguidores e, ao contrário do que se possa pensar, é precisamente destes casos que mais gostamos. De um lado temos os dados recolhidos pela Stats Perform e o rating atribuído pelo algoritmo do nosso Antunes. Do outro enfrentamos a ideia de que o lateral terá feito um péssimo jogo, partilhada pelos muitos GoalPointers que não compreenderam o facto do lateral do PSG terminar o jogo… com o melhor rating luso. Terá a credibilidade dos analytics sido irremediavelmente colocada em causa? O melhor é tentarmos perceber.
🇨🇭 Suíça 🆚 Portugal 🇵🇹
Nuno Mendes:
🔸 fez 1ª parte medíocre
🔸 cresceu ao longo da 2ª, terminando como o jogador que + passes para finalização fez, 2 deles para as grandes ocasiões flagrantes que Portugal desperdiçou ⭐️#SUIPOR #UNL #NationsLeague #RatersGonnaRate pic.twitter.com/B41ecqa8Hx— GoalPoint.pt (@_Goalpoint) June 12, 2022
A estatística confirma o que vemos num jogo na esmagadora maioria dos casos mas é precisamente naqueles em que isso não sucede que no é dada uma opção: ou concluímos que afinal as estatísticas para nada servem no Futebol ou optamos por activar o modo da curiosidade e tentar perceber o porquê dessa dissonância. Há quem diga (inclusive Einstein) que a curiosidade é uma característica omnipresente na demonstração de inteligência logo, se por esta altura ainda estás curioso, isso é bom sinal. Vamos então tentar perceber que jogo fez Nuno Mendes frente à Suíça.
O mau…
O facto de Nuno Mendes ter terminado como melhor português no nosso rating não significa que tenha feito um grande jogo. Se o tivesse feito não teria tido um rating de apenas 6.8 o que, sendo positivo, não é memorável. Convém também recordar que um jogo tem 90 minutos e que, ao intervalo, Mendes se ficava pelos 5.3. Resta agora perceber o que fez de bom mas também de mau, em Genebra. Começamos pelo mau.
Muita posse perdida
Nuno Mendes perdeu 24 posses de bola frente à Suíça e nem o facto dos laterais normalmente acumularem um registo maior de perdas (fruto dos cruzamentos que realizam) justifica totalmente os quase 29% de posses perdidas pelo ala do PSG. A esse mau registo acresce as seis perdas de posse já no seu meio campo, sendo a única atenuante o facto de apenas duas terem tido lugar já no terço defensivo luso e da maioria se ter concentrado na área suíça.
[ Ninguém perdeu mais posses do que Mendes mas a maioria ocorreu já na área adversária ]
Desarmes sofridos… em vez de remates
O facto de ter tido tantas acções nas imediações da área suíça acaba por destacar um ponto negativo não mapeável: Mendes não tentou quaquer qualquer remate. O lateral preocupou-se sobretudo em oferecer situações de remate aos colegas o que, como veremos, correu bem melhor do que muitos julgam ter visto. No plano oposto dos remates que não fez surgem os desarmes que permitiu, três, e todos ainda no meio-campo nacional. Ninguém foi mais desarmado (entre os portugueses) do que ele e André Silva.
[ Os três desarmes sofridos por Nuno Mendes ]
E o bom?
Apesar das falhas Nuno Mendes somou acções não só positivas como até potencialmente decisivas, das que podiam ter dado a vitória a Portugal. Estes “feitos” surgiram sobretudo na recta final do jogo, altura em que a frustração em redor do resultado e exibição colectiva da Selecção já teria encerrado o cálculo do “rating mental”, em muitos adeptos.
Passes para finalizações… desperdiçadas
Mendes somou quatro passes para finalizações (máximo do jogo) oferecidos aos colegas, duas delas para ocasiões consideradas estatisticamente flagrantes, desperdiçadas respectivamente por Gonçalo Guedes e Pepe, situações que teriam dado a ambicionada reviravolta. Sendo certo que tanto Bernardo Silva como Gonçalo Guedes ficaram perto (três passes para remate cada) nenhum outro colega chegou sequer perto na hora de ponderar com exactidão “quanto golo” saiu dos pés do lateral: 0.6 dos 1,6 Expected Goals criados por Portugal, cerca de 38%. Apesar de só ter feito dois jogos nesta campanha (de quatro), Mendes termina o ciclo como o jogador que mais passes para finalização ofereceu (oito, a par de Bernardo Silva mas em menos minutos) e o único, a par de Cancelo, que fez dois passes para ocasião flagrante. Não será precisamente este o tipo de contribuição que mais se espera dele?
[ os quatro passes para finalização que entregou, dois deles para ocasiões flagrantes desperdiçadas ]
O lateral do PSG terminou com cerca de 84% de eficácia de passe, um registo normal para um lateral e em linha com o registado por João Cancelo mas destacou-se (tal como Cancelo) pela quantidade de passes aproximativos (os que permitem à equipa aproximar-se em mais de 25% da distância original em relação à baliza adversária): fez nove, aos quais somou ainda uma condução aproximativa. Pelo caminho concluiu com sucesso os únicos dois dribles que tentou.
[ Os nove passes aproximativos que ofereceu ]
Dos oito passes que falhou três ocorreram ainda no terço defensivo português o que, não sendo positivo, fica longe dos seis que Rúben Neves falhou ainda em zona de risco, por exemplo. Mendes tentou ainda oito passes longos, entregando como sucesso quatro deles, o melhor registo entre portugueses.
Fechando com o plano defensivo: Mendes somou 4 acções defensivas sendo o único português a somar duas já no meio-campo adversário. sendo também o segundo mais castigado em falta (2), atrás de André Silva (3).
Grande jogo de Nuno Mendes? Longe disso.
Péssimo jogo do jovem lateral? Ainda mais longe da realidade… dos factos. E é precisamente para a apurar que cá andamos. Afinal que utilidade e piada teria a análise estatística se confirmasse invariavelmente o que julgamos ver num jogo, tantas vezes afectado por emoções, paixões ou até simples dioptrias ou idas ao frigorífico?
para descobrires a análise de outros casos polémicos “Que rating é esse, GoalPoint?”
(2/2) Os analytics confirmam o que vimos em 90% (ou +) dos jogos. Qdo isso não sucede:
a) concluímos que stats não interessam
ou
b) queremos perceber o porquê de não baterem certo com o que pensamos ter visto"Curiosity is one of the most common traits of an intelligent mind" pic.twitter.com/jgLsdqN5UL
— GoalPoint.pt (@_Goalpoint) June 13, 2022