(Artigo originalmente publicado a 14 de Setembro)
Não se adivinha vida fácil para o FC Porto nestas suas “bodas de prata” em fases de grupos da Liga dos Campeões. Fugindo à ideia (mito?) de que os sorteios lhes são, por norma, favoráveis, os “dragões” terão desta feita de sobreviver ao “grupo da morte” se quiserem repetir o brilharete da época passada e chegar longe na prova. Pela frente, no Grupo B, vão ter nada mais, nada menos do que o campeão espanhol em título e dois dos clubes mais titulados da história da competição.
[ Em baixo os ratings, MVP e sumário estatístico do Liverpool-Milan da 1ª jornada ]

Liverpool, equipa de ataque com defesa de sonho 🏴

O que há de diferente no Liverpool desta época em relação ao da temporada passada? Sobretudo o “reforço” Van Dick. O defesa-central, um dos esteios da caminhada rumo ao título em 2019/20, perdeu praticamente toda a temporada de 2020/21 e os “reds” sentiram e muito a sua ausência. Dele e de Matip. Mas, agora, os dois estão de volta, boas notícias para Jurgen Klopp e más para os adversários.
A qualidade do quarteto defensivo habitualmente titular está patente nos GoalPoint Ratings do jogo ilustrado na imagem acima, curiosamente o único que o Liverpool não venceu esta época (1-1 com o Chelsea). No meio-campo, o jovem Harvey Elliott, que prometia ser um caso sério esta época, lesionou-se com gravidade. Há a experiência oferecida por Jordan Henderson, o equilíbrio garantido por Fabinho e a classe de Thiago Alcântara, só que já não há Georginio Wijnaldum e essa poderá ser uma lacuna. Na frente, nada a dizer: Salah já leva três golos (e uma assistência), Mané leva dois e Diogo Jota outros tantos . E Roberto Firmino, que parece ser a quarta opção, também já marcou.
Atacar por todos os lados, defender no campo todo
[ Acções ofensivas perigosas (esq.), passes para finalização (ctr.) e acções defensivas na Premier League 21/22 ]
Tal como sucede com o Atlético de Madrid, também o Liverpool parece apostar em reagir à perda de bola e à posse do adversário com uma pressão alta. São muitas as acções defensivas já efectuadas esta época na Premier League pelos “reds” no meio-campo contrário (55, segundo valor mais alto, atrás das 56 do… Brentford), várias das quais no último terço do terreno e algumas até dentro da grande área adversária (mapa à direita).
Em termos ofensivos, o Liverpool não parece privilegiar nenhum dos lados para as suas arrancadas ofensivas, sendo que no mapa à esquerda vemos até que é nos ataques pelo meio que se verifica um maior número de dribles completos (estrelas) e de faltas sofridas (setas azuis). Quanto às conduções aproximativas (linhas tracejadas), nota-se também alguma tendência para flectir para dentro, com os passes para finalização (mapa ao centro) a surgirem de ambos os flancos, mas sobretudo (e mais uma vez) da zona frontal.
Jogadores em destaque
[ Desempenho acumulado de Diogo Jota (EPL 20/21), Salah (EPL 20/21) e Van Dijk (EPL 21/22) ]
Diogo Jota – Marcou nove golos na Premier League na época passada e esta temporada já leva dois. O avançado português parece ter ganho a titularidade a Firmino e os seus números justificam essa escolha de Jürgen Klopp, com as estatísticas de Jota a não ficarem a dever muito (ou nada) aos de Salah.
Mohamed Salah – Não quer isto dizer, de todo, que Salah não continue a ser a estrela-maior do ataque dos “reds”. Na época passada marcou 22 golos e fez cinco assistências em 37 jogos. Esta temporada já marcou três e fez um passe para golo em quatro desafios, com as suas arrancadas em drible a partir do flanco direito para o centro a constituírem, ainda e sempre, uma enorme dor de cabeça para os adversários.
Virgil Van Dijk – Só disputou oito jogos em 2020/21, até à gravíssima lesão que sofreu frente ao Everton. E como o Liverpool sentiu a sua falta! Agora totalmente recuperado, aquele que é visto por muitos como o melhor defesa-central da actualidade está a provar que não esqueceu a arte de bem defender: leva 100% de eficácia nas suas tentativas de desarme e apresenta uma qualidade de passe notável (até no passe vertical).
Atlético, equipa à imagem do treinador 🇪🇸

Treinado por Diego Simeone há mais de dez anos, o Atlético de Madrid mantém-se há muito fiel às ideias do técnico argentino. As estrelas vão entrando, saindo e até regressando, mas o estilo não muda, com a solidez defensiva sempre em primeiro lugar. Na temporada passada foram apenas 25 os golos sofridos em 38 jogos na caminhada rumo ao título espanhol (de longe o melhor registo defensivo da prova).
Qualidade não falta. Na baliza, Oblak dispensa apresentações. Na defesa, que nos últimos tempos tem sido a três, Savic é totalista esta época e José Giménez e Mario Hermoso começaram como titulares. Felipe (velho conhecido do FC Porto) voltou de lesão e é mais uma opção. No meio campo já não há Saúl Ñíguez, mas Koke e Llorente dão garantias e ainda há Lemar ou o reforço Rodrigo de Paul, enquanto para as alas a aposta nos últimos dois jogos recaiu em Ferreira-Carrasco e Trippier. Do ataque nem é preciso falar: Suárez, Griezmann, um João Félix a regressar ou Ángel Correa (que até é o melhor marcador da equipa esta época, com três golos)…
O perigo vem da esquerda e a defesa é “todo-o-terreno”
[ Mapas de acções ofensivas perigosas (esq.), ligações de passes e posicionamento médio (ctr.) e acções defensivas na La Liga 21/22 ]
Neste arranque de temporada, no seu 1x3x1x4x2 ou (como no último jogo) 1x3x4x2x1, o Atlético tem mostrado uma tendência para privilegiar o flanco esquerdo a atacar, como se vê no mapa à esquerda. São bem mais predominantes por aí as conduções aproximativas (linhas tracejadas) e o número de faltas sofridas (setas azuis), ainda que os dribles completos (estrelas amarelas) estejam mais bem divididos pelos dois flancos. Ataques pelo centro é que parecerem não ser opção frequente. O mapa ao centro comprova esta análise. É notório que o central da esquerda (no caso o “camisola 22”, Hermoso) abre mais para a linha e é evidente um maior fluxo de passes nesse lado.
Como seria de esperar numa equipa às ordens de Diego Simeone, as acções defensivas (mapa da direita) começam bem lá em cima, mesmo junto à grande área contrária, confirmando ser a pressão alta, todo-o-terreno, uma das chaves da habitual solidez do conjunto madrileno.
Jogadores em destaque
[ Desempenhos acumulados de Suárez, João Félix e Griezmann na La Liga 20/21 ]
Luis Suárez – Foi, claro está, o goleador-mor do Atlético de Madrid na época passada, com 21 remates certeiros. Já tem 34 anos, é certo, mas continua a fazer a diferença, com um aproveitamento de ocasiões flagrantes acima dos 50% em 2020/21. Esta temporada, porém, ainda só fez por uma vez o gosto ao pé.
João Félix – Regressou de lesão para fazer os seus primeiros minutos da temporada no último fim-de-semana, frente ao Espanyol (numa altura em que o Atlético perdia por 0-1 um jogo que viria a vencer por 2-1) e, mesmo com o regresso de Griezmann e com Correa a continuar a marcar, o português pode ser importante neste Atlético pela quantidade de passes ofensivos valiosos que consegue.
Antoine Griezmann – Foi uma das “bombas” do último mercado de transferências. O avançado francês está de regresso ao Atlético de Madrid e confere (ainda) mais qualidade ao ataque dos “colchoneros”: consigo traz golos, assistências (na época passada, pelo Barça, foram 13 e sete, respectivamente) e, claro, muita classe e capacidade de drible.
Milan já não é “papão”, mas ainda impõe respeito 🇮🇹

Uma das equipas ainda 100% vitoriosas na presente edição da Serie A, o Milan tem tentado, ao longo dos últimos anos, recuperar o fulgor de outras épocas, já algo longínquas, nas quais mandava em Itália e na Europa. Volta, esta temporada, à fase de grupos da Liga dos Campeões, onde não estava desde…2013/14. Prova de quanto a equipa tem crescido sob as ordens de Stefano Pioli.
Para esta temporada viu sair Donnarumma, mas para a baliza chegou o guarda-redes Mike Maignan, acabado de se sagrar campeão francês pelo Lille, que em três jogos pelos “rossoneri” esta época ainda só sofreu um golo. O resto da defesa (sempre a quatro) não mexeu e os titulares têm sido os mesmos que terminaram a época passada, mas ainda veio Alessandro Florenzi para concorrer com Calabria na direita (ou até para jogar mais à frente nessa ala), face ao regresso de Diogo Dalot ao United. No meio-campo partiu o homem das bolas paradas, Hakan Çalhanoglu, e regressou Tiémoué Bakayoko, que entretanto se lesionou e, na frente, Ibrahimovic continua a marcar. O também veterano Giroud também chegou e há, claro, a explosividade de Rafael Leão e de Rebić, decisivos no triunfo sobre a Lazio, ilustrado pela imagem acima.
Virado para a esquerda e que gosta de ir à linha
[ Acções ofensivas perigosas (esq.), passes para finalização (ctr.) e acções defensivas na Serie A 21/22 ]
Sob as ordens de Pioli, a cumprir a sua terceira temporada como treinador principal do clube, o Milan tem sido fiel ao 1x4x2x3x1. E na estratégia do técnico italiano é notória a importância dada aos ataques pelos flancos, sobretudo (como é visível pelo mapa de conduções aproximativas) pela esquerda, onde Theo Hernandéz é dono e senhor da lateral, com Rafael Leão a jogar à sua frente, pelo menos neste início de época. Mas as conduções a partir de trás acabam por se verificar também pela lateral direita e igualmente pelo meio.
Evidente é, também, a tendência do Milan em chegar à linha de fundo por ambos os flancos para, a partir daí, efectuar passes recuados para finalização (mapas ao centro). No capítulo defensivo, constata-se que é também nos flancos que o Milan pressiona mais alto, em especial no esquerdo, tendo logrado já várias acções defensivas bem junto da grande área adversária (mapa à direita) nos três jogos que disputou até à data na Serie A 21/22.
Jogadores em destaque
[ Desempenhoa de Rafael Leão, Ante Rebic e Theo Hernández na Serie A 20/21 ]
Rafael Leão – Cada vez mais importante no Milan, o jovem avançado português foi titular nos três jogos já disputados pelos “rossoneri” esta temporada e fez balançar as redes nos dois últimos. Tem jogado descaído para o lado esquerdo do ataque, tal como na temporada passada, na qual somou seis golos e outras tantas assistências e mostrou eficácia bem acima dos 50% nas mais de três tentativas e drible que, em média, efectuou por 90 minutos.
Ante Rebić – Foi um dos melhores jogadores do Milan na época passada, terminando-a com um GoalPoint Rating médio de 6.36 e esta temporada promete mais do mesmo, como se viu pelo desempenho no embate do fim-de-semana com a Lazio, no qual foram dele as assistências para os dois golos do Milan. E, além de desequilibrar a atacar, ainda ajuda a defender: em 2020/21 teve uma média de duas acções defensivas no meio-campo contrário por partida.
Theo Hernández – Lateral muito ofensivo, são frequentes as suas arrancadas com bola a partir do lado esquerdo rumo ao meio-campo contrário. Na temporada passada marcou sete golos e fez cinco assistências. Não tem medo de arrancar em drible pelo seu flanco e a defender também não compromete, tendo sido bem-sucedido em mais de metade das 2,6 tentativas de desarme por jogo que efectuou em média em 2020/21.