Artigo originalmente publicado a 7 de Setembro de 2022
O FC Porto teve como “sorte” voltar a enfrentar um adversário que já tinha encontrado na época passada. O Atlético de Madrid começa a ser um conhecido para os homens da Invicta, que empataram e perderam em 2021/22 com os espanhóis. Este ano os portugueses tinham a oportunidade de desforra, mas perderam no último lance do jogo da primeira jornada em Madrid. Este é um grupo complicado, mas ao alcance dos “dragões”, pois os alemães do Bayer Leverkusen estão a debater-se com um mau arranque de época, ainda que o Club Brugge tenha causado grande transtorno na visita ao Dragão. Porém, há muitos pontos em disputa.
O Grupo B da Liga dos Campeões tem logo o desafio mais exigente para os portistas, mas nada como olhar mais a fundo para os adversários para tentarmos perceber onde os “azuis-e-brancos” podem vingar. A seguir vêm os belgas.
Leverkusen, “farmacêuticos” adoentados
O nome é sonante e sinónimo de problemas, mas o emblema da Bayer está a viver momentos complicados, embora já some uma vitória nesta fase de grupos, ante o Atlético. A perda de Lucas Alario para o Eintracht e, sobretudo, a lesão grave de Florian Wirtz, a estrela da companhia, de apenas 19 anos, explicam em parte a “debacle” da presente temporada, que já viu a equipa ser eliminada da Taça da Alemanha por uma formação da terceira divisão e somar quatro derrotas nas cinco primeiras jornadas da Bundesliga – com seis golos marcados e nove sofridos.
O 3-5-2 tem como objectivo preencher a zona intermédia e soltar os homens de ataque, em especial Frimpong, Moussa Diaby e o goleador de serviço, o checo Patrik Schick, uma das estrelas do último EURO 2020 e que, em 21/22, marcou 24 golos em 27 partidas do campeonato. Porém, o ponta-de-lança está menos eficaz e os seus números não chegam nem perto aos conseguidos recentemente.
[ Remates/xg (esquerda); conduções aproximativas, dribles e faltas sofridas; acções defensivas (direita) do Atlético na La Liga 22/23 ]
O Leverkusen nem está mal no que toca a Expected Goals (xG) criados, sendo a quarta equipa da Bundesliga neste capítulo, com 8,3, estando, assim, a dever 2,3 golos à sua contabilidade. Oitavo em remates (69), é o terceiro em ocasiões flagrantes criadas (11), mas converteu somente 23% desses lances.
A maioria dos seus ataques em condução é realizada pelo flanco direito (mapa em cima ao centro), onde o neerlandês Jeremie Frimpong é um dos principais canalizadores de jogo de ataque. Mais uma vez, o Porto terá de reforçar o seu flanco esquerdo defensivo, para travar por aqui investidas adversárias. E terá também de lidar com o povoamento do meio-campo, que o Bayer privilegia, muitas vezes com cinco elementos. O Leverkusen é mesmo o quinto clube da Bundesliga em acções defensivas no meio-campo contrário (63), fazendo da pressão uma das suas armas.
Em subprodução
Entre as estrelas do Leverkusen há um jogador que já actuou em Portugal e que tem dado muito boa conta de si, o central ex-Vitória de Guimarães, Edmond Tapsoba. O mau jogo na recepção ao Freiburg não retira do burquinês mais uma época positiva.
O mesmo já não se pode dizer de Patrik Schick. O ponta-de-lança terá de ser sempre bem vigiado pelos defesas portistas, mas esta temporada, em cinco jogos da Bundesliga, marcou apenas um golo, tendo desperdiçado as cinco ocasiões flagrantes de que dispôs até ao momento – esperemos que não reencontre a inspiração frente ao “dragão”. Ao seu lado tem, habitualmente, o veloz Diaby, atacante francês que leva só uma assistência esta temporada, mas que tem mantido o nível em algo que o distingue, o drible, e que poderá ser uma dor de cabeça para o último reduto portista.
Club Brugge, o “brinde” do grupo
Um dos emblemas mais desejados dos grupos. Na época passada, o Brugge começou por impor um empate 1-1 ao Paris Saint-Germain (infografia acima) e, a seguir, ganhou 2-1 na visita ao Leipzig. Sol de pouca dura, pois nas rondas seguintes foi batido com algumas goleadas pelo caminho. Carl Hoefkens substituiu Philippe Clément e a equipa belga tem apresentado um esquema de três centrais, num 3-5-2 com dois avançados, dos quais se destaca Ferran Jutglà, espanhol proveniente do Barcelona e um dos mais perigosos no ataque.
Esta época, o tricampeão belga perdeu a sua grande estrela, De Ketelaere, entretanto contratado pelo Milan, mas há outros a ter em conta, um deles bem conhecido do futebol português.
Yaremchuk e o eterno Vanaken
Roman Yaremchuk deixou o Benfica para rumar à Bélgica e a Brugge, para jogar num campeonato onde pontificou durante quatro temporadas no Gent. O ponta-de-lança ucraniano conhece bem o FC Porto e até já marcou no Dragão na época passada, e será, certamente, um dos jogadores que Sérgio Conceição terá debaixo de olho quando as duas equipas se defrontarem.
O outro é Hans Vanaken. O médio-centro, estrela do FM, tem 30 anos, começou a oitava temporada ao serviço do Brugge e, apesar de ter sido associado a uma mudança para a Premier League, acabou por renovar pelos belgas até 2027, sendo a sua pedra mais importante. Com uma capacidade de cobrir uma ampla quantidade de terreno, na época passada marcou três golos na Liga dos Campeões, em seis partida.
Atlético, uma equipa “chata”
Todos conhecem o potencial da equipa de Diego Simeone, que há duas temporadas foi campeã de Espanha, já com o português João Félix entre o lote de estrelas. A verdade é que o emblema da capital espanhola nem sempre corresponde às expectativas, ao potencial e ao investimento que costuma realizar, alternando exibições e épocas espectaculares com outras a roçar o deprimente, com um futebol previsível e defensivo. Em vésperas de iniciar a sua participação da Champions, os “colchoneros” aparentam atravessar uma dessas má fases, ocupando o sétimo lugar da La Liga, com duas vitórias, um empate, uma derrota e só cinco golos marcados em quatro jogos.
Assente num 3-5-2 que visa libertar os homens mais criativos e resolver o problema que mais apoquenta as equipas de Simeone, a rigidez táctica do Atlético continua a tolher o talento dos seus melhores elementos, acabando por ser presa fácil para os adversários que se apresentem disciplinados tacticamente. E aqui o Porto poderá retirar frutos.
[ Remates/xg (esquerda); conduções aproximativas, dribles e faltas sofridas; acções defensivas (direita) do Atlético na La Liga 22/23 ]
Acaba por ser estranho que uma equipa com tanto talento ofensivo não passe do sexto lugar entre as equipas que mais Expected Goals (xG) criaram nas primeiras quatro jornadas da La Liga, somente 5,5, o que bate certo com os cinco golos marcados. Se olharmos para o mapa em cima, à esquerda, nota-se uma dificuldade para os “colchoneros” rematarem nas áreas adversárias, pelo que registam muitos disparos de fora, com três dos seus cinco tentos (a amarelo) a surgirem de bem longe da baliza. O Atlético é apenas a nona equipa da La Liga em acções com bola na área contrária, somente 79 – em comparação, o Real Madrid lidera com 153, quase o dobro.
O Porto poderá, assim, aproveitar este facto para anular o ataque contrário, tendo também em atenção que os espanhóis atacam muito em condução pelo seu flanco direito (mapa ao centro), podendo obrigar aí o Atlético a travar e a cair na armadinha de jogar pelo meio. Por outro lado, e olhando o mapa da direita, nota-se o cunho de Simeone na equipa, nos locais onde se verifica a maioria das acções defensivas. Os “colchoneros” são a equipa da La Liga com menos acções no meio-campo contrário, apenas 23 (Barcelona lidera com 66), pelo que é notória a dificuldade da equipa para pressionar à frente. Juntando a isto os problemas para entrarem nas áreas e o Porto tem tudo para causar problemas.
Félix e o renascido Morata
Estrelas não falta. As conversas vão todas dar a João Félix, que segundo Simeone está a atravessar o melhor momento desde que chegou ao Atlético. Tirando as três assistências em quatro jogos (muito bom), os analytics ainda não o confirmam e resta saber se os restantes números ainda tímidos se manterão na Liga dos Campeões, uma prova onde as equipas dão um pouco mais de espaços.
Quem parece renascido é Álvaro Morata. O ponta-de-lança continua num pingue-pongue, entre Atlético e Juventus, com passagem pelo Chelsea, e neste arranque de La Liga marcou três dos cinco golos da sua equipa, com 50% de ocasiões flagrantes convertidas. Nada mau, para a crítica que lhe é feita de que falha muitos golos. Um jogador que o Porto deve ter em especial atenção. Os números que apresentamos aqui de Antoine Griezmann são da época passada, pois o francês, alegadamente, está a ser menos utilizado para o Atlético não pagar mais ao Barcelona pela sua cedência. Desconfiamos dos poucos minutos esta temporada na Liga (119).