(Artigo originalmente publicado a 13 de Setembro)
PREPAREM-SE, as grandes emoções da Liga dos Campeões (e dos milhões) estão prestes a (re)começar. De regresso à elite do futebol europeu, onde não estava desde a época 2017/18, o Sporting medirá forças com Borussia Dortmund, Ajax e Besiktas. Será que o rugido leonino ditará leis na Champions? Vamos desvendar alguns dos segredos dos adversários da equipa de Rúben Amorim…
[ Em baixo os ratings, MVP e sumário estatístico do Besiktas-Dortmund da 1ª jornada ]

Será esta a época do Dortmund 🇩🇪?

Não falta talento em Dortmund, mas será que esta época o Borussia conseguirá aliar o habitual “show” ofensivo a uma maior fiabilidade em termos defensivos? Até ao momento o esquadrão amarelo, agora liderado por Marco Rose, está no terceiro posto da Bundesliga a três pontos dos líderes Wolfsburgo e Bayern Munique, e continua a ser avassalador (13 golos em quatro jornadas), mas sofre bastante (nove golos consentidos). Uma formação ainda em construção, que privilegia um futebol ofensivo, dinâmico, associativo, com rápidas transições.
Sancho disse adeus, numa operação que rendeu €85M, e Delaney foi para o Sevilha (€6M). Sem estas duas unidades que foram importantes na última época, chegaram Malen, Kobek e o emprestado Pongracic. A melhor notícia acabou por ser a continuidade de Haaland.
A importância de Guerreiro, Raphaël Guerreiro
[ Acções ofensivas perigosas (esq.), ligações de passes e posicionamento médio (ctr.) e acções defensivas na Bundesliga 21/22 ]
Nesta fase, a equipa tem variado em termos tácticos – 1x4x3x3, 1x4x5x1 e 1x4x1x3x2 –, mas uma coisa tem sido garantida, a importância do corredor canhoto, onde pontificam Raphaël Guerreiro e Marco Reus. O internacional português e o capitão entendem-se de olhos fechados e carrilam muitas daquilo que é feito em termos atacantes por aí. Além disso, os dois centrais – Akanji é indiscutível e, face à lesão de Hummels, Witsel já recuou no terreno e na visita ao Leverkusen foi o reforço Pongracic a formar dupla com o suíço – assumem uma importância vital na primeira fase de construção, Guerreiro estica o jogo pela ala e Reus é forte a juntar-se ao corredor central. Haaland é uma espécie de vagabundo, que recua para receber o esférico e acelera quando tem de o fazer. A pressão na recuperação pós-perda – média/alta – é intensa, mas nem sempre é feita de forma coordenada.
Há fogo a partir do meio-campo. Dahoud, Witsel, Brandt, Bellingham, Reyna, Reus, Malen, Thorgan Hazard, Moukoko, Reinier ou Haaland impõem respeito a qualquer um, mas falta consistência a uma equipa que num suspiro marca golos do nada, mas que também consente tentos com muita facilidade.
Jogadores em destaque
[ Desempenhos acumulados de Haaland, Bellingham e Witsel na Bundesliga 21/22 ]
Erling Haaland – É a estrela da companhia, goleador-mor, que já é aos 21 anos um dos melhores jogadores da actualidade. Soma 65 jogos oficiais desde que chegou no mercado de Inverno da época 2019/20 e já leva 65 golos marcados e 15 assistências. Impressionante. Além de ser uma máquina de fazer golos, que tem uma elevada facilidade em finalizar, junta a estas qualidades uma força física brutal, velocidade supersónica e capacidade de explosão fora do comum para quem tem 1,94m e 88 quilos. Até agora no campeonato, o norueguês foi utilizado em três encontros, assinou três golos, duas assistências e uma média de cinco remates de bola corrida a cada 90, concretizando 75% das ocasiões flagrantes.
Jude Bellingham – Depois de Sancho, mais um “teenager” inglês que brilha nos “amarelos”. Internacional A pela selecção dos “três leões” (oito internacionalizações), foi uma das sensações do futebol europeu na última temporada, tinha ainda 17 anos quando foi utilizado em 46 partidas oficiais, marcou em quatro ocasiões e fez outras tantas assistências. Criterioso, aproveita a passada larga (1,86m e 80 quilos) para percorrer com classe todo o terreno, muito completo, como atestam as stats da Bundesliga até agora: três partidas, um golo, uma assistência, dois remates de bola corrida em média feitos, 3,1 dribles tentados e quase três acções defensivas realizadas no meio-campo do opositor.
Axel Witsel – Um velho conhecido. É certo que teve uma passagem fugaz no futebol português, na época 2011/12, e ainda realizou três encontros na seguinte com as cores do Benfica, mas deixou saudades aos benfiquistas. Aos 32 anos é uma das vozes de comando do Dortmund. Quase sempre é a referência como a unidade mais recuada no meio-campo – já foi central esta temporada -, e mantém intactas algumas das qualidades que sempre denotou, mesmo que a chegada à área adversária vá rareando. Realce para a segurança no capítulo do passe na zona mais recuada (96% de eficácia) e para os duelos aéreos defensivos que conquistou: 92%.
Ajax, uma máquina bem oleada 🇳🇱
A epopeia vai arrancar já na próxima quarta-feira a partir das 20h00 na recepção ao bicampeão neerlandês. E que adversário o Sporting terá pela frente? Não obstante o desaire ante o rival PSV na Supertaça, o Ajax reerguer-se e está a demonstrar neste início de temporada alguns dos predicados que mais caracterizam a equipa desde que Erik ten Hag pegou no leme. Na Eredivisie ocupa a vice-liderança, a dois pontos do PSV, fruto de três vitórias – duas goleadas por 5-0 contra o NEC e Vitesse -, um empate, três golos apontados e apenas um sofrido no percalço ante o Twente na segunda ronda da prova.

No mercado de transferências houve alguns retoques no plantel, realce para as chegadas do talento dinamarquês Daramy, resgatado ao FC Copenhaga por €12M e para a “pechincha” que custou Steven Berghuis, “roubado” ao rival Feyenoord por apenas €5,5M. Jay Horter (ex-Go Ahead Eagles) e Remko Pasveer (ex-Vitesse) foram as outras caras novas que chegaram. Em sentido inverso, Marin saiu em definitivo para o Cagliari (€10M), Lassina Traoré para o Shakhtar (€10M), Noa Lang, que já estava emprestado, assinou pelo Club Brugge (€6M), Scherpen pelo Brighton (€5M) e Ekkelenkamp pelo Hertha (€3M).
Seguindo as directrizes preconizadas por Erik tem Hag, a formação neerlandesa pratica um futebol de ataque, onde mistura a verticalidade em constantes acelerações, explorando os três sectores do terreno, ora imprimindo critério e paciência na troca de passes, envolvendo diversos elementos na fase de construção.
Há organização e futebol ofensivo em Amesterdão
[ Mapas de acções ofensivas perigosas (esq.), ligações de passes e posicionamento médio (ctr.) e acções defensivas na UCL 20/21 ]
Os laterais e alas dão amplitude – mapas de acções ofensivas perigosa à esquerda, ou seja, conduções verticais a terminar no meio-campo contrário (linhas tracejadas), faltas sofridas (triângulos azuis) e dribles eficazes (estrelas) -, a zona central não perde importância, como é possível verificar na imagem do meio com as diversas ligações cozinhadas nesse sector, e no mapa da direita é possível fazer uma espécie de radiografia de uma equipa que começa a construir as ofensivas ao adversário no primeiro terço do terreno, utilizando o guarda-redes como ponto de referência – lembram-se no papel de Victor Valdés desempenhava nos tempos de Pep Guardiola no Barcelona e o que Ederson actualmente faz no Manchester City? Quando a bola chega ao meio-campo acelera de forma vertiginosa rumo ao alvo. O esquadrão de Amesterdão também denota uma apreciável organização defensiva, com pressão em todo o campo.
O 1x4x3x3 – que também se transforma num 1x4x2x3x1 no processo defensivo – é a base de uma equipa que exerce uma forte pressão na recuperação pós-perda, que não tem medo de ter a bola e actua com a linha defensiva alta. Um ponto que o Sporting poderá explorar, à semelhança daquilo que fez na primeira metade ante o FC Porto, através de bolas nas costas da defesa, aproveitando a rapidez de Nuno Santos ou de Jovane e os recuos de Paulinho.
Jogadores em destaque
[ Desempenhos acumulados de Gravenberch, Tadic e Antony na UCL 20/21 ]
Ryan Gravenberch – É uma das últimas pérolas formadas na famosa academia dos “lanceiros”. Um médio com um amplo raio de acção (1,90m), que actua em várias posições e que chega com imensa facilidade às zonas de finalização. Já internacional A pelos Países Baixos (sete internacionalizações e um golo), está na mira de alguns “tubarões”, com o Liverpool à cabeça. Na época passada contabilizou 47 partidas, nas quais assinou cinco tentos e seis assistências. Na preterida edição da Champions, alcançou quase três passes ofensivos valiosos por jogo, teve uma precisão no capítulo do passe para o terço ofensivo de 79% e mostrou acerto nos duelos (3,4 dribles + faltas sofridas a cada 90 minutos).
Dusan Tadic – É o capitão e um dos criativos da equipa. O sérvio é um agitador, independentemente de jogar no flanco esquerdo ou nas costas do ponta-de-lança. Os 22 golos e 24 assistências que acumulou na temporada transacta em 51 partidas oficiais são disso exemplo. Aos 32 anos é uma das unidades mais experientes e letais deste Ajax.
Anthony – Quando cola a bola no pé esquerdo e embala em velocidade é difícil de travar. Nalguns pormenores faz recordar Di María. Pode fazer qualquer uma das alas, pela direita é venenoso nas diagonais que faz quando deriva para o centro e acciona o pé canhoto, pela esquerda é um perigo nas incursões junto à linha. Além de tudo, é eficaz e objectivo. No ano de estreia fez 46 encontros, nos quais apontou 11 golos e ofereceu seis assistências. Convém acrescentar que ajudou o Brasil a ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.
Besiktas, “águias negras” querem voar alto 🇹🇷
Talvez seja o outsider num grupo que, à primeira impressão, será equilibrado. Campeão turco, o Besiktas é a equipa cujo plantel é menos badalado de todos os presentes neste Grupo C, mas o facto de ser menos conhecido não é sinónimo de adversário fácil para quem quer que seja.
A equipa treinada por Sergen Yalçin é composta por jogadores experientes – Hutchinson (38 anos), Vida (32), Souza (32 anos, ex- FC Porto) ou Gunok (32 anos) são exemplo disso. Com dez reforços, dos quais se destacam Rosier (resgatado em definitivo precisamente aos “leões”), Pjanic, Alex Teixeira e Batshuayi são unidades que se juntaram a um colectivo que já contava com peças como Mehmet Topal, Tore, Jeremais Lens ou Rachid Ghezzal. O Besiktas alcançou o melhor desempenho ainda a prova na longínqua época 1986/87, quando alcançou os quartos-de-final. Em termos tácticos, o 1x4x2x3x1 é o modelo predominante, na defesa, Rosier dá profundida pelo corredor direito, o eterno Vida é o “patrão”, Souza ganhou a companhia de Pjanic na zona central do meio-campo, onde ainda se encontra o criativo Alex Teixeira. Batschuayi é a referência ofensiva, sendo municiado nas alas pelos velozes, técnicos e verticais N’Koudou (que já passou pelo Tottenham) e pelo argelino Ghezzal (ex- Leicester).
Jogadores em destaque
[ Desempenho de Batshuayi (EPL 20/21), Rosier (Liga Bwin 19/20) e Pjanic (La Liga 20/21) ]
Michy Batshuayi – Suplente de luxo de Lukaku na selecção da Bélgica, Michy Batshuayi chegou a Istambul por empréstimo do Chelsea com o estatuto de estrela da companhia. Até ao momento, a aposta tem resultado em pleno, como provam os dois golos marcados nas três rondas da Liga turca em que foi utilizado. Olhando para os seus dados na época anterior ao serviço do Crystal Palace, destaque para os 1,5 remates de bola corrida que arriscou a cada 90 minutos, uma média de dois dribles completados, mais faltas sofridas, e para os duelos aéreos ofensivos que protagonizou (saiu vencedor em 42%).
Valentin Rosier – A passagem pelo Sporting não foi bem-sucedida, mas o francês tem qualidade e foi isso que demonstrou na Turquia. A aventura correu tão bem que levou o Besiktas a negociar com os “leões” o ingresso do lateral-direito em definitivo. Com projecção atacante, cruza com perigo e tem uma técnica bastante apreciável. Na curta estadia em Alvalade foram estes os dados que apresentou em 2019/20: 2,2 dribles completos mais faltas sofridas, 4,2 desarmes tentados (52% de eficácia) e quase duas intercepções.
Miralem Pjanić – Foi das maiores surpresas do mercado de contratações cuja janela fechou há poucos dias. O bósnio não teve o impacto esperado ao serviço do Barcelona, após ter brilhado no Lyon, Roma e Juventus. Neste novo desafio poderá recuperar a alegria e o brilho que o notabilizou. Fortíssimo nas bolas paradas, tem uma visão de jogo de alto calibre (registou 84% de eficácia de passes para o último terço na temporada passada) e pauta o jogo de forma cerebral, essencial num conjunto com diversos aceleradores.