O Mundial de Mbappé e Leo Messi já justificou o bilhete. Já não sobram dúvidas de que o título de Melhor Jogador do Qatar 2022 será decidido entre o candidato a figura da próxima década e aquele que é, para muitos, o melhor da(s) anterior(es). O primeiro recorrendo às poderosas mudanças de velocidade e remates cruzados, o segundo numa função mais cerebral e recuada que noutros tempos, ambos apresentam enorme influência directa no pecúlio goleador dos finalistas, totalizando (em dupla) 15 acções para golo em apenas 1051 minutos disputados.
Mas eis que nos aparece o nosso Antunes e atira: “isso é tudo muito bonito, mas nenhum deles é o melhor GoalPoint Rating do Mundial“. Como assim Antunes?! Explica lá isso… E ele explicou.
[ A incrível folha de serviço das duas grandes figuras do Mundial 2022 ]
Pois é. O finalista com melhor GoalPoint Rating não só não é Messi – o que questiona um mito goalpointiano muito popular entre os nossos seguidores -, como nem sequer é o explosivo Mbappé. E para agravar a situação, o Antunes revela-nos que o melhor rating estatístico pertence a um jogador que não marcou qualquer golo no Qatar, isto apesar de ter desempenhado funções de avançado durante toda a carreira. O caso parece estranho demais, por isso pedimos ao nosso “master rater” para nos explicar e comprovar tudo. Eis o que ele nos apresentou.
Antoine “interior” Griezmann, o case study do Mundial
O melhor rating finalista do Mundial é, ao dia de hoje, Antoine Griezmann. Não o Antoine avançado que conhecíamos, mas sim o novo médio interior-direito Griezmann, mas já lá iremos. Primeiro partilhamos a sua “ficha” qatari para início de conversa.
[ Os números e mapa de acções do Griezmann, edição Qatar 2022 ]
De “flop” no Barça a reforço gerido ao minuto por razões contratuais no Atleti, Griezmann não tem vivido grandes alegrias nos últimos anos da sua carreira desde que ergueu em 2018 o caneco que tentará revalidar no próximo domingo. O curioso é que o início de época no Atleti já prometia um Antoine em boa forma no Qatar, pese o mau momento dos “colchoneros” de Simeone, como se pode perceber no próximo statscard.
[ O arranque de época do francês prenunciava já uma chegada ao Qatar em grande forma ]
De avançado-centro a novo “Otávio” gaulês
Que Griezmann apareceu no Médio Oriente e porque razões se destaca tanto estatisticamente? Ora para o perceber é necessário primeiro referir que, fruto do génio ou meras circunstâncias (as muitas ausências por lesão), Deschamps atacou o Mundial com um meio-campo surpreendente, que definiu o destino do novo Antoine. Num 4-3-3 pensado para potenciar os explosivos Mbappé e Dembélé nas alas, o seleccionador campeão do mundo escolheu um trio intermédio com Tchouaméni como guarda-costas defensivo, cobrindo as acções de construção e apoio de Rabiot (outra surpresa positiva do Qatar) pela esquerda e Griezmann pela direita.
[ O heatmap mundialista do novo Griezmann: mais lateralizado (à direita), mais interior, mais defensivo e cobrador de bolas paradas ]
Griezmann assumiu assim o papel de “pensador” ofensivo do jogo francês, ao mesmo tempo que se foi revelando um valioso apoio defensivo, algo que em boa verdade já o caracterizava mesmo como avançado, apesar do ar simpático e jovial. Como tem sido o desempenho de Antoine nesta missão? Damos todos os detalhes já a seguir, mas deixamos uma pista: fez-nos lembrar as razões pelas quais Otávio Monteiro “dispara” regularmente no algoritmo do nosso Antunes.
Os analytics do novo Griezmann
Os resultados factuais desta “adaptação” são curiosos e muito positivos, tanto para o “novo médio” como também para uma França finalista. E nem o facto de Griezmann ainda não ter feito o gosto ao pé esconde a influência da sua nova função. Em boa verdade o jogador não parece muito preocupado com isso, pois tentou a sorte apenas seis vezes até agora.
[ O mapa de remates de Griezmann que não ajuda a perceber o porquê do elevado rating ]
Bola no pé ou pés atrás da bola
O primeiro indicador a merecer destaque no desempenho de Griezmann é a quantidade de acções que soma na nova função. O campeão do Mundo chega à final com 367 acções, ultrapassado nos “bleus” apenas por Tchouaméni (467 mas mais minutos jogados), acções essas não só em posse, mas em missão de recuperação. O mapa das mesmas sublinha o óbvio: este Antoine é peça central na ideia de jogo francesa no Qatar e a toda a largura do campo.
[ As 367 acções de Griezmann no Qatar. Mais que ele, na França, só Tchouaméni ]
Entre as acções do médio começamos por destacar a vertente defensiva, generosa e certamente surpreendente para muitos (não tanto para o Antunes) e os feitos são estes: no próximo domingo apenas dois homens de ambas as equipas poderão entrar em campo com mais recuperações de posse do que Antoine, serão eles o argentino De Paul (37) e novamente Tchouaméni (35), ambos com mais minutos jogados do que o “Otávio” francês.
[ Os mapas de acções defensivas (29) e recuperações de posse (32) de Griezmann ]
Mais passes-chave… que Messi
A nova variante Griezmann “carraça” pode tê-lo afastado da finalização, mas não o impede de chegar à final como o jogador com mais passes-chave (para finalização) no próximo domingo, com 21 entregas, mais três que Leo Messi em menos minutos jogados. É isso mesmo, Griezmann ofereceu até agora mais situações de remate aos colegas em menos minutos do que o astro argentino e garantiu também mais situações flagrantes de golo, ao todo sete, contra seis do “10” adversário. Empate só no número de assistências, com três para cada um, mas mesmo aqui o francês sobressai, com 2.99 Expected Goals criados, contra 2,63 do argentino, um registo máximo no Qatar.
[ Os sete passes para ocasião flagrante oferecidos por Griezmann no Qatar ]
O total de passes para finalização do francês revela ainda outra valência superlativa: a qualidade que revela na cobrança de pontapés de canto, acção que realizou 22 vezes com 41% de eficácia na entrega (32% eficazes para zona frontal à baliza), motivo pelo qual o lance sobressai no seu mapa de passes-chave (em baixo). O francês chega à final como o jogador do Mundial com mais cantos eficazes entregues, nove.
[ O mapa de passes para finalização de Griezmann destaca a eficácia com que cobra pontapés de canto ]
Ainda no capítulo do passe, Griezmann completou 84,4% das 244 tentativas que somou no Qatar, sendo que o posicionamento mais recuado até melhorou a eficácia com que realizou passes direccionados a colegas no último terço: 77%, contra 62% no Mundial 2018.
[ Os 244 passes tentados por Griezmann até agora ]
Por fim a condução. Griezmann pode não ser homem de dribles e grandes correrias com bola, mas a verdade é que soma já 307 metros de aproximação à baliza com a bola nos pé e o seu mapa de conduções mostra que talvez devesse tentá-las mais vezes: em seis apenas uma terminou em perda de posse.
[ O francês tentou apenas 6 conduções mas apenas uma terminou em perda de posse (a vermelho) ]