O 30º título de campeão por parte do FC Porto teve vários aspectos estatísticos e tácticos relevantes. Do facto de ter sido o melhor ataque, a melhor defesa, a formação mais rematadora e a que conseguiu acumular mais Expected Goals (xG), tudo isto foram consequência de um futebol intenso, de grande pressão e reacção à perda, impedindo os adversários de fazerem o seu jogo. Essa capacidade de recuperar depressa a bola abriu a porta a que uma outra variável assumisse um papel fundamental, embora nem sempre valorizado: o passe de ruptura.
A pressão em terrenos adiantados tem sido um dos elementos mais importantes da estratégia portista, mas nem sempre é essa a estratégia usada. Em diversos momentos, a recuperação de posse é realizada ali no “miolo”, onde o Porto tem baseado parte da sua força e domínio. E essa recuperação é, geralmente, acompanhada por uma rápida colocação da bola nos jogadores da frente, para apanhar as defesas desprevenidas. O passe de ruptura é aqui decisivo, uma das armas dos “azuis-e-brancos”, que esmagaram a concorrência nesta variável ao longo de 2021/22.
Os números finais, absolutos, são extraordinários. O Porto somou 99 passes de ruptura, daqueles a rasgar as defesas adversárias, colocando a bola nos espaços vazios ao encontro de colegas de equipa em boa posição para levar o perigo junto das balizas contrárias. Foram mais 24 que o segundo registo mais alto, pertencente ao Benfica, uma equipa que nem sempre conseguiu dominar o meio-campo e por isso procurou explorar o passes de ruptura em profundidade, a partir de posições mais recuadas, para a velocidade de jogadores como Darwin Nuñez ou Rafa Silva.
Neste top 5 do passe de ruptura das equipas da Liga Bwin 2021/22 estão precisamente os emblemas que ficaram nos primeiros cinco lugares da classificação, o que não pode ser coincidência e diz bem da relevância deste momento de jogo. Em terceiro ficou o Braga, com 62, seguindo-se o Sporting, com 57 – equipa que desde a época anterior fazia das transições rápidas a sua principal arma – e o extraordinário Gil Vicente, com 56.
[ Todos os 99 passes de ruptura do Porto esta época na Liga, a azul os eficazes ]
Mas há mais. O Porto foi também a equipa que mais passes de ruptura eficazes realizou, nada menos que 55, seguindo-se de novo o Benfica com 40, o Braga com 33 e o Gil Vicente com 31, ultrapassando aqui o Sporting, que se ficou pelos 26. De todos estes eficazes, muitos terminaram mesmo em remate, e sem surpresa também aí o “dragão” dominou amplamente, com 34 a permitir disparos, mais dez do que Benfica e Braga, ambos com 24, com o Gil Vicente a somar 21 e o Santa Clara a surgir em quinto, com 16 (mais um que o Sporting). Estes últimos valores levam-nos a ver qual a percentagem de passes de ruptura que terminaram em remate, e aí a ordem baralha-se. O Marítimo lidera, com 44% das suas 25 entregas a terminarem em disparo. Dos cinco primeiros classificados, o Braga foi aqui o melhor, em quinto na percentagem, com 39%, segue-se o Gil Vicente (6º) com 34%, os mesmos que o Porto (7º), com o Benfica (9º) a registar com 32% e o Sporting (13º) a ficar-se pelos 26%.
Equipa | Passes de ruptura | Passes de ruptura eficazes | Remates após passe de ruptura | % passe de ruptura c/ remate |
---|---|---|---|---|
Porto | 99 | 55 | 34 | 34% |
Benfica | 75 | 40 | 24 | 32% |
Braga | 62 | 33 | 24 | 39% |
Sporting | 57 | 26 | 15 | 26% |
Gil Vicente | 56 | 31 | 21 | 38% |
Famalicão | 46 | 17 | 11 | 24% |
Santa Clara | 40 | 22 | 16 | 40% |
Tondela | 40 | 15 | 9 | 23% |
Arouca | 33 | 12 | 10 | 30% |
Estoril Praia | 33 | 11 | 6 | 18% |
Boavista | 26 | 13 | 11 | 42% |
Marítimo | 25 | 15 | 11 | 44% |
Vizela | 24 | 11 | 7 | 29% |
Moreirense | 22 | 9 | 6 | 27% |
Belenenses SAD | 22 | 9 | 4 | 18% |
Vitória SC | 21 | 11 | 9 | 43% |
Portimonense | 21 | 8 | 4 | 19% |
P. Ferreira | 21 | 14 | 7 | 33% |
Também nas principais Ligas europeias o Porto terminou lá em cima entre as equipas com mais passes de ruptura. Os “azuis-e-brancos” foram a quarta formação que mais o fez, atrás do líder Liverpool (112), do Bayern (108) e do Manchester City (102) – tudo equipas “fraquinhas” -, o que demonstra, mais uma vez, a importância deste tipo de passe, no futebol actual. Quando olhamos para a média o líder é o Bayern (3,2 passes de ruptura por partida), seguindo-se o Liverpool e o Porto, ambos com 2,9).
Três dos principais beneficiados de passes de ruptura nesta Liga foram também portistas, naturalmente. Apesar de ter saído em Janeiro, Luis Díaz foi o jogador que mais remates efectuou na sequência de passes de ruptura (9), o mesmo número dos realizados por Darwin Nuñez, do Benfica, mas este com muito mais minutos em campo, uma vez que permaneceu até final da época na Luz. Taremi (8) é o terceiro na lista, que termina com Evanilson (7) e o bracarense Abel Ruiz (7).
Otávio, Fábio e Taremi disruptivos
Entre os jogadores que mais passes de ruptura fizeram, mais uma vez em termos absolutos, Otávio é o dominador – como já havíamos feito no tar no artigo do Jogador do Ano -, com extraordinários 28, mais de um quarto do total do FC Porto. E no pódio, sem surpresa pelo exposto anteriormente, mais dois jogadores do Porto, Fábio Viera com 17 e Mehdi Taremi com 15, seguindo-se em quarto o “leão” Pablo Sarabia e o “arsenalista” Ricardo Horta, ambos duas das principais figuras deste campeonato.
[ Os passes de ruptura de Otávio, Fábio Vieira e Mehdi Taremi na Liga Bwin 21/22 ]
Quando olhamos para as médias por 90 minutos – entre jogadores com mais de 1530 disputados -, o líder continua a ser Otávio (1,0), seguindo-se a uma boa distância Pablo Sarabia (0,6), Taremi (0,6), o maritimista Rafik Guitane (0,5) e o benfiquista Everton “Cebolinha” (0,5).
Otávio volta a liderar no número absoluto de passes de ruptura nas principais Ligas europeias, desta feita acompanhado com 28 por Lionel Messi, do PSG, mas o argentino em menos minutos disputados, com Manu Trigueros (25), do Villarreal, Harry Kane (22), do Tottenham, e Sergio Canales (22), do Betis, a completarem o pódio.