J á muito foi dito e escrito sobre o aparecimento de Renato Sanches e sobre o carácter decisivo que a sua entrada no “onze” do Benfica teve nas conquistas “encarnadas” da época passada.
Do jogo em Astana até à festa final no Marquês, o papel central assumido pelo miúdo de apenas 18 anos surpreendeu quase todos, e pôs muitos “cérebros futebolísticos” a pensar no que tinha de especial aquele rapaz, para que encaixasse na perfeição numa equipa já campeã e que luta para ganhar todos os jogos.
Até aparecer Renato os sectores pareciam desligados entre si, o futebol do Benfica era atabalhoado e o mais grave é que não parecia haver nenhuma solução no plantel da equipa A para resolver o problema… até ao dia 25 de Novembro.
O que distingue Renato dos outros
Mas quais são as características de Renato Sanches que fizeram com que encaixasse tão bem no esquema táctico “encarnado”?
Antes de mais a “lata”. A constante vontade de ter a bola e a procura incessante pela mesma, algo raro num jogador da sua posição e na sua idade. Em jogos da Liga NOS, Renato Sanches tocava em média 78 vezes na bola. Entre os titulares do Benfica 15/16 só Pizzi (81) o fazia mais vezes. Se olharmos os números de André Horta, o seu substituto esta época, o também jovem número “8” fá-lo apenas 59 vezes por jogo. Ou seja, 11% do jogo do Benfica em 15/16 passava por Renato Sanches, enquanto apenas 8% esta época passa por André Horta.
Essa procura pela bola nota-se também bastante na quantidade de vezes que cada um recupera a mesma. Um médio-centro na nossa Liga recupera em média 5,4 vezes a posse de bola a cada jogo, enquanto André Horta faz esta época uma média de 4,5. Renato Sanches, com uma média de 6,7 recuperações, era o mais eficaz do Benfica neste capítulo e o segundo melhor de toda a Liga, apenas atrás do bracarense Luiz Carlos.
Mas a outra grande qualidade atribuída a Renato Sanches era a capacidade de transportar o jogo com a bola nos pés. Várias vezes arriscando demais em zonas perigosas, essa capacidade dava, no entanto, muito jeito para fazer a tal ligação entre os sectores. Com uma impressionante média de 4,5 tentativas de drible a cada jogo, Renato Sanches era de longe o médio que mais riscos assumia em toda a Liga e só Pelé do Paços de Ferreira (2,6) se aproximava minimamente.
Haverá mais “Renatos”?
Explicada que está a influência que Renato Sanches tinha no jogo do Benfica e o porquê de os “encarnados” estarem a sentir a sua ausência, fomos procurar por essa Europa fora jogadores com características semelhantes às do português que pudessem, eventualmente, desempenhar o mesmo papel no mesmo esquema táctico.
Como? Com estatística pois claro. Analisámos nove Ligas europeias (Espanha, Inglaterra, Alemanha, Itália, França, Portugal, Rússia, Turquia e Holanda) na busca de outros médios que se encaixassem na política de valorização de activos tipicamente seguida pelos “encarnados” (jogadores até 25 anos), e com um valor de mercado minimamente realista para os cofres de um clube português, mas sobretudo que apresentem as características já referidas e que melhor tipificam Renato Sanches:
- Elevado número de toques na bola por jogo
- Elevado número de recuperações de bola por jogo
- Elevado número de tentativas de drible
- Razoável eficácia de passe
- Razoável capacidade de remate de fora da área
- Baixo número na criação de ocasiões de golo
- Fraca procura pelo jogo aéreo
O resultado é a prova de como a estatística pode ajudar um gabinete de scouting a avaliar muitas opções num curto espaço de tempo, na procura de jogadores que encaixem no modelo de jogo de uma equipa e de um treinador.