Porto 🆚 Benfica | Quem chega mais forte ao primeiro clássico?

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A pergunta tem múltiplas rasteiras e não é de resposta fácil. Nem a daremos aqui neste espaço de análise pré-“clássico”, focado mais nos aspectos colectivos, onde tentaremos perceber em que detalhes de jogo e variáveis FC Porto e SL Benfica se superam mutuamente, antes do embate desta sexta-feira no Estádio do Dragão, a contar para a décima jornada da Liga bwin. Números que reflectem nove jornadas e que os apresentamos aqui para que possa tirar as suas ilações e, quiçá, prever o desfecho de mais um grande jogo de futebol em perspectiva.

O Benfica começou a época de forma arrasadora, chegando a ter cinco pontos de avanço sobre um campeão aos soluções. Entretanto, os “dragões” parecem ter reencontrado a sua melhor forma e vendem saúde, enquanto o Benfica vem de alguns resultados dúbios, com quatro empates recentes, embora dois deles frente ao poderoso Paris Saint-Germain. Confirma-se o crescendo portista? É palpável algum desgaste físico nos “encarnados”?

Duas forças ofensivas em confronto

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Para início de conversa, há a realçar o facto de que em confronto estarão o terceiro (Porto, com 22) e o segundo (Benfica, com 23) melhores ataques da prova, apenas atrás do Braga (24), o que por si só promete duas equipas à procura do golo, apesar de, naturalmente, este poder ser um jogo algo táctico nos primeiros minutos.

Os dados das últimas cinco jornadas (infografia acima) mostram um Benfica com relativa superioridade em algumas das principais variáveis do jogo, na média de remates, nos enquadrados e, de forma bem vincada, na posse de bola, o que advém, em grande parte, da capacidade benfiquista na pressão e na reacção à perda de pose (já lá vamos). Ambos os emblemas surgem com números muito semelhantes de Expected Goals (xG) a favor e contra, bem como de golos marcados (12-12) e sofridos (2-3), e com dois nomes em grande forma: o Jogador GoalPoint de Setembro, Mehdi Taremi, e o renascido João Mário.

As estatísticas de golos são o reflexo da capacidade superior de ambos os conjuntos em diversos momentos de ataque, dos remates, às ocasiões flagrantes, passando pelos cada vez mais populares Expected Goals (xG). Os tops seguintes são disso demonstrativo:

  • O Benfica é líder, à nona jornada, na média de remates por jogo, com 20,4, sendo o Porto a terceira formação da Liga que mais dispara, com 17,8.
  • Os “encarnados” são também a formação que mais dispara de bola corrida, com 15,2, e mais uma vez os “dragões” surgem em terceiro neste detalhe, com 12,6.
  • Importante saber quais destes remates se encaminham para as balizas. Neste “pormaior”, os benfiquistas não lideram, estão atrás do Braga, mas são segundos, com 6,5 disparos enquadrados por jogo, seguindo-se os portistas mais uma vez em terceiro, mas bem perto, com 6,1.

[ xG dos remates de Porto (esquerda) e Benfica: a amarelo os golos, azul os enquadrados, quanto maior o círculo, maior o xG ]

Rematar é bom, mas a qualidade dos mesmos e o perigo que constituem são factores ainda mais relevantes:

  • O Porto assume aqui a liderança no que toca aos xG a favor (mapa em cima à esquerda). Os portistas registam, nesta fase do campeonato, 22,9 golos esperados, o que na prática aponta para que estejam a “dever” um golo à sua contabilidade na Liga bwin.
  • O Benfica surge logo a seguir, em segundo lugar, com 22,6 golos esperados, pelo que, arredondando, o seu pecúlio de golos está em linha com as ocasiões de que dispõem.

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Os dois rivais do “clássico” desta sexta-feira também lideram na qualidade das suas ocasiões. O Benfica é a equipa da Liga que mais ocasiões flagrantes cria por jogo, cerca de 3,7, quase mais uma que os 2,9 que os “azuis-e-brancos” fabricam, e apenas o Braga aproxima-se dos dois da frente. Um detalhe que poderá ter um peso grande no jogo do Dragão, no número de golos, caso se confirmem estas tendências.

Benfica melhor na qualidade de passe

O número elevado de remates está, obviamente, ligado directamente ao número de passes para finalização que as equipas conseguem, detalhe em que, mais uma vez, o Benfica lidera e o Porto surge em terceiro. Contudo, a grande diferença entre as duas equipas nas entregas está na eficácia global de passe, algo que influencia, também, na posse de bola – que, como vimos, pende claramente para o lado “encarnado”.

  • A equipa de Roger Schmidt é a que apresenta melhor rácio de passes completos, atingindo os 87,3% nesta fase do campeonato, seguido de perto pelo Sporting.
  • O Porto, esse, surge somente em sétimo lugar neste particular, com 81,7% de eficácia, um número bem longe do líder e rival de sexta-feira. Terá este detalhe peso?

Não espanta, por isso, que o Benfica surja como a formação com mais acções com bola por jogo, uma média de 870,8, bem acima das 673,7 dos “dragões”, quarto melhor conjunto da Liga.

Dribles, um problema para o Porto resolver

Esta estatística depende não só da qualidade dos executantes, mas também da filosofia de jogo de cada equipa. Porto e Benfica são, necessariamente, equipas diferentes em muitos aspectos, não tanto no talento dos seus jogadores, mas na abordagem que assumem nos seus jogos. No drible, as diferenças saltam à vista.

  • O Benfica é a segunda equipa da Liga bwin 22/23, atrás do Sporting, em tentativas de drible por jogo, chegando às 23,7 por partida. Na eficácia destes lances também se posiciona atrás dos “leões”, com 9,8 concluídos, correspondendo a um acerto de 41,3%.
  • Na percentagem de concluídos, o Porto não está muito atrás, com 40,6%, mas os números globais são distintos. A equipa de Sérgio Conceição é apenas a oitava em tentativas de drible, com 20,8 por jogo, o que se pode explicar pelo maior pragmatismo e objectividade na forma como o Porto ataca. Nos dribles eficazes os “dragões” surgem, mais uma vez, em oitavo na Liga, com 8,4.

Estes números podem não ter um impacto grande na forma de olhar para o próximo “clássico”, porém há um detalhe que pode ter um peso grande na partida, se se confirmarem as estatísticas de época, e que Sérgio Conceição terá de abordar.

  • O Porto surge nesta fase como a terceira equipa da Liga que mais dribles consente aos adversários, nada menos que 9,3 por encontro, algo pouco visto entre os “grandes”, mas que tem paralelo com um sintoma que assolou o Benfica nas últimas temporadas (link). Só Boavista e Casa Pia permitem mais.
  • O Benfica é a formação da Liga que menos dribles permite aos oponentes, apenas 6,5 por partida.

[ Os dribles consentidos de Porto (à esquerda) e Benfica na Liga ]

Duas panelas de pressão

Uma das características do Porto campeão em 2021/22 era a capacidade de pressão em zonas adiantadas no terreno, nomeadamente no meio-campo adversário. As saída de Vitinha, um dos jogadores que mais pressionava bem à frente, para o Paris Saint-Germain, e o arranque aos soluços de Otávio (link), em parte devido a lesões, mudaram um pouco o paradigma. Agora, com Schmidt, é o Benfica a liderar neste detalhe, na Liga e na Europa.

[ Acções defensivas de Porto (à esquerda) e Benfica na Liga 22/23 ]

  • O Benfica lidera, com larga vantagem, na média de acções defensivas que realiza nos meios-campos adversários, nada menos que 18,7. Um número que oblitera a concorrência não só em Portugal, como nas principais Ligas europeias. Para termos uma ideia, a segunda que mais destas acções regista por jogo nas Ligas Top 5, mais Liga bwin, é o Leeds United, com cerca de 16.
  • Outro indicador útil na avaliação da qualidade da pressão defensiva das equipas é o PPDA, que mede o número de passes permitidos até ser realizada uma acção defensiva. Este indicador, dominado pelo Porto (até a nível europeu) nos últimos anos, é agora liderado (também a nível Europeu) pelo Benfica, com apenas 3,6 passes permitidos até intervenção defensiva, contra os 4,4 do FC Porto. Convém no entanto ter em conta que é ainda um pouco cedo para leituras conclusivas neste participar, sendo também importante relembrar que os dragões enfrentaram já dois adversários do habitual G4 – Sporting e Braga – curriculum que o Benfica que irá entrar no Dragão ainda não apresenta.
  • O Porto continua a fazer muito este tipo de acções e é segundo em Portugal, mas não passa das 14,2 por encontro, uma diferença grande em relação ao Benfica. Teremos uma formação da casa mais na expectativa e um visitante mais subido?

Trancas na porta

[ Os remates permitidos por Porto (à esquerda) e Benfica na Liga bwin 22/23 ]

Em consequência da pressão exercida por Porto e Benfica sobre os seus adversários, não espanta que os dois rivais sejam das equipas que menos remates permitam aos adversários.

  • O Benfica surge, mais uma vez, com melhores números que o Porto quando o assunto é remates permitidos. As “águias” são a equipa da Liga que menos disparos consente aos adversários, somente 5,2 por jogo, o mesmo acontecendo nos disparos na sua grande área, que não passam dos 2,7.
  • Porém, os homens da Invicta também não facilitam, sendo a segunda equipa neste detalhe, com 7,9 remates permitidos, 4,6 na sua grande área (também segundo valor mais reduzido).
  • Ainda que o Porto queira esperar pelo Benfica e aproveitar as costas da defesa subida das “águias” – algo expectável tendo por base o que analisámos anteriormente sobre posse de bola e pressão -, acontece que os “encarnados” conseguem, ainda assim, manter os seus adversários controlados, concedendo apenas 0,9 remates por jogo após passe vertical. Neste pormenor, o Porto é quinto, pelo que os “dragões” poderão correr um risco grande, caso tentem partir para cima dos lisboetas sem salvaguardar as suas costas.

Pelos ares domina o dragão

O Porto, porém, tem uma arma que pode ser decisiva neste “clássico”, a sua capacidade no jogo aéreo, algo que, no futebol moderno, tem um peso cada vez maior, quer no futebol corrido, quer nas bolas paradas.

  • O Porto é a equipa com maior percentagem de duelos aéreos defensivos ganhos, nada menos que 65,5%, algo que sobe para os 72,2% quando esses lances acontecem na área dos “azuis-e-brancos”. O Benfica é apenas o sexto nos duelos aéreos defensivos ganhos (58,4%), e 13º nos que acontecem na sua grande área (46,7%). Números que devem preocupar os responsáveis técnicos benfiquistas.
  • Na frente, nos duelos aéreos ofensivos, a coisa equilibra-se, mas ainda assim com vantagem portista, que chega aos 56,4% ganhos, perante os 55,9% dos benfiquistas. Na área adversária, a formação da Luz lidera, com 65,3% ganhos, com o Porto em terceiro (58,6%).

[ Duelos aéreos de Porto (à esquerda) e Benfica na Liga ]

Estes jogos são quase sempre de tripla, mesmo tendo em conta  o ascendente do Porto nas recepções ao Benfica. “Dragões” e “águias” apresentam-se em bom momento, sendo as equipas em melhor forma em Portugal, e têm todas as condições, individuais e colectivas, para proporcionarem um bom espectáculo. Será que as estatísticas superiores do Benfica e os detalhes em que tal se manifesta terão peso e veremos um Benfica mandão e um Porto mais na reacção? Teremos um “clássico” decidido num lance pelo ar, ou num lance individual com um drible estonteante? Na sexta-feira saberemos. 

Pedro Tudela
Pedro Tudela
Profissional freelancer com mais de duas décadas de carreira no jornalismo desportivo, colaborou, entre outros media nacionais, com A Bola e o UEFA.com.