O já longínquo ano de 2009 corria quando o FC Porto surpreendeu o país futebolístico ao anunciar uma cláusula de rescisão de 30 milhões de euros para um “miúdo” de 17 anos da sua formação.

De lembrar que na altura as equipas B eram ainda uma miragem. O rapaz jogava nos júniores e o mais perto que tinha estado da “ribalta” haviam sido 90 minutos na Taça de Portugal contra o Sertanense. O que hoje seria uma medida normal, dada a massificação que tiveram as cláusulas de rescisão entretanto, criou na altura um aparato que fez com que o seu nome não mais fosse esquecido: Sérgio Oliveira passava, a partir desse momento, a ser um jovem diferente e a ter colado a si o rótulo de “menino 30 milhões”.
Essa foi uma época atípica para a altura nas hostes do “Dragão”. O novo Benfica de Jorge Jesus e o Braga de Domingos Paciência condenaram o FC Porto a uma temporada longe do esperado, e Sérgio Oliveira acabaria por, após a renovação, jogar apenas mais 35 minutos em partidas da Taça da Liga.
Ainda com idade júnior, seguiu-se um empréstimo ao Beira-Mar, onde o tempo de utilização não esteve à altura da camisola 10 que lhe foi atribuída e do “buzz” que o seu nome gerava. Começava a temer-se que o jovem não estivesse à altura das expectativas, e os empréstimos seguintes, a Malines e Penafiel, não ajudaram a mudar a imagem. No regresso das equipas B, foi decidido que aos 20 anos o melhor era fazê-lo voltar a casa, e os 36 jogos que realizou na Segunda Liga em 2012/13 deram razão à opção. Iniciava aí a revitalização de Sérgio Oliveira e o Paços de Ferreira, atento, decidiu oferecer-lhe condições para se estabelecer em definitivo na Primeira Liga.
Duas épocas passou ao serviço dos “castores”, mas foi na última delas, com Paulo Fonseca ao “leme”, que o jovem centro-campista começou a dar sinais de uma metamorfose no seu jogo. O actual treinador do Shakhtar viu nele mais do que todos os outros. Até aí tido como um típico médio-ofensivo, Sérgio Oliveira passou a ser parte integrante de uma arriscada dupla de médios na qual tinha como colega outro ex-Porto, Jean-Michel Seri. A época correu bem e, no final, o FC Porto fez valer a opção de re-compra que tinha.
Com Julen Lopetegui ao comando, Danilo Pereira, Rúben Neves, Herrera, André André e Imbula não deixavam muito espaço para que Sérgio Oliveira tivesse tempo de jogo, mas José Peseiro não teve a mesma opinião. A época já estava quase perdida, é certo, mas o técnico português deu a Sérgio os minutos de dragão ao peito que ele nunca tinha tido, e o jovem correspondeu, ao ponto de ser eleito o melhor jogador da Liga NOS em Março de 2016.
Até ao final da época, Sérgio seria quase sempre titular com boas prestações, inclusivamente na final da Taça de Portugal, mas isso voltou a significar pouco para o técnico seguinte, Nuno Espírito Santo. Foi preciso Sérgio Conceição levá-lo para Nantes, por empréstimo, para perceber o valor do português e dar continuidade à aposta no FC Porto, até com mais minutos. Após ser lançado em vários jogos da Liga dos Campeões, o português tem sido a primeira opção para colmatar a ausência de Danilo Pereira, assegurando o meio-campo com o apoio de Héctor Herrera. A aposta tem corrido bem e teve mais um episódio positivo na primeira mão da Taça de Portugal, na qual Sérgio Oliveira foi, provavelmente, o melhor homem em campo. Analisando os seus números, isso não pode espantar.
O risco que compensa
Médias por 90 minutos nas últimas três épocas da Liga NOS (Fonte: GoalPoint/Opta)
Com bola, Sérgio destaca-se desde logo por uma característica que nenhum dos outros médios do FC Porto tem: a capacidade de remate. De fora da área, não só remata o dobro de todos os outros, como, percentualmente, acerta na baliza mais vezes. Talvez por isso tenha menos tendência para o último passe do que outros, sobretudo Herrera, mas as diferenças nesse aspecto são curtas, e Sérgio Oliveira até se superioriza a todos nos passes para desmarcação.
Se numa primeira análise a sua eficácia de passe em zonas adiantadas é desencorajadora, é fácil perceber por que motivo isso acontece. Sérgio é, entre os cinco, aquele que mais passes verticais e passes longos tenta, e essa dose mais elevada de risco faz com que a sua eficácia de passe desça. Ainda assim, 73% de passes certos quando 38% dos mesmos têm como objectivo ganhar metros é um número bastante positivo. Também com a bola controlada Sérgio é eficaz e, apesar de ser menos frequente vê-lo em arrancadas em comparação com Herrera e André André, a sua eficácia em acções de um-para-um ofensivas é muito superior, conseguindo, na prática, a mesma quantidade de dribles eficazes por jogo.
“Ladrão” de bolas irrepreensível
Médias por 90 minutos nas últimas três épocas da Liga NOS (Fonte: GoalPoint/Opta)
Sem bola fica explicado porque Sérgio Oliveira se tem dado tão bem nas novas funções. Seja no desarme, no jogo aéreo ou mesmo nas faltas, a tendência cada vez mais vincada do português para os duelos fica bem patente. Nenhum dos outros quatro médios tenta tantas vezes o desarme como Sérgio, e só Danilo Pereira é mais eficaz nesse tipo de acções. Mas se, pelo chão, se demonstra muito seguro, pelo ar surpreende ainda mais a sua eficácia, levando em conta o seu metro e oitenta e o facto de ter feito a formação como médio-ofensivo. Essa capacidade de pressão fica ainda bem explícita no volume de passes bloqueados.
Só ao nível do posicionamento defensivo, Sérgio Oliveira ainda se revela um pouco abaixo dos colegas. O “camisola 27” aparece menos vezes que os seus colegas a recuperar bolas perdidas, mas, ainda assim, nota-se uma boa leitura de jogo em antecipação ao interceptar quase dois passes por partida.
De alternativa a certeza
Por tudo isto, Sérgio Oliveira é, talvez, o mais completo centro-campista do plantel do Porto. Tão confortável com bola como sem, o português vai mostrando, aos 25 anos, que as notícias sobre o seu potencial não eram, afinal, manifestamente exageradas.
Não sei se algum dia alguém estará disposto a depositar 30 milhões no banco do FC Porto para o levar. O que sei é que, pelo que tem mostrado desde que regressou ao Dragão, merece a continuidade que nunca teve, até que isso volte a ser uma questão. E porque não sonhar com a Rússia?