Os dedos de duas mãos sobram, na hora de contar as vezes em que atribuímos o “rating perfeito” na Liga portuguesa, desde que “ratamos” os craques que nos dão bola. Para ser mais específico, sobram dois, pois são precisamente oito as vezes em que tal sucedeu, desde 2016/17, altura em que o imprevisto Okacha Hamzaoui abriu caminho ao feito, com um “hat-trick” que incluiu um fantástico golo de bicicleta… de fora da área, ao serviço do Nacional.
[ Um dos três golos com que Okacha Hamzaoui se tornou o primeiro 10.0 da Liga portuguesa, a 26 de Setembro de 2016 ]
Desde então, só por mais sete vezes apareceu o rating perfeito, o que diz muito sobre o tipo de exibição estatisticamente excepcional que o nosso Antunes exige para atribuir tal prémio. Ao argelino seguiram-se Jonas (17/18) e Pizzi (18/19), vindo então a profícua época de 2019/20 que não só ofereceu três 10.0 (o famalicense Uros Racic foi um deles), como também dois na mesma noite: Rafa Silva e Zé Luís. A “memory lane” (podes encontrar a galeria de statcards dos notáveis, no final deste artigo) encerra-se na época passada, com o poker de acções para golo de Seferovic, à 26ª jornada.
Rafa Silva, o primeiro “bisdez”
Até que chegamos à 15ª jornada de 2021/22 e à fantástica exibição de Rafa Silva, que se torna o primeiro jogador da Liga portuguesa a bisar na conquista do 10.0 GoalPoint Ratings. A surpresa está próxima de zero, para quem viu o jogo, mas os números falam por si para quem se fica pelos resumos. Não é todos os dias que um jogador participa em cinco acções para golo da sua equipa.
[ A memorável “folha de serviço” de Rafa não lhe valeu o MVP da Liga mas rendeu um raríssimo 10.0 na GoalPoint ]

Aliás, o avançado benfiquista atingiu frente ao Marítimo outro feito para os compêndios: tornou-se o primeiro jogador a assistir quatro golos num jogo da Liga portuguesa, desde que há GoalPoint Ratings (2015/16). E o recorde podia ter sido ainda mais impressionante, ou não tivesse Rafa oferecido mais três passes para finalização, entre eles um para ocasião flagrante, desperdiçada por Darwin, aos 58 minutos. Chega de recordes? Nem por isso. Os cinco passes para ocasião flagrante que Rafa totalizou são novamente recorde da Liga portuguesa num só jogo desde 2015/16.
[ Os cinco passes de Rafa para ocasião flagrante de golo, frente ao Marítimo ]

Um jogo inesquecivelmente… atípico
Mas o jogão de Rafa não se fica por aqui e muito menos por algo que, apesar de tudo, lhe é habitual, ou não tivesse ele já definido outro recorde de assistências no jogo imediatamente anterior, frente ao Famalicão, onde ofereceu três golos em apenas 71 minutos.
🥇 Rafa Silva 🇵🇹 é o único jogador das Ligas Top-6 que precisa de menos que 90 minutos até fazer uma assistência
Top-5 mins/assist:
1⃣ Rafa 🇵🇹 (SLB 🇵🇹) 80'
2⃣ Müller 🇩🇪 (Bayern 🇩🇪) 107'
3⃣ Trejo 🇦🇷 (Rayo 🇪🇸) 126'
4⃣ Wirtz 🇩🇪 (Leverkusen 🇩🇪) 139'
5⃣ Çalhanoğlu 🇹🇷 (Inter 🇮🇹) 152' pic.twitter.com/mKnxveFLhq— GoalPoint.pt (@_Goalpoint) December 20, 2021
A verdade é que Rafa chegou ao 10.0 sem praticamente driblar (um tentado, eficaz) e sem realizar uma única condução aproximativa com bola, dois traços habituais no seu estilo de jogo. Em contrapartida o avançado terminou o jogo com o segundo registo mais alto de recuperações de posse da equipa (oito, melhor só Otamendi com nove) e como o benfiquista com mais acções defensivas no meio-campo adversário (3).
[ A localização das 61 acções com bola que levaram Rafa ao rating perfeito ]

E será que a noite endiabrada de Rafa significa que os adversários facilitaram? Nem por isso, pois Rafa foi castigado em falta cinco vezes, o máximo da partida. A verdade é que, para lá da visão e eficácia com que serviu a equipa, a noite mágica de Rafa foi também facilitada pelo próprio, em particular pelo seu posicionamento e movimentação, terminando o jogo com 13 passes aproximativos recebidos com sucesso, o registo máximo do jogo e apenas menos dois do que Darwin e Yaremchuk… somados.
[ A “cereja no topo do bolo”: o belo golo com que Rafa complementou o poker de assistências ]
Sendo que golos marcou um (e que belo gesto técnico), fica a dúvida de até onde rebentaria Rafa o nosso algoritmo, caso tivesse rematado mais, pois a “águia” tentou apenas dois disparos e o segundo até fez perigar, por instantes, o seu 10.0, ao enviar a bola para “o mato”, naquele que terá sido um dos únicos sinais de humana imperfeição, naquela que terá sido uma noite que irá perdurar, na memória de Rafa e nos registos da GoalPoint.