Desde a saída de Nélson Semedo para o Barcelona, no final da época 2016/17, que o lado direito da defesa do Benfica não voltou a ter um “dono” que enchesse os olhos da massa adepta “encarnada”. Nas últimas temporadas, André Almeida (AA) tem sido a peça mais utilizada, mas nunca convenceu na totalidade o exigente Tribunal da Luz.
O mesmo tem acontecido com as outras escolhas que têm tentado “carimbar” uma vaga no corredor direito – falamos de nomes como Douglas, Aurélio Buta, João Ferreira, Tomás Tavares ou, mais recentemente, de Valentino Lázaro ou dos adaptados Diogo Gonçalves e Radonjic – utilizados amiúde por Jorge Jesus na pretérita temporada na linha de cinco defesas que tentou implementar sem sucesso. Poderíamos, ainda, mencionar Pedro Pereira ou Tyronne Ebuehi, que foram contratados, mas nunca tiveram uma real oportunidade.
O “mal-amado” Gilberto talvez tenha sido a excepção neste rol de tentativas falhadas. Pois bem, e ainda sem se saber o que irá acontecer com André Almeida, o lado direito da defesa das “águias” terá um novo candidato a assumir o posto que Nélson Semedo deixou órfão: Alexander Hartmann Bah. O lateral-direito dinamarquês assinou contrato por cinco anos, até 2027, e a SAD benfiquista pagará ao Slavia Praga €8M pelo seu passe, o que o torna no lateral mais caro da história do emblema lisboeta.
Na folha de apresentações, o defensor de 24 anos, que tem raízes gambianas, contabiliza três internacionalizações ao serviço da selecção principal da Dinamarca e algumas características que poderão dar-lhe argumentos válidos para assumir a faixa direita. Graças à estampa física (1,83 cm e 76 quilos), o nórdico sobressai nos duelos físicos, é veloz, qual lança afiada, intenso, alto para a posição que ocupa, não é um prodígio em termos de drible em espaços curtos, mas destaca-se quando progride no terreno e tem espaço para accionar as mudanças de velocidade, envolvendo-se, ainda, com muita inteligência na zona dos últimos 30 metros, ora cruzando com precisão, ora assistindo ou chegando com facilidade e frequência às zonas de finalização e decisão.
Fruto do passado como extremo e como ala numa linha de cinco defesas, denota algumas fragilidades a defender, mas como consegue impor-se fisicamente, vai disfarçando essas lacunas, já que é muito forte nos duelos e a “saltar” nos momentos de pressão. Na última temporada, por exemplo, foi utilizado em 42 jogos oficiais do Slavia, marcou seis golos e gizou 11 assistências.
“Benfica contratou um lateral para ser titular”
Será que após diversos “tiros que saíram pela culatra”, a formação da Luz finalmente acertou no eleito para a lateral-direita? Tomás da Cunha acredita que sim.
“O Benfica contratou um lateral para ser titular e com qualidades que se podem evidenciar na Liga portuguesa, e isso nem sempre tem sido a nota dominante. Isto é, o clube muitas vezes esqueceu quase aquela posição. Não comprou um jogador que fosse verdadeiramente impactante num primeiro momento e Bah tem, de facto, esse potencial, é um jogador que no Slavia de Praga fez boas temporadas, até num plano europeu, os checos chegaram a fazer brilharetes nas provas europeias. É um atleta que, primeiro, encaixa com Roger Schmidt. É um jogador muito atlético, para fazer todo o corredor, muito resistente, enérgico, que dá muita verticalidade e profundidade, e isso pode libertar o extremo para depois atacar outras zonas interiores e de finalização. Bah faz o corredor sem grandes problemas, é muito rápido, forte também, com precisão no cruzamento. Não é um jogador muito criativo, mas pega bem na bola no último terço, consegue assistir com alguma facilidade e, nesse sentido, creio que Schmidt terá aqui a sua primeira opção e um elemento que dará garantias”, começa por analisar Tomás da Cunha. Em declarações à GoalPoint, o comentador refere, também, que o dinamarquês terá de se adaptar a uma nova realidade e a um sistema táctico diferente daquele a que está habituado, mas não tem dúvidas relativamente à mais-valia do reforço.
“Do ponto de vista defensivo, tem alguns problemas ao nível do posicionamento e convém recordar que o Benfica vai jogar com uma defesa com quatro unidades e não cinco, e o passado de Bah, por exemplo na Dinamarca, é numa linha de cinco, jogando como ala direito e fazendo todo o corredor, porque não é um lateral de origem, um jogador que tem um passado a actuar mais à frente, como extremo, como ala, um pouco mais protegido por três centrais. No Benfica, embora a maior parte dos jogos sejam de meio-campo, a equipa passa as partidas quase todas a atacar e não há assim tanta exigência defensiva, só mesmo nos momentos de transição, mas nos jogos de maior exigência é preciso perceber como Bah se pode comportar porque não é um jogador que tenha sido testado ao mais alto nível nesse sentido”, salienta.
No futebol preconizado pelo “mister” germânico, os laterais têm um papel determinante, são eles que dão amplitude à equipa nas faixas, libertando os extremos para missões mais interiores…
“Em suma, Bah é claramente melhor a atacar do que a defender, sobre isso não há grandes dúvidas, mas creio que Roger Schmidt pede mais isso do que outra coisa. É um treinador de risco, que quer essa vertigem nos corredores laterais, e por isso creio que Bah é um encaixe bastante natural neste previsível ‘onze’ do Benfica e das ideias do treinador alemão. Roger Schmidt joga muitas vezes com os extremos com o pé trocado, que jogam de fora para dentro e assim libertam o corredor para a subida dos laterais e, por isso, teoricamente jogará com laterais mais exteriores”, finaliza o comentador da TSF, Eleven Sports e Tribuna Expresso.
O Benfica será a terceira aventura do internacional A pela Dinamarca, que antes de ingressar no Slavia Praga actuou no SonderjyskE.
“Ainda falta saber o que vai acontecer a Grimaldo, que não tem propriamente essas características, mas Ristic é um jogador com algumas semelhanças a Bah, muito forte fisicamente para fazer todo o corredor, com alguma qualidade no cruzamento, que desequilibra de diversas formas em condução na chegada ao último terço. O perfil está identificado. Roger Schmidt normalmente quer esse tipo de jogador, mas isso não significa que Grimaldo não venha a ser importante, porque é um jogador diferenciado na Liga portuguesa, mas a ser aproveitado creio que é por já estar no plantel e não tanto porque o treinador o pediria.”