O brasileiro Marçal, lateral-esquerdo de 26 anos que o SL Benfica foi contratar ao Nacional da Madeira, quer ser “uma dor de cabeça para Rui Vitória”, disse-o. Não nos espantemos se o for mesmo, mas talvez não pelas razões que deseja.
Se Eliseu foi, durante a última época, uma “dor de cabeça” para os adeptos do Benfica, e provavelmente para Jorge Jesus, no que à fase defensiva dizia respeito, Marçal pode tornar-se também numa mas no pólo oposto, a atacar. Se Eliseu agradava aos adeptos de um futebol mais atacante, mas desagradava aos que consideram que um lateral deve, acima de tudo, saber defender, já Marçal é o oposto, mais conservador. Se se insere no último grupo de “treinadores de bancada”, então o brasileiro é o seu homem para jogar a titular na nova equipa de Rui Vitória.
Senão veja os números e decida por si mesmo quem terá mais condições para fazer o lugar – optámos por analisar o desempenho comparado de ambos apenas nos jogos frente aos cinco primeiros classificados.

Eliseu tem 31 anos, já não vai para novo, Marçal tem 26. Eliseu é, assim mais experiente e, olhando para os números, nota-se claramente qual o seu foco: o ataque. O açoriano registou 0,9 remates por jogo, contra 0,6 do brasileiro, e enquadrou cerca 43% deles, contra nenhum do nacionalista. Nestes jogos mais “quentes”, Eliseu marcou um golo, Marçal não o conseguiu, o português acertou 78% dos passes, o “canarinho” apenas 65%, e o benfiquista fez mesmo uma assistência para golo (Marçal nenhuma). Até nos passes no último terço do terreno o internacional luso esteve sempre muito melhor, com 78,6% de eficácia contra 57,7% do então lateral do Nacional. Este ganhou na eficácia de drible (44,4% vs 30%) e cruzamentos (19% vs 0%), mas quanto a atacar ficou-se por aqui.
À primeira vista não há dúvida: Eliseu é e será dono do lugar. Mas podemos analisar a questão assim? Claro que não. O futebol do Benfica será, obrigatoriamente, diferente a partir daqui, e mesmo que Rui Vitória opte por não mudar muito a estrutura da equipa (o 4x4x2), poderá, ainda assim, privilegiar a segurança defensiva pelo flanco. E aí…
Marçal teve melhor percentagem de duelos ganhos (64,3% para 61,5%), mais intercepções por cada 90 minutos (4,1 vs 3,6), mais desarmes (4 vs 2,4) e uma maior eficácia neste domínio (78,6% de Marçal para 68,4% de Eliseu). O brasileiro conseguiu também mais alívios, menos perdas de bola e tudo realizando menos faltas (0,6 contra 1,5) por cada 90 minutos.
O diagnóstico está feito. Cabe agora a Rui Vitória escolher que tipo de dor de cabeça quer ter a cada semana.