O FC Porto perdeu vários nomes importantes nas conquistas da época finda. Os reforços vão chegando ao Dragão, a conta-gotas mas com impacto, ou não tivessem os “azuis-e-brancos” definido o novo recorde de transferências entre emblemas lusos com a aquisião de David Carmo, Após alguns dias de regresso à acalmia, eis que o campeão nacional assegura uma das grandes promessas dos últimos anos do futebol brasileiro, Gabriel Veron. Mas será esta uma aposta segura ou um tiro arriscado?
O atacante de apenas 19 anos chega proveniente do Palmeiras, clube orientado por Abel Ferreira (de quem somos suspeitos falar), a troco de €10,2M, tendo assinado um contrato válido até Junho de 2027. Ao contrário do que muitas vezes sucede com os talentos do futebol brasileiro, Veron cumpriu todo o percurso de formação no “Verdão”, clube que o considerou desde sempre o jogador com maior potencial de futuro.
A possibilidade de contratação de Veron deixou adeptos portistas e analistas lusos entusiasmados, perante o nome e margem de progressão assinalável do jovem, porém algumas questões têm sido colocadas. O atleta, estrela do Mundial Sub-17 de há dois anos, que o Brasil conquistou – e no qual foi considerado o melhor jogador do torneio -, chegou a ter um valor de mercado no Transfermarkt de €25M, alcançado em Fevereiro de 2020.
Aquém da expectativa ou apenas à espera de um novo desafio para explodir?
No entanto, no momento em que fez as malas para rumar ao Dragão, o jogador apresentava um valor de mercado de 12 milhões de euros. As próprias palavras da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, proferidas já após a conclusão do negócio, não colocam em causa o valor do jogador mas deixam claro que o campeão sul-americano esperava mais de Veron, até ao momento de o vender ao campeão nacional português.
A questão que fica é: estamos perante um Veron de facto à margem do potencial outrora atribuido ou apenas a aguardar uma mudança de ares e contexto competitivo, para fazer explodir todo o seu potencial Nem sempre as quebras de rendimento apontam para uma fase descendente irreversível. A idade do jogador, a adaptação a novas exigências competitivas e tácticas podem ter o seu peso.
[ Os números de Veron no último “Brasileirão e meio”, comparados com algumas figuras do Porto campeão 21/22 ]
Por isso, importa olhar para alguns dados para tentarmos perceber para onde caminha Veron, com a ajuda dos nossos analytics e da avaliação GoalPointPRO.
A apreciação
Gabriel Veron chega ao Porto como a contratação mais sonante (não a mais cara) do mercado de Verão até ao momento. Muitos ainda têm na memória o Mundial Sub-17 de 2019, onde o brasileiro foi campeão e considerado o melhor jogador da prova, mas será que ainda se trata do “mesmo Veron”?
Nesse torneio, o pecúlio de Gabriel foi de três golos e duas assistências em sete jogos, complementado com outros dados relevantes: 3,3 remates e 2,5 passes para finalização a cada 90 minutos foram números que impressionaram num Brasil altamente dominador, que fazia mais de 20 remates por jogo e que, curiosamente, tinha no “onze” Peglow, que passou pela equipa B dos portistas no ano passado, sem se afirmar como titular. Veron terminou ainda com 3,3 dribles eficazes e 2,2 faltas sofridas a cada jogo.
“Fast forward” para os números dos últimos dois anos no Brasil e a realidade é bem diferente. Os remates caíram de 3,3 para 1,2. Os passes para finalização de 2,5 para a 1,8 e o volume de drible e faltas sofridas despencaram quase para metade. De 5,5 nesse Mundial, Veron passou para 2,9 no contexto do futebol brasileiro.
Se é normal que a diferença de nível dos adversários se faça notar muito nestas comparações, também não é normal que aconteça com tal relevância e os portistas devem mesmo estar preparados para um jogador ligeiramente diferente do que eventualmente viram há três anos.
Apesar de ter feito alguns jogos na posição “9”, visto que o Palmeiras tinha alguma escassez de opções para essa posição, Gabriel Veron é um extremo e assim deverá aparecer no Dragão. Destro (como todos os outros do plantel depois da saída de Francisco Conceição), pode jogar nas duas alas e tem na velocidade talvez a sua principal característica. No momento de desequilibrar a nível ofensivo, a tendência de Veron é sobretudo de atacar o espaço e não de partir para cima dos adversários em acções individuais. Com Abel Ferreira desenvolveu os “timings” de ataque à profundidade e os seus recursos técnicos passaram a notar-se bem mais na forma como recebe orientado para ganhar vantagem, do que propriamente em grandes dribles ou acções individuais, destacando-se agora mais pela qualidade dos movimentos sem bola.
Seja a partir da esquerda ou da direita, a tendência passa muitas vezes por atacar a linha de fundo e não a baliza. É muito forte nessas acções, criando situações de finalização para os colegas através de cruzamentos rasteiros atrasados, um pouco à semelhança do que se via em Luis Díaz. Pouco egoísta, característica que o colombiano também tinha, raramente procura rematar se tiver melhores opções, algo em que difere bastante de Galeno, um dos seus futuros concorrentes. Ao invés do ex-Braga, tende a finalizar mais pela certa e com boa eficácia (“overperformance” de 9% nos xG), não exagerando nos remates de meia distância e tomando, no geral, melhores decisões.
Algo que também agradará a Sérgio Conceição é o comprometimento nas tarefas defensivas. Veron regista uma média de 2,1 acções defensivas no primeiro terço, registo que subiu para 2,6 em 2022 e que não tem paralelo com nenhum dos extremos portistas. Veron tem ainda boa eficácia nas tentativas de desarme (50% e 62% em 2022) e retém a bola na maioria (69%) dos desarmes que consegue. Sérgio Conceição tem historial de adaptações algo improváveis na posição de lateral-direito (Corona, João Mário, Pepê…) e nenhum deles apresentava registos tão promissores nesse sentido no momento da adaptação, pelo que, até tendo em conta a sua capacidade para desequilibrar em velocidade, não é de descartar termos aqui uma surpresa lá mais para a frente.