Rúben Vinagre: cinco aspectos do jogo em que suplantou Nuno Mendes

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#MeteVinagreNisso. A hashtag pegou, no dia da oficialização de Rúben Vinagre como reforço do Sporting para a época 21/22. O lateral regressa assim a uma casa que conheceu entre 2013 e 2015, ainda durante a sua formação, antes de rumar ao Mónaco e preencher um currículo atípico (ou não) para um jogador de apenas 22 anos: passou por Mónaco, Wolves, Olympiacos e Famalicão, este último o clube de onde se transfere, rumo aos “leões”.

A passagem pelo Minho foi tão feliz para Vinagre como para o clube. O lateral chegou ao Fama apenas em Janeiro de 2021, mas mostrou rapidamente serviço e foi instrumental numa segunda volta que ultrapassou o plano inicial de fuga ao risco de despromoção e terminou até num excelente nono lugar. Anos após Vinagre descobrir o que é ser bicampeão europeu por Portugal (Sub-17 em 2016 e Sub-19 em 2018), Vinagre dá o salto necessário, na procura de títulos seniores, com um emblema de um clube ao peito.

Mas o desafio é exigente. A Rúben Vinagre cabe herdar (dependendo do que o mercado vier a ditar) ou até competir por um lugar com Nuno Mendes, o titular de posição cujo desempenho na última época dispensa recordatório. A tarefa é puxada, mas o que nos diz o desempenho comparado entre os dois laterais? Terá Rúben Vinagre suplantado Nuno Mendes em algum indicador relevante que torne a sua aquisição ainda mais interessante? A verdade é que… sim. Eis cinco aspectos do jogo em que, apesar do contexto (clube, objectivos, luta pela permanência vs luta pelo título), Vinagre suplantou o cobiçado jovem “leão”, quando poucos o esperariam.

Vinagre com mais golo, e não foi por acaso

Vinagre não fez o gosto ao pé na Liga 20/21, ao contrário de Nuno Mendes, que marcou um (belo) golo em Portimão. No entanto, e pese os 740 minutos jogados a menos, Rúben até terminou a Liga com mais acções para golo do que Mendes, fruto das três assistências que somou, e existem boas razões para tal se dizer que o uso de vinagre deu mais golo.

[ Os passes para finalização de bola corrida dos dois laterais, na Liga 20/21 ]

Apesar da diferença de contexto, o recente reforço leonino terminou com melhor média de passes para finalização de bola corrida (0,8 contra 0,4 de Mendes) e até suplantou Mendes no número de ocasiões flagrantes oferecidas (seis, contra quatro), com a bola a rolar.

[ Os passes para ocasião flagrante de golo – Vinagre ofereceu mais, em menos 740 minutos jogados ]

Vinagre dá tempero ao cruzamento

Como seria natural esperar, ambos os laterais ofereceram muitos cruzamentos de bola corrida, com Nuno Mendes a ensaiar o gesto cerca de três vezes a cada 90 minutos (Vinagre ficou-se pelos 2,2). Sendo este o tipo de lance cuja eficácia depende também do mérito do receptor, não deixa de ser notável a diferença de eficácia entre ambos, num tipo de lance cujo “benchmark” de sucesso costuma rondar os 20%: Nuno Mendes entregou 17%, Vinagre cruzou com 38% de eficácia, um registo muito acima da média. Importa aliás referir que, ao trazer Vinagre e Esgaio (27%), o Sporting reforçou-se com dois laterais com eficácias de cruzamento superiores a Mendes e Porro (17%).

[ Os cruzamentos de bola corrida de Vinagre e Mendes – o primeiro mostrou uma eficácia muito acima da média ]

Condução de bola… “avinagrada”

Aquelas incursões progressivas de Nuno Mendes com a bola nos pés impressionaram ao longo da época não foi? Pois fique sabendo que Vinagre terminou a Liga batendo os (já bons) registos do jovem “leão” nesta matéria e em várias “disciplinas” associadas à condução com bola, a saber:

Médias na Liga 20/21Rúben VinagreNuno Mendes
Conduções2.82.3
Conduções aproximativas2.21.6
% Conduções aprox. s/ perda de posse72.5%60.5%

Nuno Mendes somou 59 conduções na Liga, contra 51 de Vinagre, uma diferença sem proporcionalidade na diferença de minutos (e ambições colectivas) dos laterais em comparação. Os mapas de cada jogador mostram aliás uma tendência interessante: apesar de ter lutado por objectivos mais modestos, é Vinagre a mostrar uma tendência mais ofensiva (no que respeita à intenção de aproximação à baliza contrária). Por fim outra curiosidade: Vinagre somou até mais conduções aproximativas sem perda de posse do que Nuno Mendes, 29 contra 26. Mais uma vez os minutos jogados dão maior peso a uma diferença que, à primeira, parece pouco expressiva.

Drible com vinagre

Propensos à progressão com bola, não admira que ambos os jogadores se destaquem também na frequência do recurso ao drible. Curiosamente este é mais um aspecto em que, demonstrando ambos eficácias semelhantes (a rondar os 50%), revela um Vinagre ainda mais interessado a ultrapassar adversários em duelo, com a bola nos pés, algo que tentou fazer quase cinco vezes a cada 90 minutos na Liga, contra 3,4 de Nuno Mendes. 

Uma maior apetência pelo drible poderia fazer imaginar um Vinagre com menos critério (ou maior risco) na decisão pelo drible, mas… não é o caso. O reforço guarda precisamente para o último terço ofensivo a frequência com que se destaque de Mendes (2,6 tentativas contra 1,8) e somou aliás mais dribles eficazes já dentro da área contrária.

[ Os dribles tentados na Liga 20/21 ]

Faltas? Longe da baliza a defender

Na hora de defender, a soma de médias elevadas em acções defensivas nunca diz tudo sobre a qualidade defensiva de um jogador ou equipa e até pode indiciar problemas, individuais ou colectivos. Ainda assim o capítulo defensivo é aquele em que Nuno Mendes ganha maior vantagem sobre Rúben Vinagre, com base nos números da época passada.

[ O statscard comparativo de Mendes e Vinagre, com uma selecção de algumas variáveis fundamentais na posição ]

Rúben tem caminho a percorrer para igualar Nuno Mendes em “disciplinas” como a antecipação/intercepção de passes adversários (1,0  p90, contra 2,3 de Mendes) ou perdas de posse ainda no próprio terço defensivo (2,1, contra 1,8 do jovem “leão”).

Significa isso que não há nada a destacar no desempenho defensivo comparado de Vinagre? Longe disso. O reforço apresenta sinais positivos de melhoria noutros aspectos, como por exemplo o facto de não ter cometido qualquer erro directamente resultante em remate ou golo (Mendes somou um, para remate) e também o cuidado que tem em cometer as suas faltas o mais longe possível da sua área, isto apesar de ter uma média de infracções semelhante a Mendes.

[ As faltas cometidas na Liga pelos dois laterais, com Vinagre a cometer apenas três no seu terço defensivo ]

Antes de a bola rolar os reforços são mais ou menos bons “no papel”. Ainda assim, e aguardando pelo pontapé de saída, os sportinguistas terão de fazer algum esforço para se recordarem de tanta fartura para ambas as posições de lateral. Pese o destaque meteórico que Nuno Mendes justamente protagonizou, os números de Vinagre parecem indicar que os “leões” se prepararam para qualquer cenário, seja ele render o cobiçado jovem lateral sem hipotecar o desempenho ou simplesmente preparar o plantel para defender o cumprimento das expectativas construídas na última época.

GoalPoint
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