Táctica: Holanda vs. Argentina, um confronto com História

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A Holanda enfrenta novamente a Argentina num campeonato do Mundo, tendo talvez na memória as contas pendentes de 1978, quando a fabulosa “Laranja Mecânica”, na altura sem Johan Cruyff, caiu aos pés de Mário Kempes e companhia na final do Mundial da Argentina.  O futebol é hoje diferente, mas tal como nessa altura o resultado é imprevisível e cada equipa apresenta os seus argumentos. Analisamos cada um dos conjuntos, à luz do que foram mostrando ao longo deste Mundial.

 

1. A “Laranja Mecânica”

 

(figura 1 - O esquema inicial de van Gaal)
(figura 1 – O esquema inicial de van Gaal)

O ataque

(figura 2 - o processo ofensivo "laranja")
(figura 2 – o processo ofensivo “laranja”)

Talvez apostando em demasia num rasgo de criatividade por parte de Arjen Robben ou Robin van Persie, a selecção holandesa opta por, no momento ofensivo, jogar num ataque posicional que pouco ou nada arrisca. Ficando neste momento do jogo três centrais muito fortes fisicamente, os laterais da Holanda (D. Blind e D. Kuyt) sobem bastante no terreno providenciando bastante largura ao ataque holandês. Sneijder é um criativo que tenta pegar no jogo ocasionalmente, dando alguma clarividência quer na questão da organização do jogo em si quer no próprio ritmo e controlo do mesmo. Van Persie e Robben são dois jogadores muito rápidos e verticais, que deambulam pela frente de ataque da equipa de Van Gaal, mas que apenas parecem querer criar perigo já dentro da área adversária ou com recurso a cruzamentos.

A defesa

(figura 3 - a forma como os holandeses fecham os caminhos para a sua baliza)
(figura 3 – a forma como os holandeses fecham os caminhos para a sua baliza)

A Holanda defende por norma em 1-5-4-1 com bloco alto e usa um sistema de marcação individual que tem demonstrado não dar espaço aos adversários e tem sido bastante assertivo na recuperação de bola. N. De Jong é o “trinco” puro desta equipa, que além de manter os equilíbrios defensivos no momento ofensivo e transição ofensiva, é também o jogador mais agressivo no pressing e na recuperação da bola. Os três centrais são muito altos e fortes fisicamente, e portanto dominam por completo o jogo aéreo na área “laranja”.

 

Os pontos fortes

O ponto forte desta equipa é a verticalidade de jogadores como Robben, M. Depay, J. Lens ou mesmo Van Persie. Os extremos têm uma óptima qualidade no drible e são jogadores muito rápidos. Quer tentem flectir para dentro ou ir à linha cruzar, causam sempre perigo. Literalmente, Van Persie ao estar na ponta da “lança” destes guerreiros holandeses confere aos comandos da “velha raposa” Van Gaal uma capacidade de finalização e criatividade na grande área de classe mundial.

As fraquezas

A grande fraqueza desta equipa é a agressividade em demasia com que os centrais tentam recuperar a bola no momento defensivo. Bruno Indi, R. Vlaar e S. De Vrij são três atletas muito fortes fisicamente e bastante altos que, por serem fracos na parte técnica de recepção de bola, passe e até no timing de entrada na bola, tentam compensar estes defeitos com a pujança física. Por outro lado, a lentidão e falta de ideias que existe na dinâmica de jogo holandesa (construção baixa e construção alta sobretudo) condiciona a equipa no momento ofensivo, dando a uma equipa adversária bem organizada defensivamente uma facilidade grande na protecção da sua baliza.

Miguel Pontes
Miguel Pontes
Engenheiro civil de formação, actualmente na Deloitte, tem dado sequência à sua paixão pela vertente técnica e táctica do futebol, com passagens pelo CF Benfica (Scouting), SG Sacavenense (como técnico adjunto nos sub19 e posteriormente na área de scouting) e colaborações com a Belenenses SAD e diversos agentes.