Love him or hate him, não o vais ignorar. Medhi Taremi é por muitos reduzido à frequência com que conquista penáltis para os “dragões”, uma opção dos que convenientemente “esquecem” que o iraniano já trazia esse “talento” consigo, quando chegou ao Dragão. No entanto, quem percebe e realmente aprecia Futebol, sabe que o iraniano é muito mais do que isso. E ele acaba de nos relembrar disso mesmo, com grande estardalhaço.
No topo da Liga desde 2019
Sim, é verdade que Taremi conquistou nada menos do que 18 grandes penalidades na Liga Bwin, desde que chegou a Portugal, oito deles ainda ao serviço do Rio Ave. Mas Mehdi é também o jogador que mais vezes balançou as redes no campeonato luso, desde que cá aterrou, com 54 tentos. “Ah, mas “metade” são penáltis!” dirão alguns. Errado.
Mesmo descontando tudo o que é bola parada o iraniano marcou 38 golos de bola corrida na Liga, mais uma vez o registo-mor, à frente de Pedro Gonçalves (33) e Ricardo Horta (32), no mesmo período. E se por esta altura, ainda olhas Taremi como um mero “pinheiro de área”, que só pensa em marcar, aqui vai a machadada final nas tuas convicções de “achómetro”: “TareMITO” é também o segundo jogador com mais assistências da prova, desde 2019/20, com 25 passes para golo, apenas menos três que outro colega que, curiosamente também atrai muitos “haters”: Otávio Monteiro.
Entrada directa para o “clube dos 10.0“
Mas chega de passar manteiga iraniana e regressemos ao tema principal, a grande exibição inaugural de Taremi na época 22/23. Ao fim de oito anos de GoalPoint contavam-se pelos dedos de duas mãos os jogadores que atingiram o rating “perfeito” de 10.0 num jogo ao serviço de um clube português. O número de membros deste restrito clube confirma o grau de exigência do algoritmo do nosso Antunes, para uns demasiado exigente, para outros adequado ao carácter excepcional com que a “perfeição” deve ser galardoada.
Taremi, como tantos outros eleitos, inclui-se no grupo dos que parecem valorizar a raridade com que costumamos premiar os “perfeitos” pois já reagiu, com satisfação e em privado, à entrada no “clube dos 10.0“. A verdade é que não lhe faltam motivos de orgulho e razões estatísticas para a distinção, todos saído dos seus pés, cabeça e, sobretudo, inteligência demonstrada em campo. Eis o seu statscard da final frente ao Tondela, seguido de algumas notas que contextualizam a exibição excepcional que rubricou.
[ Os destaques do rating “perfeito” de Taremi ]
- Mehdi somou cinco remates (2º melhor registo do jogo atrás de Loader), três deles enquadrados. Apesar de ter desperdiçado uma ocasião flagrante o iraniano suplantou (em mais um golo) os Expected Goals de que dispôs: 0.7. O seu primeiro golo acabou por ser especialmente importante, ao desbloquear o marcador e resolver o desperdício que os colegas vinham protagonizando, até então. O tento inaugural teve ainda relevância histórica (vide tweet seguinte)
𝗞𝗶𝗹𝗹𝗲𝗿 𝗜𝗻𝘀𝘁𝗶𝗻𝗰𝘁 ⚡ O primeiro golo do @MehdiTaremi9 foi o seu golo 5⃣0⃣ com a nossa camisola 💙
🎙"Viemos mostrar o nosso enorme caráter e isso permitiu-nos ganhar o jogo"#Supertaça23 pic.twitter.com/0ZRkYTwroi
— FC Porto (@FCPorto) July 31, 2022
- Apesar de alguns media lhe atribuírem uma assistência (sem qualquer cabimento metodológico diga-se) a verdade é que não só Taremi não precisou dela para atingir o 10.0 como fez de facto o suficiente para obter pelo menos uma (legítima): o iraniano fez dois passes para ocasião flagrante, desperdiçados por colegas, com 0.2 Expected Assists.
[ Os 10 passes aproximativos de Taremi, certamente uma surpresa para quem o vê (erradamente) como um “pinheiro” ]
- O “Rei da Persia” completou 28 passes, quatro deles muito aproximativos (+50% de aproximação face à área contrária), o máximo da partida sendo também o jogador que mais passes aproximativos recebeu (10). Falhou cinco passes, é certo, mas nenhum deles em zona de risco.
- O “nove” foi também o jogador com mais acções dentro da área adversária (12), o que mais dribles eficazes somou (três em cinco, tantos quanto João Mário) e ainda o que mais acções defensivas somou no meio-campo adversário (4), um predicado que costuma ser entregue ao “ausente” Otávio, especialista-mor da Liga portuguesa, neste capítulo.
- Disputou dois duelos aéreos ofensivos e adivinha lá o que sucedeu? Ganhou ambos, claro.
[ O mapa de acções com bola de Mehdi na final ]
- Ao todo Taremi somou 54 posses e apenas perdeu nove, um registo excepcional para um jogador que tem como missão arriscar e fazer a diferença junto à baliza contrária.
- Por vezes perguntam-nos quanto seria o rating de um jogador que atinge o 10.0, caso não existisse um máximo. Neste caso a resposta é 10.14. Ou seja um 10 perfeito que ainda permite descontos para o Estado.
- E para fechar o embrulho com um laço o iraniano concluiu a sua final sem cometer ou “ganhar” qualquer falta, retirando aos haters qualquer margem de embirração. Que má vontade.