Análise ao Benfica: Ventos da Noruega trazem eficácia nas Taças

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E m Leiria o Benfica venceu o Braga por 3-0 na meia-final, levou a melhor nos penáltis frente ao Sporting na final da Taça da Liga e eliminou o Farense na Taça de Portugal. Tudo resultados positivos, mas que podem esconder alguns dos erros crónicos que a equipa ainda vai cometendo. No jogo com o Braga, o Benfica fez uma das melhores exibições da época e na primeira parte frente ao Sporting também esteve bem. Contudo, na segunda e em Faro a equipa voltou a ter dificuldades para chegar à frente.

1. Schjelderup

Os adeptos pediram, o jornalista questionou, o momento menos bom de Aktürkoglü proporcionou: Schjelderup teve a oportunidade a titular e correspondeu. Bruno Lage começou por atirar a questão para canto dizendo que os jogadores tinham de seguir o exemplo de Leandro Barreiro e treinar bem para depois terem a oportunidade em campo e aí provar valor, mas o certo é que o treinador dos “encarnados” acabou por lançar o talento nórdico e colheu os frutos com o Braga e Sporting para a Taça da Liga, e depois para a Taça de Portugal. Foram dois golos, ambos importantes. Trata-se de um jogador que não perde a bola em zonas de construção (perde algumas na criação, mas isso é normal e fora de perigo), traz criatividade, golo e imprevisibilidade. Tudo o que faltava ao colectivo do Benfica.

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2. Cruzamentos para… ninguém

Jogo após jogo, a ideia que transparece é que o Benfica não sabe encontrar os seus avançados. Pegando apenas no jogo de Faro (até porque isto é transversal a toda a época), Pavlidis trabalha, mas marca pouco, Amdouni não se ligou ao jogo em Faro e Cabral marcou, mas fez uma primeira parte para esquecer. Neste caso, vou pegar apenas no critério dos cruzamentos. O mapa abaixo mostra como acabou o jogo do Benfica em Faro no que toca aos cruzamentos. O que podemos ver é que o Benfica até cruza numa boa quantidade (18), mas cruza sem qualidade (ao intervalo nenhum cruzamento para o centro da área tinha chegado a um jogador do Benfica). Este foi um jogo onde os três avançados do Benfica estiveram em campo e nenhum deu resposta aos cruzamentos. Há movimentações na área que fazem parecer que os jogadores se limitam a arrastar marcações, mas também há más definições por parte de quem cruza.

[ Os 18 cruzamento do Benfica em Faro ]

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3. Gestão de tempo de jogo

Bruno Lage viu Di Maria sair lesionado em Faro, mas este dado, apesar de infeliz, acaba por não surpreender. A gestão do treinador das “águias” é, no mínimo, questionável quando este continua a deixar de fora Rollheiser e Prestianni sem grande justificação (Prestianni entrou no Boletim Clínico no último jogo). No jogo frente ao Braga para a meia-final da Taça da Liga, o Benfica vencia por 3-0, com a partida controlada, e Lage ainda assim fez Di Maria e Pavlidis completarem 75 minutos e Carreras 81. Se havia opções no banco, porque não dar minutos? Porque não fazer descansar Carreras e Di Maria que têm sido dos melhores jogadores? O treinador terá sempre o acesso exclusivo aos dados de GPS dos seus pupilos, mas a gestão é um ponto a melhorar sob pena de possíveis novas lesões por sobrecarga.

[ As substituições de Lage ante o Braga ]

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4. Incoerente

O meio campo “encarnado” no último jogo da Taça de Portugal não foi além de um Florentino, Aursnes e Leandro Barreiro, sendo este último quem assumiu as funções de Kökçü. Ora, Lage disse na antevisão que identificou o problema do Benfica em controlar melhor os jogos porque a equipa não “sabia” ter/guardar a bola. Isso é factual e estamos todos de acordo. Por outro lado, ao lançar o meio-campo referido acima, também não pode contar com muito mais porque são jogadores que não são criativos ou capazes de muitos passes verticais a ligar sectores. Lage identifica o problema, mas não só não o corrigiu, como o complicou com as alterações em função da rotação da equipa na Taça.

[ Os passes falhados do Benfica ante o Farense ]

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Schjelderup tem tudo para ser um dos jogadores mais importantes do Benfica nesta segunda metade da época. Traz muitas coisas que o Benfica não tinha e passou a ter com ele em campo. Rasgo, recepção entrelinhas, retenção da posse de bola, golo e desequilíbrio. O norueguês não é a “última bolacha do pacote”, mas é alguém que não se esconde e vai para cima. Nem sequer é justo meter tudo nas costas de um menino que fez apenas três jogos seguidos. É deveras importante que o universo benfiquista não ignore as lacunas apresentadas. Umas são corrigíveis com treino, outras só com retoques no mercado de Janeiro. Bruno Lage terá de mostrar que também sabe treinar uma equipa cheia de egos como a do Benfica e a Direcção também tem de estar a todo o vapor para dar condições a Lage para que este possa conquistar os objectivos que restam nesta época.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.