Análise ao Benfica: O que esperar desta “águia”?

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O Benfica de Lage é tacticamente (e emocionalmente) instável. Ora está a dizimar o Barcelona de Hansi Flick, ora permite uma cambalhota e depois é dominado pelo Casa Pia. Nunca se sabe ao certo qual é o Benfica que vai aparecer em campo. Quanto ao treinador, é impossível ficar isento de culpas porque está constantemente a adaptar-se aos adversários ao invés de criar uma identidade de jogo que facilite o rendimento aos jogadores.

1. Fase de construção

Contra o Barcelona o Benfica teve este momento bem preparado. Os “encarnados” não queriam realmente construir desde trás, a equipa queria chamar o Barcelona para depois aproveitar o muito espaço que os catalães deixam nas costas. A verdade é que o conseguiu fazer por várias vezes. No entanto, as várias perdas de bola neste processo acabaram por deixar o Barcelona muitas vezes perto da baliza do Benfica. Contra o Casa Pia, a equipa quis realmente construir, mas aqui o problema foi o perfil dos jogadores. Bah, António, Otamendi, Florentino e Barreiro não são construtores e condicionaram o colectivo. Voltaram a existir perdas de bola que deram em golo adversário. Lage viu e deixou Tomás Araújo (o central que melhor constrói) no banco.

[ Os passes de alto risco falhados do Benfica ante o Casa Pia ]

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2. Criação

O ataque organizado do Benfica não é estruturado ou trabalhado. Vive de rasgos e desequilíbrios individuais. Aqui, a entrada de Schjelderup teve um impacto enorme na qualidade do colectivo. Foi um jogador que potenciou Kökçü e Carreras, tem drible, golo e último passe. Hoje, há um Benfica com Schjelderup e outro sem o norueguês e isso foi visível frente ao Famalicão, Barcelona e Casa Pia. Por outro lado, Aktürkoglü deixou de marcar, mas chamado à ala direita foi essencial na ajuda defensiva que deu a Tomás Araújo. Di Maria perdeu gás.

[ As 38 acções de Schjelderup  ante o Famalicão ]

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3. Finalização

Já aqui falei deste tema no passado. O Benfica não utiliza os avançados para fazer golos, mas exige que os façam. Ninguém nega que Arthur e Pavlidis têm de marcar mais e aproveitar as oportunidades que têm, mas olhando primeiro para o brasileiro e pegando no jogo frente ao Casa Pia, o posicionamento médio ao intervalo era na linha de meio-campo. São apoios e duelos de costas para a baliza. Se Arthur está a trabalhar ali, dificilmente vai estar em condições de finalizar caso a bola chegue à área. Pavlidis teve um jogo de sonho frente ao Barcelona mas isso não é a regra. O avançado grego desdobra-se em tarefas colectivas e deixa de estar na área. Frente ao Casa Pia entrou para avançado móvel que descaía nas alas. Volto a referir que terão de aproveitar as poucas oportunidades que têm, mas na verdade, Lage pede-lhes trabalho e nem tanto golos.

[ Posicionamentos ao intervalo frente ao Casa Pia ]

Posicionamentos-Casa-Pia-Benfica-Intervalo-202425

4. Bolas paradas

O Benfica deixou de conseguir ser eficaz com regularidade nas bolas paradas. Uma equipa da dimensão do Benfica terá sempre muitos livres e cantos, derivado ao caudal ofensivo que apresenta em todos os jogos, porém o que se vê são bolas enviadas para a área e pouco trabalho de casa. Contra o Casa Pia houve vários cantos em que é possível ver que não há qualquer tipo de movimentações ou bloqueios. O Benfica coloca os seus jogadores na zona de penálti e quando a bola parte há a corrida para assumir a posição frontal à baliza. É fácil de anular ou incomodar. Falta uma variabilidade que dificulte a vida aos adversários, que torne a jogada imprevisível, mas falta sobretudo preparar este momento do jogo com a importância que tem… que é cada vez maior.

[ Cantos do SLB: 3 golos, 4 remates enquadrados, 21 remates, 38 cantos ganhos sem remate ]

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O Benfica não consegue estabilizar. Venceu a Taça da Liga e até poderia merecer ter vencido o Barcelona, mas de resto, a equipa não cresce como colectivo e isso nota-se quando faltam certos jogadores. Se não há Schjelderup, não há criatividade. Se não há Araújo ou Carreras, não há saída de bola desde trás. E por aí fora. O Benfica consegue ter jogadores acima da média e que resolvem jogos, mas isso é um adiar do problema se Bruno Lage não implementar rapidamente um modelo de jogo que ajude todo o grupo a saber o que tem de fazer em campo na ausência de determinados colegas. O que se vê é que o suplente é de um perfil distinto do titular e isso faz com que reproduzir algo seja impossível. Lage roda a equipa e a equipa deixa de responder porque do banco vem um ADN completamente diferente.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.