Análise ao Benfica: do autocarro bávaro ao atropelo histórico

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A última semana de futebol de clubes antes de mais uma paragem para Selecções revelou um Benfica de duas faces. Por um lado, um tropeção em Munique, que ficou longe de deixar a melhor imagem na Europa. Por outro, um jogo “clássico” na Luz frente ao FC Porto, no qual as “águias” se agigantaram como não o faziam há seis décadas.

1. Descaracterização total na Baviera

Bruno Lage colocou em prática um 433 que lhe garantiu várias vitórias de seguida, mal chegou ao Benfica. Posteriormente, o mesmo 433 viria a sofrer mudanças estratégicas consoante o adversário, mas sempre na base de alteração de dinâmicas ou jogadores. O que se viu em Munique foi uma descaracterização do trabalho feito até então. O Benfica não só entrou muito defensivo e muito baixo no terreno, como também abdicou de atacar. Lage alterou o sistema para um 532 que nem isso chegou a ser porque a equipa nunca o conseguiu interpretar. Pelo mapa abaixo, é vísivel a “confusão” revelada pelos posicionamentos médios dos jogadores encarnados. O Benfica terminou esse jogo com 0 (zero) remates enquadrados. Por sua vez, no jogo com o FCP, na Luz, O Benfica voltou ao seu sistema (433) e com isso o conforto chegou e todos os jogadores estiveram confortáveis para expor em campo tudo o que sabem. No clássico o Benfica anulou tacticamente a equipa de Vítor Bruno e mostrou sempre muita vontade em atacar e chegar ao golo.

[ Em baixo: o mapa de posicionamento das acções dos “encarnados” em Munique, um autocarro confuso e votado ao insucesso ]

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2. Defender? Sim, mas bem

Mesmo recorrendo a uma equipa com cinco defesas e um meio campo com três elementos que tinham como missão bloquear a organização ofensiva do Bayern, o Benfica acabou por conceder muitos lances dentro da sua área. É verdade que o Bayern não teve muitas bolas de golo, mas quando se chega às 51 acções dentro da área adversária, o difícil será não mercar. Voltando ao jogo na Luz, o mindset foi diferente (também porque o poderio do adversário era outro). O Benfica quis sempre ganhar e aplicou uma pressão eficaz na saída de bola do FC Porto que fez com que a equipa azul e branca nunca conseguisse construir ou até esticar na frente em Samu. Defendeu muito mais à frente, procurou ter iniciativa do jogo e retirou dividendos disso marcando relativamente cedo nas duas partes.

[ Em baixo: o mapa das 51 acções com bola permitidas pelo Benfica em Munique, o quinto pior registo da Champions 24/25 ]

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3. Tomás a “10”

Tomás Araújo tem sido provavelmente o jogador mais regular do Benfica desde o arranque da temporada. No clássico foi para muitos o melhor em campo. Defensivamente esteve bem, mas é o seu jogo de pés que entusiasma. Acabou o jogo com 10 passes progressivos executados. Entre passes verticais pelo chão e passes longos pelo ar, Tomás é um farol. Estas entregas podem parecer simples, mas poucos centrais as fazem com tanto sucesso (exemplo: é o factor que mais distingue, pela positiva, o jogo do rival Gonçalo Inácio). O jovem português quebra linhas de pressão adversárias ao encontrar o homem solto nas costas da pressão. Assistiu para o golo inaugural (num grande passe de trivela) e lança Bah para o golo dividido entre Pavlidis e Pérez. É claro que tem de melhorar alguns aspectos, nomeadamente o seu jogo aéreo, mas a qualidade com que constrói é muitas vezes essencial para o Benfica.

[ Em baixo: os 10 passes progressivos eficazes de Tomás Araújo no clássico, ninguém somou mais no jogo grande ]

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4. Di Magia, dos jogos grandes!

Depois de estar ligado a várias finais de clubes e selecções, Di María voltou a aparecer num jogo grande. Desde cedo que se percebeu que Ángel compareceu no clássico com energia para abanar o jogo. Nem sempre decidiu bem, mas a verdade é que saiu com dois golos e muitos lances de perigo. Até mesmo na disponibilidade física esteve acima dos últimos jogos, fazendo vários piques onde tinha muito campo para correr. Além de tudo isto, Di Maria pincelou o jogo com vários pormenores dignos da carreira de um tecnicista, como sempre foi. Certamente que Francisco Moura se vai lembrar desta noite durante muito tempo porque não foi fácil lidar com o argentino: o lateral portista perdeu os quatro duelos que disputou com o MVP da partida.

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Um Benfica de duas faces, o que se mostrou nos dois jogos “grandes” antes da paragem. Num jogo, Bruno Lage quis defender e procurar uma transição que lhe permitisse pontuar em Munique e no outro os encarnados quiseram dominar desde o inicio e rectificar a imagem deixada na semana europeia. Lage tem optado por adaptar a equipa ao adversário que tem pela frente. É um treinador que estuda muito os adversários e por isso, consegue colocar em prática uma vertente estratégica que Schmidt nunca teve, porém, é preciso cuidado porque quando a estratégia é demasiado complexa ou algo que a equipa nunca fez, acaba por resultar numa exibição pobre como a de Champions. Para o treinador do Benfica a tarefa é “simples”, já descobriu a fórmula que resulta agora é ir gerindo sem grandes invenções que deixem a equipa desconfortável.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.