Análise: O Benfica de Lage continua a crescer

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Os jogos a seguir à pausa das selecções trouxeram algumas novidades naquilo que são as ideias de Bruno Lage para este Benfica. O treinador dos “encarnados” já vinha a construir um 4-3-3 que nunca tinha sido visto com Roger Schmidt e retirou bons dividendos, mas desta vez ainda adaptou mais e com isso, parece ter chegado a uma versão mais sólida para a equipa.

1. Construção a três… com Carreras

Até agora, o Benfica construía com 2 ou 3 jogadores, sendo que no caso de serem 3, era Kökçü a descer para pegar no jogo. A partir deste momento, já não existe essa necessidade porque Bruno Lage incutiu uma nova dinâmica na equipa. Hoje, o Benfica constrói com Otamendi ao centro e à sua direita tem Tomás Araújo (que é um central muito evoluído com bola) e à sua esquerda tem Carreras que é um lateral que joga bem por terrenos interiores. Assim, Kökçü pode pegar mais perto do meio campo e pautar o jogo já depois da primeira linha de pressão ter sido batida.

[ Statscard: o posicionamento médio do Benfica vs Rio Ave, com Carreras como epicentro das tendências de passe ]

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Bah, no espaço!

O lateral dinamarquês nunca se distinguiu pela sua capacidade de construção até porque… não a tem. Bah tem de receber com espaço e Bruno Lage percebeu isso e retirou-o da construção e projectou-o no corredor. Neste momento, os jogos têm demonstrado que o Benfica procura largura com Bah a receber junto à linha e já no meio adversário enquanto Di Maria vem para dentro como tanto gosta. Todos ganham. Por uma lado, Bah fica muito mais confortável e enquadrado naquilo que são as suas melhores qualidades, por outro, a equipa retira da construção um jogador que a colocava em perigo.

[ Statsmap: as 24 perdas de posse de Bah frente ao Santa Clara, mais nove do que qualquer outro jogador do SLB ]

3. No meio está a Virtude

Lage retirou Florentino do “onze” inicial nos jogos com Rio Ave e Santa Clara e lançou Aursnes no corredor central ao lado de Kökçü. À frente destes, Di Maria e Aktürkoglu formam o quadrado que tem trazido muitos problemas aos adversários. O ex-Galatasaray ocupa uma posição nas costas de Pavlidis, semelhante com aquilo que fazia Rafa Silva no passado, mas junta-lhe uma capacidade de finalização que Rafa nunca teve (precisava de muitas oportunidades para marcar). Di Maria ao vir para dentro está confortável não só para atirar na baliza, como para variar o centro de jogo. Já Kökçü, ganha opções à sua frente e isso facilita-lhe o trabalho. Para alguns jogos, Florentino será essencial pela sua capacidade de roubar bolas, mas para grande parte dos jogos de competições internas, Aursnes acrescenta uma capacidade de passe e de chegada ao último terço que o 6 português não tem.

[ Statscard: o brilhante jogo de Kerem frente ao Rio Ave, com destaque para o heatmap bem “interior” ]

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4. Esquerda do Beste

Na esquerda, a grande novidade é a titularidade de Beste. É um jogador que tem uma grande capacidade de cruzamento e de bola parada, mas acima de tudo é muito disponível para trabalhar em prol do coletivo e tem um conhecimento tático do jogo que lhe permite estar sempre a pensar nas compensações defensivas. Contra o Atlético de Madrid, Kerem fechou o corredor esquerdo ao lado de Carreras fazendo assim uma linha de 5 defesas, agora, é Beste que tem essa tarefa já que Aktürkoglu passou a estar no corredor central pronto a disparar. Além disto, é um jogador que adora a linha e o Benfica ganha largura com a sua presença em campo. Beste iniciou como titular mas depois da lesão e da troca de treinador, parecia perder espaço só que a boa exibição frente ao Pevidém e a boa entrada frente ao Feyenoord colocaram o alemão de novo na rota da titularidade.

[ Statscard: o heatmap de acções de Beste, frente ao Santa Clara ]

Bruno Lage ainda tem poucos dias de treino com todo o grupo disponível mas tem tido uma capacidade de passar a mensagem muito interessante e que tem potenciado praticamente toda a gente (Rollheiser talvez seja o caso mais complicado de explicar). Enquanto que Schmidt jogava sempre igual, Lage, estuda e adapta-se ao adversário e não é fácil fazer com que o grupo perceba as suas ideias quando existem tantos jogos e paragens de selecções que o deixam com apenas 6 ou 7 jogadores. Porém, tem conseguido e deve receber mérito por isso.

O desaire com o Feyenoord foi um jogo onde tudo saiu mal e onde o adversário anulou todas as peças do Benfica que pareciam ainda vir adormecidas das selecções. Nesse jogo, Lage foi surpreendido pelo treinador contrário, mas em todos os outros, até ver, Lage tem sido um estratega e tem recolhido frutos e… muitos golos.

[ Vídeo: análise pós-jogo de Bruno Francisco, ao Benfica – Santa Clara ]

Confere todos os artigos “Benfica em Análise”, assinados pelo Bruno Francisco, neste link.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.