Análise ao Benfica: Testes chumbados

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J á era visível há bastante tempo que o modelo de Bruno Lage tardava em aparecer. A equipa deixou a chicotada psicológica para trás e assim que foi preciso mostrar o trabalho dos treinos, vacilou. Falhou com o Bolonha no passado, com o AVS, venceu o Estoril por números exagerados e falhou totalmente com Sporting e SC Braga. Lage está a viver a contestação que já viveu em 19/20, porque neste momento as falhas são mesmas e as soluções são poucas.

1. Leandro Barreiro

Leandro é um jogador que vale sobretudo pelo que faz sem bola. É um “pulmão” que tende a ajudar a equipa através da sua capacidade de pressão e de gerar equilíbrios por ter facilidade em se deslocar de área a área. Lage tomou partido favorável ao jogador e depois de o sentar no banco mal chegou, tem vindo a dar algum protagonismo ao luxemburguês. Este respondeu com uma boa segunda parte no dérbi, mas… um jogo q.b. frente ao SC Braga. Lage achou que por ter entrado bem frente ao rival directo, então poderia ser Leandro a solução para o meio-campo do Benfica. Errado. Não pelo jogador por si só, mas porque o perfil que Lage precisa é o de alguém que consiga ser o tal “box-to-box”, mas com capacidade com bola também… e Leandro não é isso.

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2. Pavlidis, Amdouni e Cabral

Nos jogos de Sporting e Braga, o treinador do Benfica lançou dois avançados para reagir à desvantagem que o Benfica tinha ao intervalo. Das duas vezes, a solução não produziu resultados entusiasmantes. Lage coloca homens na frente, mas o problema está em fazer chegar a bola em condições de se finalizar. Barreiro e Aursnes não são criativos, Kökçu recuou no terreno, Di Maria não tem estado inspirado e Aktürkoglu está demasiado errático. Lage pode ter um avançado, dous ou três. É indiferente porque a construção e criação é que estão mal. Há uma total ausência de processos.

[ Os 14 remates do Benfica ante o Sporting, a azul os dois enquadrados ]

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3. Plantel curto

Para o treinador do Benfica parece o plantel é demasiado curto. Bruno Lage acaba por utilizar sempre os mesmos 14/15 jogadores. Há vários elementos cativos no “onze” do Benfica, quer estejam a conseguir boas exibições ou não. Da mesma forma, há jogadores que não conseguem ter uma oportunidade. Lage foi questionado sobre o tempo dado a Schjelderup, Rollheiser e Prestianni e acabou por fugir à questão dando o exemplo de Barreiro, que em nada está relacionado, visto que é um jogador muito mais utilizado. Schjelderup teve mais tempo de jogo frente ao Braga, embora grande parte desse tempo fosse numa posição desfavorável, Prestianni nem convocado foi e Rollheiser viu o treinador esgotar as substituições sem que este fosse chamado. Até Renato entrou após ter estado parado bastante tempo. É um sinal óbvio que o treinador não acredita em alguns elementos.

[ As parcas acções com bola de Rollheiser, Schjelderup e Prestianni com Lage ]

4. Identidade táctica

O Benfica ainda não ganhou uma identidade, um modelo. Existe um sistema táctico que é o ponto de partida para tudo. Um 4-3-3 bem desenhado no arranque de cada jogo, mas depois, a equipa não sabe encontrar espaços ou sair de pressão. Está cada vez mais exposta a transições e cada vez há mais perdas de bola. Bruno Lage, desde que chegou ao Benfica nesta segunda passagem, procurou sempre adaptar a estratégia consoante o adversário que tem à frente. Tal metodologia criou impacto na chegada, visto que Schmidt, segundo constava, era um treinador que desvalorizava a forma de jogar do adversário, mas tais métodos de Lage também levam a equipa a não ter uma forma de jogar. É como se o Benfica estivesse sempre a tentar encaixar nos adversários ao invés de lhes criar dificuldades e desequilíbrios. Depois, também existem muitos jogadores a pisar os mesmos espaços, especialmente no corredor direito. É como se o sistema do Benfica fosse algo anárquico.

[ Os posicionamentos médios do Benfica ante o Braga ]

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A contestação subiu de tom. A chegada de Lage teve impacto, com vitórias surpreendentes, mas pelo que se tem visto, não passou do efeito psicológico da mudança. O treinador do Benfica tem tido algum mau estar por parte de alguns jogadores menos utilizados e tem sido ”desmentido” pelos mais experientes no que toca aos comentários no pós-jogo. A juntar a isso a equipa leva duas derrotas seguidas, vê a liderança mais longe numa semana que o FCP teve o jogo adiado e o Sporting empatou. Nada está perdido para as “águias”, mas o futebol praticado e a negação de Lage levam a que os adeptos não gostem do caminho que a equipa está a tomar.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.