Análise ao Benfica: Vitória em Arouca, mas há cansaço

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O Benfica acaba de fazer uma sequência de três jogos e três vitórias que colocam as “águias” na próxima eliminatória da Taça, quase que apuram a equipa para a próxima fase da Liga dos Campeões e aproximam o clube do primeiro lugar do campeonato. À partida isto são tudo boas notícias para os “encarnados”, mas há sinais de cansaço em jogadores-chave que Bruno Lage tem de ter em conta para os próximos tempos.

1. Tomás Araújo

Desta vez vou começar o artigo falando naquele que é o destaque individual, ao invés de recorrer a algo colectivo. Faço-o porque é merecido. Tomás Araújo tem estado a um nível altíssimo neste Benfica de Bruno Lage e. seja no jogo com o Estrela, Mónaco ou até em Arouca, foi sempre dos melhores. No último jogo (Arouca), o central foi quem fez mais passes progressivos (10) e quem conduziu a bola por mais metros de campo (260). Não só exibe as suas qualidades técnicas como aparece quando a equipa mais precisa de si e tem sido uma ajuda grande para Otamendi quando chega a hora de lhe dar cobertura na profundidade, ou de corrigir algum erro do central argentino.

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2. Rotatividade…

Esta é uma palavra que não tem havido para Bruno Lage. No entanto, não posso criticar. Acredito que o treinador das “águias” tenha analisado o momento em que entrou no clube. Era essencial encontrar o “onze” que mais garantias lhe daria e depois, devido à falta de unidades de treino com plantel completo, era manter esses 11 jogadores de forma a ganharem rotinas e dinâmicas. Olhando para os resultados, porém, chegou a altura em que Lage terá de começar a dar minutos a outros jogadores habituais suplentes. Nomes como Rollheiser, Schjelderup, Beste, Arthur, Amdouni e António Silva têm qualidade para serem mais vezes titulares. Aursnes, Otamendi, Kökçü, Arkürkoglu e Pavlidis têm baixado o rendimento e alternarem com o banco poderá ser solução. O jogo no Mónaco, para a Liga dos Campeões, foi desgastante fisicamente (e emocionalmente) e o Benfica tem opções válidas no banco para somarem minutos caso o treinador assim o deseje. Para se ter uma ideia, no Principado o Benfica correu quase mais mais 200 metros do que o Mónaco (com bola controlada). É muito.

[ O total de progressão do Benfica com bola em condução, no Mónaco ]

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3. Aursnes

Um jogador habitualmente decisivo pelo trabalho que desempenha, mas que, afinal…, é humano. Aursnes quase não se lesiona, não se cansa… Isso era até agora. A tarefa de interior direito e de guarda-costas de Di Maria está a resultar para a equipa e para o argentino obter números brilhantes, mas está a desgastar o médio norueguês. Em Arouca, Aursnes tinha quatro acções defensivas no meio-campo adversário nos primeiros 35 minutos (bom número), porém, terminou o seu jogo com as mesmas quatro acções e, quem viu o jogo, percebeu que claramente não gozava de frescura física. Acabou por sair. Trata-se de um jogador fulcral para o equilíbrio, tanto ofensivo, como (principalmente) defensivo da equipa e Lage não se pode dar ao luxo de perder este jogador que já foi apelidado de “joker” pelo Presidente.

[ As acções defensivas de Aursnes em Arouca ]

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4. Pavlidis e Di Maria

O avançado grego começou por entusiasmar na pré-temporada, depois perdeu fulgor… voltou a recuperar e voltou a perder. Ainda não se afirmou. Já Di Maria, leva seis golos e duas assistências em apenas quatro jogos. Vivem momentos distintos na equipa. No caso de Pavlidis, marcou no Mónaco, mas em Arouca deu um festival de oportunidades falhadas. Di Maria deu “show” na Taça, na Champions e em Arouca fechou o resultado de penálti (a exibição em si não foi extraordinária). O astro argentino nunca tinha sido um problema. Esse era o enquadramento na equipa e Lage conseguiu resolver. Aliado à desistência da selecção “albiceleste”, o “Fideo” está solto fisicamente e a fazer a diferença. Vangelis Pavlidis, por sua vez, tem estado perdulário até mesmo nos lances mais fáceis… e Arthur está à espreita depois do voto de confiança do treinador.

[ As três ocasiões flagrantes falhadas por Pavlidis em Arouca ]

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Para o Benfica, esta foi uma semana de dois jogos grandes, mas em que a estratégia foi bem distinta. Num jogo, Bruno Lage quis defender e procurar uma transição que lhe permitisse pontuar em Munique e, no outro, os “encarnados” quiseram dominar desde o inicio e rectificar a imagem deixada na semana europeia. Lage tem optado por adaptar a equipa ao adversário que tem pela frente. É um treinador que estuda muito os oponentes e por isso, consegue colocar em prática uma vertente estratégica que Schmidt nunca teve. Porém, é preciso cuidado porque quando a estratégia é demasiado complexa ou algo que a equipa nunca fez, acaba por resultar numa exibição pobre como a da Champions em Munique. Para o treinador do Benfica a tarefa é “simples”, já descobriu a fórmula que resulta e agora é ir gerindo sem grandes invenções que deixem a equipa desconfortável.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.