Mais dois jogos decorridos, nove golos marcados e apenas um sofrido pelo “novo” Benfica. Estará tudo perfeito? Irá o Benfica arrancar para uma grande época? É cedo para prognósticos desse tipo, mas a verdade é que a chegada de Bruno Lage trouxe cinco vitórias noutros tantos jogos, com 18 tentos a favor e apenas três permitidos, sendo natural esperar o início de algo auspicioso.
1. Pavlidis marca pouco, mas…
Entre a primeira análise que fiz com a GoalPoint e esta, o Benfica realizou dois jogos, contra Gil Vicente e Atlético de Madrid. Os “encarnados” acabaram por golear em ambos, mas o homem de área, Pavlidis, não marcou em nenhum dos desafios. É impossível não reparar nesta situação até porque o grego chegou com um “cv” de 80 golos em três anos nos Países Baixos. No entanto, à falta de tentos, Vangelis tem-se destacado pela capacidade de trabalho. A tarefa é ingrata… duelos, trabalho de apoios, ligação ao sector médio e movimentações para corredores exteriores deixam-no longe da baliza mas criam espaços para quem lhe entra nas costas, com Aktürkoglu à cabeça. Falta mais golo, para desfazer as dúvidas, mas a verdade é que o avançado está a receber a bola mais perto do meio campo do que da área.
[ O mapa das 30 acções de Pavlidis na vitória por 5-1 frente ao Gil: mais próprio de um médio-ofensivo do que e um avançado-centro ]
2. Porsche Carreras?
O jovem lateral espanhol merece um destaque exclusivo. O legado de Grimaldo é enorme, mas o peso de fazer esquecer uma época em que todos os laterais falharam, também não é fácil. Carreras foi o principal destaque da equipa nos últimos dois jogos, tendo um papel de extrema importância na construção. Quer seja em passe ou em condução, encontra sempre solução. Joga por fora e por dentro e ainda tem capacidade para virar o centro de jogo. O momento defensivo continua a não ser o seu forte mas mesmo aí, o Carreras que chega agora a Outubro é muito superior ao Álvaro que chegou em Janeiro. O lateral está muito mas tranquilo, muito mais seguro e a desfrutar da sua capacidade técnica. Lage agradece e Beste, tem entrado sempre… mas para médio.
[ A minha análise rápida ao Benfica 4-0 Atleti, publicada logo a seguir ao jogo, onde falo de Carreras ]
3. Lage, o adaptável
Bruno Lage trouxe uma vertente que nunca vimos em Roger Schmidt. O treinador alemão é passado mas faz sentido recordar que nunca se adaptou aos adversários. O próprio assumia que preferia olhar apenas para o jogo da sua equipa e isso afundou o grupo de trabalho num futebol fraco que vivia dos repelões da qualidade individual que tinha ao seu dispor.
Lage, por sua vez, transmite a confiança necessária para que o grupo coloque em prática a sua qualidade, mas também não descura a personalização da equipa face ao adversário que tem pela frente. O jogo com o Atlético de Madrid é um exemplo disso mesmo. O treinador do Benfica mudou a construção da equipa para Tomás, Otamendi e Carreras, o que deu uma segurança na saída de pressão. Depois, fez Aursnes ser mais um médio de trabalho deixando de pressionar ao lado de Pavlidis – esse trabalho ficou para Di Maria que deste modo deixou de se preocupar com fechar o corredor direito. Ainda no jogo com os espanhóis, Aktürkoglu foi mais um elemento de ajuda a Carreras do que um avançado (e ainda assim, voltou a marcar). Todas estas nuances que Lage trouxe para jogo, deixaram Simeone perdido e o Atlético nunca teve capacidade para assustar, acabando o jogo com 0 (zero) remates enquadrados.
[ o mapa de posicionamento médio com bola e tendências de passe do Benfica, frente ao Atleti ]
4. Bruno vai ao banco
Outra novidade comparativamente ao passado recente do Benfica, é a forma como o banco é utilizado. Schmidt nunca foi treinador de mudar o jogo a partir do banco. Já Lage tem procurado mexer na partida em tempo útil, para que quem esteja em campo seja poupado e dando tempo e motivação a quem se quer mostrar, a partir do banco. Desta forma Lage tem conseguido que a equipa nunca deixe de procurar o golo. Amdouni entrou e marcou com o Gil Vicente e com o Atlético ganhou um penalti, Beste entrou e assistiu na Liga dos Campeões e Rollheiser também marcou contra o Gil. Além disso, Di Maria saiu aos 72’ e aos 71’ nos últimos dois jogos, algo novo e um tema muito discutido, na era Schmidt.
[ O jogo de banco de Lage frente ao Atleti, com protagonistas a terem impacto directo em lances capitais ]
5. Tomás ou António?
O Benfica tem aqui dois jovens centrais talentosos mas com características diferentes. Já se percebeu que Lage não vai abdicar de Otamendi no imediato e, com o regresso de Bah, sobra um lugar como central para os dois “miúdos” da formação. Tomás é mais rápido e é um central moderno na saída de bola. António é mais físico e de duelos. Algo que me parece assente é que a certa altura na época o Benfica terá de ir testando a dupla de jovens porque Otamendi com a idade que tem não vai aguentar jogar sempre até porque o ano passado jogou quase todos os jogos, depois teve Copa América e Jogos Olímpicos… o tempo para descansar foi curto. Além disso, está em final de contrato. A questão aqui é quem é que vai ser o central habitual. Para já, parece que a qualidade com bola dá vantagem a Tomás (que até já foi lateral para não ter de sair da equipa), mas António promete dar luta.
[ O comparativo-resumo de António Silva e Tomás Araújo até agora, na Liga Portugal 24/25 ]