Benfica: os factos que explicam a “DisasterClass” de Schmidt em Famalicão

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O Benfica voltou a tombar em Famalicão, 98 dias depois e pelo mesmo resultado, na abertura da Liga 24/25. Os contornos da derrota, frente ao mesmo adversário perante o qual entregaram matematicamente o título ao rival Sporting, recolocam as “águias” no mesmo clima de pressão com que terminaram a época anterior. No final da partida, Roger Schmidt confessava dificuldade em explicar o sucedido, mas… é também para isso que servem os analytics, para procurar entender a realidade dos 90+ minutos em campo. Avançamos assim com os factos que explicam a (nova) queda do Benfica no Minho, à imagem do que fizemos recentemente, após o trambolhão do Sporting de Rúben Amorim na Supertaça.

Regularidade “germânica” no desacerto

O Benfica terminou a mais recente visita a Famalicão com 84 passes falhados, o que constitui já o valor mais elevado da jornada. O facto teria menor relevância caso os “encarnados” tivessem exercido uma posse claramente superior, mas não foi o caso (61%). Curiosamente, já na derrota de Maio o Benfica tinha mostrado desacerto quase idêntico no passe, com 83 passes perdidos, mas há uma clara diferença… para pior, que explica o ponto que destacamos em seguida.

[ Os 84 passes falhados pelo Benfica, 19 deles de risco ]

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Sem bola na área

Em Maio o Benfica somou 46 acções na área famalicense, mas na abertura da Liga 24/25 as “águias” ficaram-se por apenas 19 “bolas” na zona de maior perigo, uma quebra acentuada que encontra natural explicação noutro tombo abrupto, na eficácia de passe vertical. A turma de Schmidt entregou apenas 69% dos passes verticais que tentou, contra 73% na derrota anterior. Se a isto somarmos os apenas nove dribles eficazes em 26 tentados resultam ainda mais claras as dificuldades vividas pelo Benfica, numa ideia de jogo que não só não funcionou como ainda potenciou os desequilíbrios defensivos que destacamos em seguida.

[ Os 26 dribles tentados pelo Benfica, apenas 9 eficazes e com pouca expressão em zonas de maior perigo ]

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Déjà vu na hora do desequilíbrio

O Benfica somou 22 acções defensivas no meio-campo adversário, reeditando uma “proeza” em que já tinha liderado a Liga 24/25. No entanto, os “encarnados” mostraram em Famalicão a fraqueza que já na época passado destacámos várias vezes, associada as este pormenor. As “águias” terminaram o jogo dribladas em 16 ocasiões, o registo mais elevado da jornada (a par do Braga frente ao Estrela), e relembra-nos que o vice-campeão da época passada acabou a época como… a equipa mais driblada da Liga. Conclusão? O Benfica continua a pressionar mais o adversário do que o “achómetro” refere, mas sem garantir os equilíbrios fundamentais no “plano b” (quando essa pressão falha), com as consequências visíveis no perigo permitido ao adversário.

[ Os 9 remates permitidos pelo Benfica ao Famalicão: 5 enquadrados, um desenquadrado, mas ao ferro e nenhum bloqueado ]

Não admira assim que o Famalicão tenha criado bastante mais perigo que o Benfica (1,5 vs 0,7 Golos Esperados), mesmo somando menos remates. Os minhotos souberam colocar-se em situações de remate “desafogado” em diversas ocasiões, através de passes que aproveitaram os desequilíbrios “encarnados” e/ou de desequilíbrios individuais em drible, por oposição a um Benfica sôfrego na chegada à área, que viu cinco dos seus 12 remates terminarem bloqueados pelo adversário.

Jogo de banco falhado

Roger Schmidt foi muito criticado na época passada por mexer na equipa apenas no final dos jogos. Curiosamente a penúltima visita a Famalicão foi excepção a essa tendência, repetida novamente na mais recente incursão a Famalicão, mas sem resultados positivos.

Ao intervalo o alemão decidiu retirar Prestianni que (ao contrário do que foi sugerido na transmissão televisiva) era de facto o protagonista de maior desacerto nos “encarnados” (cinco passes falhados em apenas 13 tentados, três desarmes permitidos e oito duelos perdidos em 11 disputados). Mas a opção por Kökçü não funcionou, com o turco a terminar, aliás, com o pior rating da partida, vencendo apenas um de 11 duelos disputados e três dribles permitidos, máximo do encontro.

Pouco depois surgiria outra substituição que apenas o plano físico pode justificar: Schmidt substituía Jan-Niklas Beste (por Álvaro Carerreras), aos 62 minutos. O alemão, longe de rubricar um jogo brilhante, estava ainda assim a ser o segundo elemento do Benfica com melhor desempenho estatístico, atrás de Tomás Araújo, com dois passes para finalização (ninguém viria a somar mais) e quatro faltas ganhas já bem dentro do meio campo adversário, também máximo do jogo. Marcos Leonardo foi outra aposta de Schmidt no mesmo minuto, mas também ela com resultados invisíveis: o brasileiro terminou com apenas cinco acções, três delas para perda de posse. Ángel Di María acabou por ser a única aposta com efeito positivo mensurável, com o argentino a somar dois passes para remate, um remate perigoso e dois cartões conquistados nas duas faltas sofridas, deixando a sensação que talvez fizesse sentido saltar do banco mais cedo (72 minutos).

Conclusão? Nada funcionou desde o primeiro minuto 

Ao colocarmos lado a lado as últimas duas exibições do Benfica em Famalicão, a conclusão é que… tudo piorou. O Benfica não teve fio de jogo desde o apito inicial, com uma cadência de passes falhados e desequilíbrios que colocaram os “encarnados” progressivamente mais preocupados em anular o perigo da contra-ofensiva famalicense do que com a colocação de bolas na área adversária. O jogo de banco não funcionou e a equipa mais driblada da Liga 23/24 (característica incompatível com uma candidatura ao título) terminou a primeira jornada dando a sensação de “mais do mesmo”, sem sinais de aprendizagem ou impacto das novas caras que chegaram.

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