AOS 24 anos, Rafik Guitame está a explodir e a confirmar todos os seus predicados, talento e potencial que tinha demonstrado desde que despontou no futebol francês. Um interesse do Benfica até já foi aventado. Afinal, quem é este virtuoso que veste de amarelo na Amoreira?
Natural de Évreux, França, o canhoto começou a dar os primeiros pontapés na bola no clube da terra, passou pelo Le Havre e, no Verão de 2018 foi contratado pelo Rennes por €8M. No entanto, acabou por não singrar no histórico emblema gaulês, foi emprestado ao Marítimo, na ocasião orientado por Vasco Seabra, dois anos depois regressou à base, desta feita para o Stade de Reims, mas não foi feliz. Na época passada ingressou na Liga portuguesa, realizou 13 partidas no Estoril e fez uma assistência. No decurso desta temporada, assinou em definitivo pelos “canarinhos” e tem respondido com um “futebol champanhe” à aposta do emblema da Amoreira.
Se contabilizarmos as primeiras 16 jornadas do campeonato, três jogos da Taça de Portugal e três da Taça da Liga, leva 22 partidas, soma quatro golos e três assistências, igualando a marca as sete participações directas em tentos que fez quando passou pelo Marítimo em 2021/22. Nesse período, onde foi dirigido por Vasco Seabra, fez 30 jogos, dois passes para golo e cinco “tiros” certeiros. Contudo, em 2023/24 é outro detalhe que o tem destacado.
Desde o arranque da temporada que tem estado num duelo muito interessante com Bruma no que toca ao drible. Guitane já esteve na frente, agora é o bracarense, mas o francês é, entre jogadores com pelo menos 720 minutos disputados na Primeira Liga – metade do total possível – o segundo com mais dribles tentados, com 6,8 por 90 minutos, e também o segundo com mais dribles completos (3,6), ganhando, contudo, a Bruma na percentagem de sucesso, com 52,9% contra 47,3% do extremo da Pedreira.
No que toca a dribles no último terço é quarto, com 3,5 tentativas, e novamente segundo em completos (1,9), ganhando mais uma vez a Bruma na percentagem de sucesso (52,8% contra 49,0%).
[ Os dribles de Rafik Guitane (completos a azul) na Liga 23/24 ]
Internacional pelos selecções de sub-17, 18, 19 e 20 de França, Rafik está a ser um dos motores da recuperação do Estoril, com total liberdade de movimentos no habitual 1x3x4x3 de Vasco Seabra, tem formado uma dupla sensacional com Rodrigo Gomes, é um dos reis dos dribles da Liga portuguesa e, de acordo com a Imprensa nacional, está a ser alvo de cobiça de diversos emblemas, podendo mesmo dar o salto neste mercado de transferências, cuja janela abriu no primeiro dia de 2024.
“Claramente que Guitane tem sido uma das sensações do campeonato. Está num nível muito superior àquele que demonstrou quando esteve no Marítimo, onde de vez em quando ‘fazia umas flores’. No Estoril é um dos jogadores mais determinantes e o impacto dele nos jogos tem sido muito forte. A equipa está a ajudá-lo e o sistema de jogo que o Vasco Seabra implementou favorece muito as características dele”. As palavras pertencem ao comentador Pedro Henriques, que nas últimas semanas acompanhou “in loco” os treinos ministrados pelo timoneiro do conjunto da Linha, no âmbito do projecto que idealizou, “Show de Bola”.
“Jogador para equipa grande”, Pedro Henriques
Velocidade de execução, inteligência nos movimentos e uma técnica apurada. O futebol do franco-argelino Guitane enche as medidas dos amantes do desporto-rei e também do analista da Sport TV.
“É impressionante no 1 contra 1 e, mesmo nos treinos, os colegas que o conhecem bem são ultrapassados. Guitane tem velocidade com a bola nos pés, é muito rápido em espaços reduzidos, tem uma capacidade de remate muito boa, tudo características que um médio-ofensivo, ala como ele, precisa de ter. Sem dúvidas é um jogador para uma equipa grande, apesar de já estar numa boa equipa como é o caso do Estoril. São jogadores destes que fazem a diferença, Guitane inventa espaços e tira um, dois ou três adversários da frente com uma facilidade impressionante. Até nos treinos faz isso”, descreve.
[ O grande golo de Guitane frente ao Porto na Taça da Liga 23/24 ]
“No sistema de jogo do Estoril, joga no ataque, com um papel híbrido, combina na perfeição com Rodrigo Gomes, um jogador extraordinário e com um grande andamento. Ambos fazem uma espécie de caos no posicionamento. Guitane é muito forte nas diagonais, no espaço entrelinhas, jogando nas costas dos médios da equipa adversária. Com movimento partindo do espaço entre o lado direito e a zona central, dá cabo dos defesas, vem para dentro, dá largura ao ala e faz diagonais para zonas de finalização. É muito inteligente a jogar e acaba por estar favorecido dada a qualidade do plantel do Estoril, que ainda tem jogadores como João Marques, Heriberto, Mateus Fernandes, entre outros”.
“Características semelhantes às de Marcus Edwards”
Olhando, por exemplo, para os plantéis dos chamados “três grandes”, será que o criativo do Estoril poderia encaixar nalguns desses plantéis?
“Tem características semelhantes às de Marcus Edwards e creio que até tem uma capacidade de remate e de finalização superior. O Benfica não tem um extremo tão desequilibrador como Guitane. Neres, que está lesionado, precisa de mais espaço e, em termos de rendimento, durante os jogos é muito intermitente. Diria que é um jogador com características diferentes e o Benfica precisa disso, João Mário não é assim, Di María já foi assim, mas agora desequilibra mais com o passe”.
Durante a semana em que acompanhou os treinos dos actuais 12.º classificados da nossa Liga, Pedro Henriques deparou-se com um “rapaz humilde e, ao mesmo tempo, introvertido, que poderá ter dificuldades na adaptação a um outro clube. Trincão, por exemplo, é muito talentoso, mas não consegue ter consistência para ser titular. No Estoril, Rafik tem sido um jogador determinante e consistente. Poderá melhorar no trabalho defensivo”, realça o antigo futebolista.
