Está feito! A emotiva Liga NOS de 2015/16 terminou e é tempo de balanço. Eleger os melhores jogadores ao longo de uma prova tão grande é sempre um exercício complicado e subjectivo, mas foi também para estes casos que lançámos, no início desta época, os GoalPoint Ratings, ferramenta de avaliação do desempenho quantificável de cada jogador ao longo das várias jornadas. Convidamos-te aliás a revisitar os 33 magníficos do desempenho estatístico da 1ª volta desta Liga
O resultado não será certamente unânime, mas não é esse o objectivo. Esta análise traduz um ponto de vista estatístico (logo objectivo) sobre os jogadores que mais se destacaram ao longo da época. Se desejar compreender as escolhas embarque connosco nos próximos parágrafos!
Como nota metodológica, diga-se que só foram considerados para a análise jogadores com pelo menos metade dos jogos e um terço dos minutos jogados, o que explica algumas ausências que serão referidas mais abaixo.
Mas antes do “paleio”, apresentamos os 33 jogadores (três por posição) que obtiveram melhor GoalPoint Rating nesta época:
Um sérvio na baliza
Igor Stefanovic, guarda-redes que chegou a Portugal na época 11/12 para jogar no Santa Clara (e que passou pelo FC Porto B) foi o melhor guarda-redes da Liga NOS. O sérvio fez a sua primeira época completa na Primeira Liga e foi fundamental na campanha tranquila conseguida pelo Moreirense. A prova? Nenhum outro guarda-redes teve uma média de intervenções positivas por jogo tão elevada (7,4), sendo que 3,7 delas foram defesas a remates enquadrados, algo em que foi superado apenas por Ricardo Nunes e Cássio. A juntar a isso, Stefanovic tem a particularidade de ter sido o único guarda-redes a fazer remates na Liga NOS, e foram logo três, todos no mesmo jogo!
As alternativas seriam Rafael Bracalli, outro jogador com passado nos “dragões”, e que apesar de jogar na equipa que permitiu mais remates por jogo na Liga (16,8), sofreu uma média de apenas 1,3 golos por jogo. No terceiro posto surge Rui Silva do Nacional, que foi considerado por nós como o melhor guarda-redes da 1ª volta.
Laterais que cospem fogo
As laterais são ocupadas por Maxi Pereira e Miguel Layún, e não foi por eles que a época do FC Porto não correu como esperado. O mexicano terminou a temporada com números ofensivos impressionantes, somando cinco golos e 13 assistências em apenas 27 jogos como titular, e foi mesmo o jogador em todo o campeonato a criar mais ocasiões de golo através de lançes de bola parada, 41.
Maxi Pereira também se destacou ofensivamente, sobretudo de bola corrida, conseguindo nove assistências para golo entre as 50 ocasiões que criou, muito graças à sua boa eficácia nos cruzamentos (25%). Nenhum outro lateral criou tantas oportunidades de bola corrida a cada 90 minutos (1,6) como o uruguaio.
Nas alternativas temos dois laterais bracarenses, Baiano e Marcelo Goiano. Enquanto Goiano se destacou sobretudo ao nível do cruzamento (3,9 p/ 90m, com 26% de eficácia), Baiano sobressaiu pelo elevado número de recuperações (4,9 p/ 90m, número muito elevado para um lateral). Mas o 3º melhor lateral da Liga vem do Rio Ave e chama-se Edimar. A uma grande eficácia de cruzamento (29%), o brasileiro juntou-lhe ainda números defensivos bastante razoáveis, sobretudo ao nível das intercepções (3,5 p/ 90m), que o colocam como o segundo melhor lateral da liga neste parâmetro.
Dupla canarinha no eixo
Esta foi a época da confirmação de Jardel como melhor central do campeonato, e os números ajudam a explicá-lo. Desde a pouco surpreendente, mas ainda assim impressionante, eficácia no jogo aéreo, onde conquistou 72% dos duelos, à fantástica eficácia de passe (90%) que o coloca como melhor do campeonato neste aspecto, o brasileiro foi quase infalível a todos os níveis. O central ainda ajudou a carimbar o “tri” com três golos, somando 15 remates de cabeça e enquandrando sete com a baliza. Também no capítulo ofensivo Jardel foi o melhor na sua posição.
A seu lado, Jardel tem outro brasileiro, Diego Carlos, que fez uma grande época ao serviço do Estoril Praia, onde se assumiu como “patrão. O jovem é um perigo nos livres directos, mas não só, tendo sido o 2º central com o maior número de acções defensivas (12,4) superado apenas por outro Diego… o Galo.
Destaque ainda para a boa época de dois centrais portugueses, Fábio Cardoso, emprestado pelo Benfica ao Paços de Ferreira, e Nuno Henrique, que formou uma grande dupla com Paulo Vinicius no Boavista. Ambos registaram uma elevada média de acções defensivas por 90m (11,6 e 11,3, respectivamente), e apresentaram bons níveis de eficácia no jogo aéreo (59% e 63%). Iván Marcano destaca-se pela antecipação, terminando o campeonato com uma média de 4,4 intercepções por jogo, o melhor na posição.
Uma surpresa como “âncora”
A posição de médio-defensivo podia parecer automaticamente entregue a Danilo Pereira, que fez uma grande época. Mas de Tondela chegou uma surpresa. Lucas Souza, brasileiro de 25 anos que chegou a Portugal em 14/15 para o Olhanense por empréstimo do Parma, teve finalmente a sua época de afirmação e não deverá vestir de verde e amarelo muito mais tempo.
Atente-se na comparação de Lucas com Danilo para que se perceba melhor as razões da surpresa. O brasileiro não só vence naturalmente as variáveis defensivas, algo em que Danilo Pereira também é muito forte, como iguala ou supera o português em passes para ocasião e remates. Nenhum jogador ganha mais duelos por jogo do que Lucas (12,2) e nas intercepções é lider mesmo a nível europeu. Para ser um médio completo, Lucas Souza só precisa de melhorar no passe, e teremos jogador para voos muito altos.
Em terceiro lugar aparece Fejsa, que sofreu apenas quatro golos nos 1.311 minutos disputados e foi o médio com a melhor eficácia de passe do campeonato (90%).
Adrien, o “rei da selva”
O capitão do Sporting Adrien Silva, terminou a liga como o melhor entre os “leões”. O luso-francês fez a sua melhor época de sempre, terminando com oito golos e cinco assistências, destacando-se também pelo trabalho defensivo. Os 3,8 desarmes que fez a cada 90 minutos são o 6º melhor registo entre todos os médios do campeonato, e mais do dobro do seu habitual companheiro de sector William Carvalho. Formidável.
André André e Samaris seriam as alternativas. Um pela excelente primeira volta, outro pela consistência demonstrada sempre que foi chamado. Destaque para Samaris ter sido o jogador com a maior eficácia de drible do campeonato. O grego não arrisca muito (duas tentativas a cada 90 minutos) mas fá-lo quase sempre bem (63% de sucesso).
O Moneyball player que arrasou
Antes de analisarmos Otávio deixemos os números falar por si:
Custa muito não ver João Mário no primeiro posto do “pódio”, relembrando a sua segunda metade da época, mas tendo em conta que Otávio supera o leão em quase tudo, mesmo jogando num clube que luta para objectivos bem diferentes, a escolha é fácil de justificar. Dado como certo na versão 16/17 do FC Porto, o brasileiro apresentou um rol de argumentos que justificam até mais do que a simples inclusão no plantel:
- médio com mais passes para ocasião p/ 90m (2,4)
- médio com mais dribles eficazes p/ 90m (2,7)
- 2º médio ofensivo com melhor eficácia de drible (57%)
- 2º médio com mais faltas sofridas p/ 90m (3,6)
A clásse de João Mário merece ainda assim uma referencia. Apesar de não ter estado particularmente forte na criação de oportunidades (Ruiz, Gelson e Jefferson foram melhores), o português registou uma fantástica eficácia de passe no meio-campo contrário (83%) surpreendendo pelo elevado número de recuperações de bola (6,1 p/ 90m), o melhor registo entre os médios mais ofensivos. O “fantasista” contabilizou ainda apenas um cartão amarelo em toda a prova, uma folha quase limpa apesar da muita utilização.
Na direita, o “tropa” criador
Outra posição que também podia ter sido ocupada por João Mário era a de médio direito. No entanto, Pizzi apresenta um número que quase “rebenta” qualquer discussão: 3,3 oportunidades de golo criadas por jogo. Este “feito”, coloca mesmo Pizzi em 6º a nível europeu, superado apenas por nomes como Ozil, Di Maria, Payet, De Bruyne e Eriksen.
Contudo, nem só de ofertas foi feita a época de Pizzi. O “21” anotou ainda sete golos, registando uma média de 1,1 remates enquadrados a cada 90 minutos, a segunda melhor entre os extremos dos “três grandes”, ultrapassado apenas por… Gelson Martins.
O fantasista “Tecatito” Corona ficou atrás de Pizzi no lote de extremos-direitos. O mexicano fez uma primeira metade da época que deixou muito boas indicações para o futuro. 2º maior driblador da liga, tanto em “fintas” tentadas como concretizadas, Corona obteve ainda oito golos, muito por culpa da sua grande taxa de sucesso no enquadramento dos remates (44%). Já Iuri Medeiros mostrou estar apto para dar o salto, tendo sido, entre outras coisas, o extremo mais rematador (3 remates p/ 90m) da Liga.
Na esquerda, um argelino contra a maré
Como é possível (o para muitos apagado) Brahimi bater Ruiz e Gaitán na disputa pelo lugar de extremo-esquerdo? Nada como olhar mais uma vez os números.
Mesmo numa época que parece não lhe ter corrido de feição, o argelino fez mais remates que Ruiz e Gaitán, criou tantas oportunidades de bola corrida como o argentino e mais do que Ruiz, e foi de longe o rei dos dribles, com 3,8 fintas eficazes a cada 90 minutos, mais do dobro de Gaitán e Ruiz.
Friamente, parece que faltou mais Porto a Brahimi do que Brahimi ao Porto e é para análises frias que cá estamos. Brahimi pode ainda dar mais, e isso é que assusta, porque o potencial está todo lá.
Indiscutivelmente, o “pistolas”
Jonas foi o melhor jogador da Liga NOS 2015/16! Os seus números são impressionantes:
- 32 golos (melhor marcador da prova);
- 12 assistências;
- 124 remates;
- 62 oportunidades de golo criadas e
- apenas 6 ocasiões flagrantes falhadas (Slimani falhou 20, e Mitroglou, que jogou muito menos tempo, conseguiu falhar 8)
Jonas conseguiu melhorar aquilo que já tinha sido uma época extraordinária e dar razão a quem decidiu não o vender nos momentos de maior assédio. Está tudo explicado nos números, mas o melhor mesmo é vê-lo jogar, e perceber a perfeição com que “desenha” cada movimento. Para quem gosta mais de futebol do que do seu próprio clube, Jonas é uma dádiva numa liga onde a “classe alta” não abunda. São jogadores como ele que ganham campeonatos e não é por acaso que nas últimas duas épocas ganhou… quem teve Jonas.
Quanto às alternativas, Slimani confirmou-se definitivamente como um grande “matador” do nosso campeonato, liderando os rankings de remates dentro da área e de remates de cabeça e melhorando bastante na eficácia de remate (56% de remates enquadrados). Se alguma pecha há a apontar-lhe continua a ser a frequência com que cai em situações de fora-de-jogo – 53 no total do campeonato, contra os nove de Jonas e 22 de Mitroglou.
O grego cresceu bastante à medida que se foi integrando melhor na equipa, mas mesmo assim precisa de melhorar o entrosamento. Nenhum jogador dos “grandes” toca menos vezes na bola a cada 90 minutos do que Mitroglou (32), e a diferença é tão grande que o segundo mais desligado, Aboubakar, toca mais 11,2 vezes na bola do que “Mitro”. Em tudo o resto que é pedido a um goleador, Mitroglou cumpre com distinção e os 19 golos que apontou, alguns bens decisivos, justificam o accionamento da sua cláusula.
Menções honrosas
Destaque final para Lisandro López 6.17 e Schelotto 5.87 que entrariam no “onze” ideal caso não fosse o baixo número de jogos disputados, Pelo mesmo motivo, ficam de fora dos 33, Josué 6.25, Rafael Defendi 5.99, Gonçalo Guedes 5.95 e Coates 5.74 todos eles protagonistas pela positiva.