O destino quis que Sporting e Benfica fechassem novos homens de área em vésperas da primeira decisão da época, na Supertaça Cândido Oliveira. O Antunes preparou estes dados para a SIC Notícias na segunda-feira e explicamos agora, no GoalPoint, alguns detalhes interessantes – ainda é possível ver a versão televisiva na box, no Os Novos Donos Da Bola das 23h30 de segunda-feira.

Projectos de jogador diferentes
Sporting e Benfica escolheram caminhos bem diferentes na opção que tomaram. Os “leões” optaram por um jogador “feito”, aos 27 anos, enquanto as “águias” meteram as fichas um homem-de-área de futuro, com 21 anos. Estranho? Nem por isso, se tivermos em conta que ambos já estavam servidos daquilo que pareceu ter sido a aposta rival: o Sporting já tem em Harder a aposta de futuro, o Benfica já havia escolhido o seu “matador formatado” quando trouxe Pavlidis.
A dúvida que fica, em ambos os casos, é como a realidade validará a teoria: o experiente Suárez vem para assumir, naturalmente, a titularidade ou Harder parte com vantagem conquistada? E o emergente Ivanovic, procurado por vários clubes, chega para ser “sombra” de Pavlidis ou irá até fazer dupla com o grego?

Boa relação entre golos e assistências
Nada como olhar o desempenho de ambos nas respectivas Ligas 24/25 na procura de pistas. Os dois têm com registos altamente participativos (com mais jornadas do que as disputadas numa Liga em Portugal) e com uma boa relação entre golos e assistências, o que indicia logo um ponto em comum: sendo os dois pontas-de-lança focados na baliza, são também jogadores que criam ocasiões para os colegas, com suficiente frequência.
Destaque aqui para um detalhe: com uma média de 88 minutos por partida, Suárez apresenta uma semelhança com Gyökeres, na particularidade de ter sido um avançado de “jogo inteiro”, no Almeria. Já Ivanovic apresenta uma média de minutos por jogo mais baixa, o que ganhará sentido mais adiante, quando revelarmos mais alguns indicadores do seu jogo que explicam o porquê de necessitar de descanso mais cedo, apesar da idade.

Muitas semelhanças
Aqui não há números amarelos porque não há diferenças suficientemente expressivas. Ambos rematam com uma cadência semelhante, com uma taxa de conversão em golo idêntica e com um aproveitamento de “cara-a-cara no golo” também aproximado.
Nota: os cerca de 30% de aproveitamento de flagrantes não deve assustar, nem “águias” nem “leões”. Porquê? Porque a análise de Golos Esperados (xG) de ambos os avançados mostram que sim, desperdiçaram alguns “golos feitos”, como é normal, mas também marcaram outros tantos estatisticamente “imprevistos”, terminando os dois com registos “neutros” (logo saudáveis, sem “under” ou “overperformance” dignos de registo) face ao total de golos que lhes seria exigível.

Ivanovic muito em jogo
A partir daqui é que se começam a revelar as principais diferenças entre Suárez e Ivanovic no desempenho, com pistas sobre a forma de jogar. Como vimos, ambos são avançados com assistência, logo não admira a proximidade nos registos de passe para finalização a cada 90 minutos. Foram também ambos avançados altamente influentes nos golos e perigo das respectivas equipas, sem surpresa, com o registo de Suárez destacado, pois foi até superior ao legado Gyökeres, que se despediu com 51% em duas Ligas pelo Sporting.
No entanto, percebemos que Ivanovic é um jogador com uma participação no jogo significativamente maior (cerca de mais dez acções por 90 minutos que o colombiano), sinal de que se envolve mais na construção e apoio defensivo, mais até que Pavlidis, que já era elogiado na Luz por esse aspecto. Este maior envolvimento é o primeiro indicador a potencialmente explicar o menor tempo em campo que Suárez, mas não é o único, como veremos.

“Cavalgadas” e acções defensivas
O maior envolvimento de Ivanovic nota-se noutros indicadores interessantes, sendo que alguns deles explicam o porquê de ter sido associado… ao Sporting no passado. Mesmo sem atingir o registo “cavalar” de Gyökeres quando chegou a Portugal (3,3 conduções progressivas por 90 minutoa), Ivanovic fica perto, com 2,5 “cavalgadas” com bola, algo que Suárez até tem, mas não na frequência do jovem croata.
Outro pormenor à Gyökeres que ambos têm, mas que Ivanovic leva mais longe, é a apetência para os duelos individuais ofensivos, ganhando muitos ora dribles ora faltas, quando não o conseguem travar. A fechar surge o factor que Ivanovic possui que o distingue claramente, não só de Suárez como também de Pavlidis e até Gyökeres: o contributo defensivo sem bola. Nenhum dos outros avançados referidos chega perto das cerca de duas acções defensivas em pressão (no meio-campo adversário) do croata: Suárez e Pavlidis são avançados de cerca de uma, Gyökeres somava uma… a cada dois jogos. Apenas Conrad Harder se aproxima do croata (o que salta à vista no seu jogo), com 1,5 acções defensivas no meio-campo adversário (ADMA).
Este factor é, certamente, muito interessante e valorizado, mas pode explicar a “pilha vazia” mais cedo de Ivanovic, pois para um avançado somar duas ADMA por 90 minutos isso significa que tenta pressões e aproximações ao portador da bola muitas vezes, bem mais do que o sucesso que obtém, naturalmente.

Conclusão?
Percebe-se o porquê de muitos adeptos leoninos “lamentarem” a perda de Ivanovic, numa lógica de tentativa de replicar Gyökeres. No entanto, será que esse seria o melhor caminho, após duas épocas de sucesso do Sporting nesse modelo de jogo, mas em que os adversários foram descobrindo novas formas de contrariar o “leão” (ex.: Gyökeres caiu bastante em conduções progressivas, na segunda época)? E tendo o Sporting, em Harder, o jovem de forte investimento, faria sentido trazer outro?
Já no caso do Benfica, a complementaridade parece perfeita, sendo apenas estranho surgir num ano de forte pressão contextual (eleições, dois anos sem título) e não mais cedo, em termos estratégicos. O Benfica conta agora com dois avançados de estilos e momentos de carreira diferentes, numa abordagem que acaba por ser próxima à que o Sporting implementou nos últimos anos, após investimentos um pouco menos racionais ou de estratégia difícil de descortinar (Cabral, Marcos Leonardo, etc).