30 de Junho de 2010, Atenas, Estádio Olímpico. No relvado, Panathinaikos e Olympiakos, os dois principais emblemas gregos, com todo o respeito pela história de PAOK e AEK. Naquela que foi a minha primeira experiência num clube estrangeiro, um dérbi marcante.
Fruto das rígidas medidas de segurança impostas pela Polícia, os 52.300 espectadores que lotavam o Olímpico eram afetos ao Panathinaikos. Um ambiente extraordinário, capaz de empolgar a mais fria das almas. Os jogadores sentiam o peso do encontro, frente ao Olympiakos, que acendia a centalha de uma rivalidade sentida de forma endémica.
Nos dias que precederam o derby, um episódio curioso. Um dos internacionais gregos da minha equipa chegou ao Centro de Treinos de Paenia acompanhado de meia dúzia de amigos para levarem os sete automóveis que ali tinha parqueados. “Se ganharmos, na segunda-feira regressam. Mas não vou arriscar”, disse-me.
A primeira parte foi tensa, típica de jogo com aquela envolvência. Muitas faltas, poucas oportunidades, Nikos Nioplias e Ernesto Valverde, técnicos de Panathinaikos e Olympiakos, não arriscavam nada. Aos 37’, fez-se um silêncio sepulcral. Kevin Mirallas, internacional belga que viria a ser meu jogador na Fiorentina e hoje é técnico assistente da AS Monaco, arranca na meia esquerda e dispara de fora da área. Golo e ao intervalo estávamos por baixo no marcador.
Desço ao balneário, para dar uma palavra de tranquilidade e ânimo a todos. Cruzo-me por Tzorvas, o guarda-redes e vinha de olhar vazio, lívido. “Não vamos sair daqui inteiros”, sussurou-me. “Calma, temos tempo para dar a volta a isto”, retorqui. A verdade é que a segunda parte trouxe-nos a eficácia e alma escondidas por 45 minutos. Djibril Cissé, quem mais?, bisou e levou ao êxtase uma massa humana empolgante. E lá permitiu o regresso dos sete bólides a Paenia no dia seguinte.
Estendal da Memória : Os sete bólides salvos pela vitória do Panathinaikos
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