EAFC 24: A review (e o rating) do Antunes

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“Antunes, o FIFA acabou”. Até me caíram os profiteroles (do lanche!) ao chão quando o patrão me disse isto, no ano passado, após o sucesso da minha primeira análise. Mas afinal era só novela de marketing. O FIFA deu lugar ao EAFC24, é o mesmo jogo. Quando a cópia chegou veio também a ordem: “faz a review, que tu és o único gajo aqui de quem o pessoal gosta, se é para alguém se queimar que te toque a ti”. Como sou obediente e como o patrão é que paga os profiteroles da minha dieta, aqui estou eu, a largar por breves momentos os algoritmos e as médias para pegar na análise de um dos videojogos que, dizem os estudos, interessa a mais seguidores do nosso trabalho.

EAFC24: Novo nome, novo jogo?

A mudança de nome e imagem do “FIFA” gerou grande expectativa durante um ano. Muitos esperavam mudanças drásticas no jogo, algo que sempre me pareceu apenas wishful thinking. Sendo assim, não me surpreendeu descobrir que o novo EAFC24 se destaca sobretudo pelas mudanças de pormenor e não por uma (r)evolução significativa face ao legado FIFA. Isto não significa que não tenha mudado, pois encontramos alterações suficientemente evidentes, inclusive na jogabilidade.

Jogabilidade: mesmo jogo, mas com algo a descobrir

A jogabilidade acaba por ser sempre o ponto mais relevante… ou devia ser. A má notícia para alguns é que a dita é muito semelhante à que tivemos no FIFA 23, mas aquilo que outros consideram uma desilusão foi para mim um alívio, tendo em conta os retrocessos e problemas que vinham caracterizando as últimas versões do extinto FIFA.

O jogo é o mesmo, apesar de parecer ligeiramente diferente, sobretudo na fase defensiva, tema que vai motivando as maiores dificuldades dos aficionados. A introdução da opção pelo passe manual e de várias configurações de personalização do jogo (ex.: defesa táctica vs avançada) ainda são difíceis de avaliar quanto à qualidade de implementação, mas parecem bem intencionadas, ao promover a diferenciação pelo nível de “skill“, algo que vinha sendo abandonado pela EA.

O jogo é suficientemente “igual” para evitar o choque no jogador, ao mesmo tempo que introduz suficientes novidades que justiticam a descoberta. Pessoalmente o que mais gostei de descobrir foi o regresso de alguma eficácia dos cruzamentos por alto para a área, uma opção comum no futebol, mas que havia sido praticamente anulada pela EA nas últimas versões.

Ultimate: modo Evolutions é a principal novidade

O modo Ultimate é há muito o grande “vício” do core de jogadores do “FIFA” e assim será no EAFC24. Aquilo que muitos consideram a razão-maior para jogar o jogo é para mim o principal entrave à evolução da série, retirando à EA foco e motivos para apostar numa verdadeira evolução do jogo e provavelmente instigando um cada vez maior afastamento da busca pelo realismo que outrora marcou a era de concorrência com a Konami (PES).

Ainda assim não vou “bater” no modo apenas porque sim. Prevendo uma chuva de cartas “irreais” ao longo do ano e o deteriorar progressivo da jobabilidade, à medida que qualquer “apanha-bolas” seja lançado com overall de +90, a verdade é que a EA introduziu pelo menos uma novidade interessante: o Evolutions. O modo permite-nos pegar numa carta de um jogador muitas vezes irrelevante na sua forma original e fazê-lo evoluir, cumprindo objectivos (nem sempre razoáveis, como um médio-centro marcar cinco golos em jogos Rivals ou FUT Champions em poucos dias), devolvendo-nos uma nova carta bem mais interessante e muitas vezes original. Este piscar de olhos ao “RPG” é bem-vindo, ainda que seja muito cedo para perceber que destino lhe dará a EA ao longo do ano.

De resto não existem grandes novidades, excepção feita à introdução das estrelas femininas, misturadas com as masculinas. O tema gerou muita polémica na comunidade antes do lançamento do jogo, mas as divergências parecem ter acalmado após o lançamento. Se por um lado a aposta parece um pouco desfasada da realidade do futebol, por outro existem méritos e vantagens na decisão. Em primeiro lugar o lote de cartas disponíveis do jogo aumenta e muito, o que torna o modo mais interessante. Em segundo lugar a opção arriscada da EA tem o mérito pedagógico de contribuir para um maior conhecimento e curiosidade do público em geral relativamente ao futebol feminino: as jogadoras serão certamente mais conhecidas no futuro do que o eram há um ano, por uma comunidade nem sempre aberta ao futebol feminino por sua iniciativa.

Modo Carreira: ainda não foi desta EA…

Sim, eu sou um desses “nerds” que prefere jogar modo carreira (treinador) do que perder anos de vida no Ultimate Team. O mesmo irá suceder em EAFC24, mesmo tendo de admitir uma enorme desilusão, mais uma vez, para com a forma como a EA trata o modo. Foram muitas as promessas de novas funcionalidades e não faltaram “teasers” que pareciam sugerir que a EA havia escolhido (bem) o caminho de aproximar o seu “modo carreira” a algumas funcionalidades do Football Manager, mas tudo se revelou fogo de vista, sem surpresa. O modo apresenta algumas novidades (escolha da ideia de jogo, treinadores especializados), mas até essas parecem implementadas de forma incompleta, não faltando “bugs” e limitações que perduram há várias edições e prejudicam a satisfação e imersão num modo que continua a ter uma comunidade suficientemente numerosa.

O modo carreira continua a prometer diversão, sobretudo se o souberes jogar de forma criativa (deixei algumas sugestões na análise do ano passado ao FIFA 23), mas continua a ser tremendamente limitado e revelador de que a EA valoriza quase apenas e só a sua “cash cow”, o modo Ultimate Team, isto apesar do preço “triple A” do jogo. A desilusão estende-se aliás também ao modo “carreira jogador”, por razões semelhantes.

Picuinhices à Antunes: dos menus à banda sonora

A mudança de FIFA para EAFC trouxe uma nova apresentação visual e novos menus. Se por um lado a mudança promete melhorias, a verdade é que a nova lógica de navegação pode confundir nas primeiras horas de jogo, com alguns “bugs” a contribuírem para a frustração, certamente corrigidos em breve pela EA. A sinalização de objectivos atingidos na área Ultimate Team é claramente o ponto mais negativo da implementação dos novos menus, tornando a sua localização mais demorada do que podia e devia ser.

Um pormenor tão subjectivo como para muitos irrelevante é a banda sonora, mas para mim não é de somenos: quanto mais horas um jogador passar no EAFC24 mais importância terá a banda sonora no seu “descanso mental”. Para mim esta é a melhor de sempre, por não incluir qualquer “som” com potencial para me arreliar no futuro, ao contrário de quase todas as bandas sonoras do passado. Fácil de ouvir, calma, groovy. Gostei, mas também já li a opinião diametralmente oposta à minha.

Conclusão? Quem esperava uma verdadeira revolução face ao último FIFA de sempre ficará desiludido. Já quem joga a série da EA, há várias versões valorizará sobretudo o alívio de não ter assistido a um retrocesso nos méritos da jogabilidade, mesmo que o EAFC24 deixe novamente um sabor agridoce no que toca à esperança de um dia assistirmos, não só a uma verdadeira evolução como também da resolução de alguns problemas crónicos da série. Rating? Dou um 8.0 ao EAFC24 pois sinceramente esperava maiores complicações num ano de tantas mudanças na série. A esperança de verdadeiras melhorias, desde a jogabilidade aos modos “offline” (os meus preferidos) deixo-as para a próxima versão, mesmo estando convencido que os meus sonhos (e de muitos) estarão sempre limitados enquanto a série assentar num modelo de jogo completo com “release” anual física/digital e não por uma evolução também na forma como o jogo é comercializado/distribuído.

Antunes
Antuneshttps://goalpoint.pt
É a partir da sua garagem que, reza a lenda, Antunes produz todos os ratings publicados até hoje pela GoalPoint, baseados nos algoritmos que o próprio criou,. Figura para uns lendária, para outros misteriosa, Antunes pode ser visto por vezes entre a Damaia e Odivelas, em dias de pouco nevoeiro, passeando o seu génio outrora cobiçado pela NASA. É actualmente o CRO (Chief Rating Officer) da GoalPoint.