Estendal da Memória : De Stromberg a Froholdt, o subvalorizado filão escandinavo

-

Se pensarmos num trio de centrocampistas para um putativo melhor onze da I Liga, os nomes de Hjulmand, Froholdt e Aursnes virão imediatamente à liça. Qualidade, intensidade, fiabilidade. Atributos que, grosso modo, encontramos na maioria dos escandinavos de elite.

O Benfica, em particular, tem uma relação de sucesso com aquela zona da Europa. A chegada de Sven-Goran Eriksson, em 1982, levou à aquisição de Glenn Stromberg e o impacto do médio foi imediato. A uma dimensão física superior aliava a capacidade de galgar metros em condução, presença imponente na bola parada. Ao lado de Carlos Manuel, Shéu, João Alves, Chalana, Stromberg foi figura de proa no meio-campo dos encarnados na primeira metade da década de 80 e a sua qualidade não passou despercebida à Série A, à época a Liga europeia onde todos os grandes nomes queriam ingressar. Na Atalanta, fez igualmente grandes temporadas e ainda hoje é muito acarinhado em Bergamo sempre que ali se desloca.

A relação benfiquista com a Escandinávia teve mais relações pautadas pelo êxito. O defesa Victor Lindelof, os médios Jonas Thern e Stefan Schwarz e os avançados Mats Magnusson e Michael Manniche foram exemplares na relação custo-qualidade. O último citado, um dinamarquês pouco ortodoxo na relação com bola, é ainda ainda o quarto estrangeiro mais concretizador da história, apenas superado por Cardozo, Jonas e… Magnusson.

Inevitavelmente, existiram casos de insucesso ou menor fulgor, como Martin Pringle, Azar Karadas, Anders Andersson ou Daniel Wass no Benfica, Lars Eriksson ou Fredrik Soderstrom no FC Porto, Hans Eskilsson ou Pontus Farnerud no Sporting, mas penso que a tendência dos grandes portugueses olharem cada vez mais para aquela zona europeia vai intensificar-se. Os supramencionados Hjulmand, Froholdt e Aursnes entram-nos pelos olhos dentro todas as semanas, a memória de Viktor Gyokeres está fresca e a Peter Schmeichel está associada ao título de 1999/2000.

As melhores escolas de formação escandinavas, FC Midtjylland, FC Copenhaga, Brondby, Nordsjaelland, Bodo Glimt, FK Molde, Malmoe, têm produzido óptimos prospectos nos últimos anos e a qualidade individual está muito nivelada com os índices físicos de excelência sempre apresentados. Neste particular, nota para o trabalho desenvolvido por Albert Capellas, um catalão itinerante que hoje é diretor da Academia do Dínamo de Zagreb. Passagens pelo sectores formativos do Brondby e Federação dinamarquesa, além da primeira equipa do Midtjylland, serviram para emprestar um cunho mais criativo a várias gerações.

A Escandinávia não é uma tendência de mercado, antes uma associação à forma como os jogadores de elite são observados. Além da qualidade, intensidade, fiabilidade, parâmetros com o índice cognitivo ou a higiene de vida são cruciais. Mais: se Dinamarca, Noruega e Suécia estão consolidadas, Islândia, Finlândia e Ilhas Faroé apresentam sinais de desenvolvimento expressivo.


O “Estendal da Memória” é uma rubrica de histórias e memórias futebolísticas, da autoria de Carlos Freitas, que pode acompanhar também no instagram, com novas histórias todas as terças e sextas.

Carlos Freitas
Carlos Freitashttps://www.instagram.com/estendaldamemoria/
Diretor Desportivo, com passagens por Sporting CP, SC Braga, Panathinaikos, FC Metz, ACF Fiorentina, Vitória SC e RFC Seraing. Começou como jornalista, agora comenta no Canal 11 e nunca perdeu o gosto pela escrita e boas histórias.