A primeira volta da Liga terminou, finalmente, com a realização do jogo em atraso entre Nacional e Porto, pelo que é hora de balanços. Nada como olhar para os números mais impactantes de cada uma das equipas na comparação com a primeira volta da época passada, para tentarmos perceber quem está, verdadeiramente, no melhor caminho.
Sporting: a “montanha-russa” leonina 🦁
Aquela que prometia ser uma época tranquila e destinada ao sucesso tornou-se numa espécie de pesadelo logo após a saída de Rúben Amorim para o Manchester United, com João Pereira a não conseguir emular o desempenho do seu antecessor, com derrotas e empates que colocaram em causa a revalidação do título para os lados de Alvalade. Porém, com a chegada de Rui Borges, a equipa parece ter estabilizado e chega ao final da primeira volta com apenas dois pontos a menos face a 23/24, pontos esses que, curiosamente, até se pode dizer que fugiram às garras leoninas precisamente na última visita a Guimarães, quando os “leões” deixaram escapar uma vantagem de 3-1 e empataram 4-4. O “check-up” de desempenho confirma o porquê de tamanha resistência leonina às peripécias e lesões. Senão vejamos:
- O Sporting está mais produtivo em tudo do que há um ano, com excepção da perigosidade média por remate tentado. São mais golos (40-48), mais remates realizados por jogo, bem como acções na área, ocasiões flagrantes criadas ou mesmo passes. Apenas a probabilidade de golo por disparo (xG) caiu em relação à jornada 17 de 23/24.
- Defensivamente a equipa também apresenta melhores números, embora sem uma expressão estatística significativa, com vantagem marginal esta temporada no que toca a pressão (acções defensivas no meio-campo contrário), remates permitidos e probabilidade de golo por cada disparo sofrido. As acções na área consentidas estão em linha com 23/24, mas mesmo com números tão próximos, estes são indicadores de alguma evolução positiva.
Conclusão: o normal seria colocarmos Amorim de cada lado da imagem, pois as melhorias indicadas assentam claramente na fase da época em que o ex-treinador comandou os “leões”, seguindo-se quebras claras no aproveitamento (sobretudo ofensivo) na curta etapa de João Pereira, entretanto estancadas por Rui Borges, que tem agora por missão manter o Sporting em linha com o melhor “raio-x” estatístico da Liga em curso.
Porto: contestação no Dragão a contraciclo 🐉
Os últimos dias têm sido difíceis para Vítor Bruno e para o Porto, com a contestação a crescer de tom após a derrota por 2-0 na visita ao Nacional, um ponto alto que já teve outros episódios ao longo da época. Terão os adeptos “azuis-e-brancos” motivos para tal, olhando para o que os “dragões” fizeram até à 17ª jornada de 23/24 em paralelo com 24/25? Com as 17 rondas do Porto finalmente completas, aqui estão alguns dados do “raio-x” ao desempenho comparado da equipa:
- Em termos ofensivos o cenário estatístico é misto, apesar de a equipa ter mais 15 golos marcados (25-40) do que na temporada passada. Nos remates, tudo igual em média por jogo, sendo que melhorou bastante a probabilidade de golo por remate (xG). Isto tudo com menos acções com bola na área do que em 23/24, com o actual “dragão” a criar mais uma ocasião flagrante por partida (relevante), tudo com menos passes. Mais objectividade?
- Defensivamente os portistas melhoraram em relação ao reinado de Sérgio Conceição. O Porto de Vítor Bruno faz mais acções defensivas no meio-campo contrário, fruto de maior pressão em zonas adiantadas, permite menos disparos aos adversários, menos acções na sua grande área e diminuiu a probabilidade de golo aos oponentes por cada remate (xG).
Conclusão: o futebol não encanta e o último capítulo madeirense deixou a nação “azul-e-branca” em alvoroço, mas a verdade é que, apesar do menor orçamento e do clima de “reconstrução” que se vive no Dragão, o Porto de Vítor Bruno chega ao final da primeira volta não só com mais dois pontos do que em 23/24 com Conceição, como também com várias indicadores superiores, com destaque para a maior perigosidade na hora de rematar e melhorias na quantidade de remates (e perigosidade dos mesmos) permitida aos adversário.
Benfica: um “duelo” Schmidt 🆚 Lage 🦅
Roger Schmidt foi campeão na primeira época, viveu muitas dificuldades em 23/24 e o mau arranque da actual temporada levou à saída do alemão e ao regresso de Bruno Lage ao reino da águia. Comparações entre os dois “modelos” são muitas, mas nada como olhar para a frieza dos números, com um paralelismo entre as duas últimas primeiras voltas do Benfica, sendo que Lage assumiu a equipa apenas à quinta jornada. O suficiente, no entanto, para esta equipa “encarnada” já ter a sua forte impressão digital.
- Apesar de a equipa da Luz ter mais três golos (35-38) do que em igual período da época transacta, nota-se uma quebra generalizada em quase todos os indicadores, menos nas acções em pressão no meio-campo adversário – as quais o Benfica liderava a Liga há um ano, porém, isso nem sempre é sinal de equilíbrio quando a acção falha -, no total de remates permitidos e na perigosidade média dos mesmos.
- Os sinais preocupantes notam-se no número de acções permitidas na própria área e no volume total de passe. As “águias” tentam menos 40 passes por jogo do que há um ano, para uma eficácia semelhante de cerca de 85%, ou seja, o Benfica tem menos bola por jogo do que tinha, fruto de uma filosofia diferente de Lage, menos de circulação, mais de transição rápida.
- Não constando do quadro, a quebra nas conduções progressivas (17-13) é muito pronunciada, o que por um lado se percebe, mas por outro não: o Benfica perdeu disruptores como Rafa Silva e David Neres (a parte compreensível), mas não os colmatou com soluções alternativas para esse tipo de movimentos que por vezes desbloqueiam jogos frente a adversários bem organizados.
- No plano ofensivo há uma quebra generalizada, embora por vezes ténue (nos remates, perigosidade do mesmos, presença na área, criação de ocasiões), mas… é pequena se a virmos jogo a jogo, pois se a pensarmos ao longo de toda uma primeira volta a quebra é mais preocupante.
Conclusão: o Benfica é, dos três “grandes”, o que apresenta uma quebra maior nos indicadores da primeira volta em relação à da época passada, com excepção para os defensivos, e não são todos. Verdade é que a equipa até marca mais e mudou a filosofia de jogo, o que ajuda a explicar muita coisa, mas o facto de os “encarnados” só amiúde convencerem obriga a um olhar crítico às variáveis que aqui apresentamos.